24.02.2020
Tiago 2.14-26
14 De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? 15 Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia 16 e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? 17 Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. 18 Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. 19 Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e tremem! 20 Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil? 21 Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? 22 Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras. 23 Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”, e ele foi chamado amigo de Deus. 24 Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não apenas pela fé. 25 Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho? 26 Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta.
Todo mundo tem fé!
Todo mundo diz que tem fé. É verdade, todo mundo tem fé.
Mesmo que não seja uma crença religiosa, as pessoas sempre terão fé em alguma coisa. É impossível viver sem ter fé.
Pense, por exemplo, nos planos que você faz. Esmiuce em detalhes as suas estratégias e você perceberá o quanto a fé (a crença) está intrinsecamente relacionada a tudo o que você faz.
Por exemplo: de manhã, você deixa o carro no mecânico para revisão e reparos. No final do dia você volta para buscá-lo. Confere a lista de consertos feitos e de peças trocadas. Paga a conta e vai embora. Pergunta: quem te garante que aquilo tudo foi realmente feito? Será que as peças foram trocadas? Você diria: “Ah, ele é de confiança!” Percebeu?
Todo mundo tem fé, afinal é impossível viver sem crer e sem confiar.
Fé que frutifica
A questão fundamental, portanto, não é se a pessoa tem fé, mas que tipo ela tem de fé. É viva ou morta a sua fé? Ela produz ou não frutos? Ela é inerte ou operosa? A fé bíblica não é estéril nem imóvel. Ela é viva, ela frutifica, ela abençoa os outros e glorifica ao Pai que está nos céus.
É sobre esse tipo de fé que Tiago está tratando nesse parágrafo da carta. Ele está descrevendo a natureza da fé salvadora. Mas, por que este assunto é tão importante para o apóstolo e tão relevante para os nossos dias?
Havia nos dias de Tiago um tipo de gente que ostentava ter fé (v. 14), mas que vivia, literalmente, como o Diabo gosta (v. 19). Eram como cadáveres ambulantes, corpos sem alma, zumbis espirituais (v. 26). O apóstolo, então, propõe a ensinar que a fé que agrada a Deus, a fé salvadora, a fé genuinamente bíblica é do tipo único que frutifica.
O cristão operoso
O argumento de Tiago é, como sempre, muito prático: o cristão é operoso, suas obras de amor comprovam a genuinidade da sua fé; afinal, a fé sem obras é morta.
O que ele quer, realmente, nos ensinar? Nós podemos dividir a sua lição de vida em três argumentos principais:
Vemos em Tiago que, como sempre, as pessoas de “fé”, geralmente, são as que mais gostam de se ostentar, são as que mais se orgulham, enquanto vêm outros passando duras necessidades. Infelizmente, o crente, muitas vezes, é sem coração. Observe:
Tg 2.14 | De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?
Note o verbo “dizer” no versículo primeiro. É nítido que o que Tiago está combatendo não é a suficiência da fé para a salvação, mas o discurso sem coração, infrutífero daqueles que professam fé mas não têm amor pelas pessoas.
Ao longo da história, muitos se utilizaram deste texto para dizer que Tiago contradiz Paulo. Afinal, Paulo ensina que a salvação é só pela fé, sem obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8-9), e Tiago ousa dizer que só a fé, sem obras, não poderá salvar alguém (Tg 2.14-17).
Quem está falando a verdade? Os dois! Nenhum contradiz o outro. Ambos se complementam. Paulo está falando do que é fundamental para a salvação: a fé. Enquanto Tiago está revelando o fruto indispensável da fé: as obras.
Paulo combatia a heresia dos cristãos judaizantes, que ensinava que salvação só se alcançava com fé mais as obras da lei cerimonial do judaísmo. Tiago refutava a heresia dos cristãos relativistas, que dizia que o importante era crer e não importava o modo de viver.
Paulo combatia as obras do judaísmo, tais quais: circuncisão, sacrifícios, regras alimentares, guarda do sábado, etc. Tiago refutava um viver sem obras de amor, de bondade, de graciosidade, de obediência.
Olhando por esse anglo, descobrimos que ambos estão falando a mesma língua. Depois de ter dito que Deus nos criou para as boas obras (Ef 2.10), veja, por exemplo, o que Paulo escreveu aos Tessalonicenses:
1Ts 1.3 | Lembramos continuamente, diante de nosso Deus e Pai, o que vocês têm demonstrado: o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.
Como dizia Filipe Melâncton (principal colaborador de Martinho Lutero e líder fundador do luteranismo):
Salvação é só pela fé, mas a fé salvadora não permanece só.
Não somos salvos pelas obras da lei, mas as obras de amor comprovam a nossa salvação. A forma como tratamos o próximo diz tudo sobre a nossa fé.
O cristão operoso tem coração. Ele ama, ele se compadece, ele é misericordioso. Suas disciplinas espirituais não se limitam ao jejum, à oração e à meditação nas Escrituras. Ele faz tudo isso, mas pratica também disciplinas espirituais de amor e de compaixão pelo próximo. Veja:
Tg 2.14-17 | 14 De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? 15 Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia 16 e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? 17 Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta.
A fé morta olha para as pessoas, faz um discurso religioso, faz um monólogo diante de Deus (chama isso de oração) e agride o outro com a sua inércia, com a sua improdutividade, com a sua inoperância. A fé morta não resolve o problema do outro. A fé morta não tem coração. Ela não ama.
O cristão operoso tem coração. A sua fé o faz agir em amor. Veja o que João pensava sobre isso:
1Jo 3.17-18 | 17 Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? 18 Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade.
Não era só Tiago, Paulo e João que pensavam assim, Pedro também sabia que o cristão operoso tem coração, que a sua fé deve ser acompanhada de obras de amor. Na sua segunda carta ele exortou, dizendo:
2Pe 1.5-11 | 5 Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; 6 ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; 7 à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. 8 Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em sua vida, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. 9 Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto, esquecendo-se da purificação dos seus antigos pecados. 10 Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês, pois se agirem dessa forma, jamais tropeçarão, 11 e assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A fé que justifica é a mesma fé que frutifica. São pelos frutos de amor e de justiça que a fé verdadeira é demonstrada. O cristão operoso tem coração.
O cristão operoso não é daqueles que só tem coração. Ele tem também convicção. Suas obras de amor são praticadas em consequência daquilo que ele conhece e compreende da verdade do evangelho.
O cristão não é guiado pelo coração, mas pela fé na verdade. É a sua convicção no evangelho que, no poder do Espírito Santo, move o seu coração a agir com amor. Suas obras só comprovam a convicção do seu coração.
Tg 2.18 | Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.
Fé sem obras só comprova que não há convicção sobre a verdade no coração daquele que diz crer. Agora, obras de amor, aquelas que realmente requerem sacrifício de fé, dão provas cabais de convicção na verdade.
O que Tiago está dizendo é que quem realmente tem fé fundamentada na verdade de Cristo mostrará obras admiráveis de amor, que parecerão loucura para os incrédulos. Chego a imaginar que Tiago conhecia o contexto do texto de Hebreus, que fala desse coração convicto da verdade. Veja:
Hb 10.32-34 | 32 Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados, quando suportaram muita luta e muito sofrimento. 33 Algumas vezes vocês foram expostos a insultos e tribulações; em outras ocasiões fizeram-se solidários com os que assim foram tratados. 34 Vocês se compadeceram dos que estavam na prisão e aceitaram alegremente o confisco dos seus próprios bens, pois sabiam que possuíam bens superiores e permanentes.
O cristão operoso tem convicção. Ele age de coração por ter convicção daquilo que possui em Cristo Jesus (seus bens superiores e permanentes).
A verdade é que não se consegue amar da forma bíblica sem que haja fé no coração – é isso o que Paulo diz em Efésios, quando fala do “amor com fé” (Ef 6.23). Por isso que Tiago desafia aqueles que diziam ter fé, mas não tinham obras.
Tais crentes sem obras de amor são piores do que os próprios demônios. Observe o argumento de Tiago:
Tg 2.18-19 | 18 Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. 19 Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e tremem!
A lógica do argumento de Tiago é que se alguém tem apenas conhecimento intelectual de Deus, apenas acredita e chama isso de fé, sem demonstrar a sua convicção através de obras de amor, está numa condição pior do que os demônios, pois eles “creem – e tremem!”.
Para ser genuína, não basta intelectualidade e coração mole à fé, ela precisa ser composta de convicção (conteúdo do evangelho), coração (emoção com a verdade) e atitudes de compaixão (atitude de amor).
O cristão operante tem convicção. Seu coração é movido pela sua convicção na verdade. Ele pratica obras de amor, e tais obras de amor reforçam a sua fé, toda vez que seu coração vacilar. Eu amo o que João escreve na sua primeira carta.
1Jo 3.18-20 | 18 Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade. 19 Assim saberemos que somos da verdade; e tranquilizaremos o nosso coração diante dele 20 quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas.
O cristão operoso tem convicção. Suas convicções o levam a amar. Suas ações alimentam a sua convicção.
Até aqui, Tiago argumentou que o cristão operoso possui um coração convicto, ele pratica obras de amor fundamentado na esperança que ele recebe da revelação da verdade do evangelho. Suas obras de amor não são para merecer o favor de Deus, mas comprovação de que recebeu o amor de Deus e agora, pela fé, ele o reparte.
O cristão operoso tem compaixão porque de Deus ele recebeu compaixão. É isso o que Tiago irá demonstrar na parte final desse parágrafo.
Tg 2.20-26 | 20 Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil? 21 Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? 22 Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras. 23 Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”, e ele foi chamado amigo de Deus. 24 Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não apenas pela fé. 25 Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho? 26 Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta.
São dois exemplos de fé operosa apresentados aqui por Tiago. O de Abraão e o de Raabe. O que eles nos ensinam sobre compaixão?
Abraão creu nas promessas de Deus (Gn 15.6; Rm 4.1-5). Como essa fé se evidenciou? Quando Abraão, provado por Deus, entregou seu filho Isaque a ele, em atitude de fé e de obediência (Gn 22.1-19). A fé de Abraão não era inoperante (ociosa, desocupada), mas, a sua fé o movia a atuar com compaixão.
Raabe cria na soberania e na bondade de Deus (Js 2.11). Como ela evidenciou a sua fé em Deus? Quando ela acolheu os dois espiões de Josué e os fez partir por outro caminho, fugindo da perseguição (Js 2). A fé de Raabe não era inoperante, mas acompanhada com atitudes de compaixão.
Onde está a compaixão nos atos de Abraão e de Raabe?
Para ser bênção para as nações, como Deus disse que ele seria (Gn 12.2-3), Abraão não poderia nutrir qualquer amor acima de Deus. Ele teria que confiar na soberania, no amor e na bondade de Deus. Isaque era a sua maior ameaça. Ao entregar Isaque, Abraão agiu com compaixão pelas nações, crendo que Deus traria seu filho de entre os mortos.
Para abençoar Josué e o povo de Deus, Raabe não mediu esforço, não temeu perder a própria vida. Ela deu cobertura para os inimigos de Jericó. Ela agiu com compaixão pelo povo de Israel, crendo na bondade do Deus soberano de Abraão, Isaque e Jacó.
O cristão operoso tem compaixão. Pela fé nas promessas do evangelho, ele sacrifica o quem mais ama, até mesmo a própria vida, para ver o amor salvador de Deus chegando até o próximo.
O cristão operoso
Que tipo de fé você tem? Ela é ociosa ou operosa? Ou seja, ela possui:
– Coração – você realmente ama as pessoas?
– Convicção – você crê no conteúdo e nas promessas do evangelho?
– Compaixão – você age pelo próximo, crendo nas promessas do evangelho? Você se sacrifica em amor pelo bem e pela salvação do outro?
Não seja daqueles que têm uma fé morta, de confissão vazia – que só acreditam, mas vivem para si mesmos. Você viverá uma vida vazia e não passará de um morto ambulante. Veja, de novo, como Tiago termina o texto:
Tg 2.26 | Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta.
– Quanta gente viva, andando por aí, mas, sem alma, sem coração, sem sentimento! Iludida pelos prazeres egoístas do pecado!
– Quanta gente com fé sem graça. Fé sem salvação, sem coração, sem convicção e sem compaixão.
Não seja mais um desses…
Peça a Deus fé. Fé em Jesus. Fé no evangelho.
Suplique por uma fé operante, que lhe faça amar.
Receba a salvação e reparta compaixão.
Receba a Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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