24.02.2020
Tiago 3.1-12
1 Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. 2 Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo. 3 Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo. 4 Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto. 5 Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. 6 Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno. 7 Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana; 8 a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero. 9 Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. 10 Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim! 11 Acaso podem sair água doce e água amarga da mesma fonte? 12 Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce.
A saúde começa pela boca
Na infância, quando minha mãe me levava ao médico, tinha algo que sempre me deixava bastante desconfortável. Entrava no consultório dele, sentava sobre a maca e ele dizia: “Abra a boca. Ponha a língua pra fora. Ahhhhhhh…” Daí ele vinha com uma lanterninha e enfiava um palito na minha garganta! Eu ficava louco da vida!
Por que os médicos fazem isso com a gente?
Geralmente, pediatras estão examinando garganta e amígdalas. Mas tem mais. O exame da língua é importante para diagnosticar doenças. Li na página do Hospital Albert Einstein em São Paulo que médicos realizam o exame da língua como método auxiliar no diagnóstico das mais variadas doenças. Assim como as demais estruturas bucais (bochechas, céu da boca, gengivas, glândulas, saliva, dentes etc.), a língua exibe sinais e sintomas muitas vezes precoces de doenças sistêmicas (alterações patológicas em órgãos do organismo).
Realmente, a saúde começa pela boca.
O cristão perfeito
A Bíblia ensina que a saúde espiritual de uma pessoa pode ser diagnosticada pela maneira dela falar, pela língua. Paulo, por exemplo, ao descrever a depravação do coração do homem sem Deus — de todos nós que pecamos e nos separamos da glória de Deus — disse assim:
Rm 3.13-14 | 13 “Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam”. “Veneno de serpentes está em seus lábios”. 14 “Suas bocas estão cheias de maldição e amargura”.
Por outro lado, Tiago fala que uma das características principais do cristão perfeito (Tg 3.2), de quem foi salvo e está sendo santificado pela graça de Jesus, é o controle e o bom uso que ele faz da língua. O que o cristão perfeito precisa saber sobre a língua?
A primeira coisa que Tiago diz é que o cristão genuíno sabe da dificuldade que todos nós temos de domar a língua. Ela é um problema para todo mundo. Foi, inclusive, para Tiago.
Você se recorda do que ele mesmo tinha dito a respeito de seu irmão Jesus, nos dias do ministério do Senhor entre nós?
Mc 3.20-21 | 20 Então Jesus entrou numa casa, e novamente reuniu-se ali uma multidão, de modo que ele e os seus discípulos não conseguiam nem comer. 21 Quando seus familiares ouviram falar disso, saíram para trazê-lo à força, pois diziam: “Ele está fora de si”.
Eu fico com a impressão de que quem liderou essa maledicência contra Jesus não foi outro senão o próprio Tiago. De outra forma, porque o Senhor teria aparecido particularmente a ele, como fez apenas com Pedro e com Paulo (Mc 16.7; Jo 21.15-19; 1Co 15.7-8)? Pode ser que, assim como Pedro e Paulo, ou Tiago carregava um sentimento de culpa enorme pelo que disse e pelo que fez contra o Senhor, ou ele permanecia um opositor ferrenho, a ponto de Jesus aparecer particularmente a ele para conferir-lhe perdão e entregar-lhe uma missão especial.
Tiago sabia não só da dificuldade que tomos de domar a língua, mas também a razão para tamanha luta. Observe:
Tg 3.1-2 | 1 Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. 2 Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.
No verso 2, vemos que todos tropeçamos, erramos, pecamos, fofocamos, maldizemos, julgamos equivocadamente. Aqueles que conseguem não tropeçar no falar são perfeitos, demonstram maior maturidade e conseguem viver em paz.
A razão para todos tropeçarmos e usarmos mal a língua está no verso 1, que diz que nós sempre nos julgamos “mestres”, nos vemos no direito de achar que sabemos de tudo e que temos o dever de falar o que pensamos. Tiago diz que gente assim não tem o temor do julgamento de Deus.
A dificuldade de domar a língua reside no coração. Espiritualmente falando, o exame da língua revela os nossos problemas cardíacos e a gravidade dessa enfermidade.
Mt 12.34-37 | 34 Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração. 35 O homem bom do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do seu mau tesouro tira coisas más. 36 Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. 37 Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados”.
O cristão perfeito sabe da dificuldade de domar a língua.
Tiago apresenta duas ilustrações para mostrar como um órgão tão pequeno é tão poderoso, e não pode ser facilmente controlado ou comandado.
Tg 3.3-5 | 3 Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo. 4 Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto. 5 Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas…
Os exemplos que Tiago usa parecem ser apresentados para nos convencer do poder desproporcional que a língua tem para o bem ou para o mal. Ele quer nos fazer concluir que, infelizmente, nós mais a usamos para o mal. Salomão dizia assim:
Pv 15.4 | O falar amável é árvore de vida, mas o falar enganoso esmaga o espírito.
O cristão perfeito sabe do poder desproporcional da língua.
Tendo falado da dificuldade de domar e do poder desproporcional, Tiago apresenta o poder destruidor da língua.
Tg 3.5-8 | 5 Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. 6 Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno. 7 Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana; 8 a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero.
Observe as imagens:
Fogo – a língua destrói.
Mundo de iniquidade – a língua perverte e corrompe.
Vírus – a língua nos contamina, muda o curso da vida, leva ao inferno.
Mal incontrolável – a língua sempre nos coloca em apuros.
Veneno – a língua mata.
Tiago quer nos convencer de que a língua pode matar.
Bruce Waltke, em seu comentário de Provérbios, disse que “a língua do tolo é comprida o bastante para cortar a própria garganta”.
Jesus dizia que com a língua nós podemos matar.
Mt 5.21-22 | 21 “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’ (tolo, desprezível), será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno.
O cristão perfeito sabe do poder destruidor da língua.
Tiago fala da dificuldade de domar, fala do poder desproporcional, fala do poder destruidor e, por último, apresenta a discrepância no uso da língua.
Tg 3.9-12 | 9 Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. 10 Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim! 11 Acaso podem sair água doce e água amarga da mesma fonte? 12 Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce.
Com a mesma língua nós somos capazes de abençoar e de amaldiçoar! Como pode ser? Nunca deveria ser assim. Afinal, da fonte de um coração regenerado só deveria sair água de vida, da árvore de um coração santificado só deveria sair um tipo de fruto para edificação. Mas, infelizmente, nós sabemos que não é assim sempre.
Dos nossos lábios saem bênção e maldição, sabores doces e sabores amargos, vida e morte. O cristão perfeito sabe da discrepância no uso da língua.
Quando nós chegamos ao final da leitura deste parágrafo, penso que há dois sentimentos possíveis (e apenas dois!). Veja se você concorda comigo.
O primeiro sentimento é de acusação. Olhamos para aqueles que já nos causaram mal com o mau uso que fizeram da língua e, então, nós os culpamos. Se não acusamos alguém pelo mal que fizeram a nós, condenamos pelo mal que sabemos que eles fazem a outros. A verdade é que diante de um texto assim a primeira reação é de acusação. Usamos o texto contra outras pessoas.
O segundo sentimento é de humilhação. Lembramo-nos das vezes que fizemos mau uso da língua, recordamos dos males que causamos na vida dos outros, pensamos na dificuldade que temos de domar a língua e nos sentimos arrasados. É verdade que diante deste texto, poucos se sentem assim. Mas sabemos que alguns se sentem humilhados. Usamos o texto contra nós mesmos.
Que atitude nós devemos ter diante deste texto?
Entendo que Tiago quer que leiamos esse parágrafo e que fiquemos humilhados. Ele quer que vejamos o pecado do nosso coração e a nossa incapacidade de mudança, se não for pela graça de Deus.
O apóstolo quer que nos sintamos humilhados pela forma tão discrepante, tão destruidora e tão descontrolada que nós fazemos uso desse órgão tão desproporcionalmente poderoso.
Se ficarmos apenas acusando, nunca seremos transformados. Sim, já fomos vítimas das línguas dos outros. A eles nós devemos perdão, amor e respeito. Peça a graça de Deus, perdoe e vire a página. Agora, se fizermos o uso correto deste texto, seremos transformados.
Da mesma forma que já fomos vítimas da língua de alguém, com certeza também somos culpados de usar a língua conta outrem. Observe a sabedoria das palavras de Salomão:
Ec 7.21-22 | 21 Não dê atenção a todas as palavras que o povo diz, caso contrário, poderá ouvir o seu próprio servo falando mal de você; 22 pois em seu coração você sabe que muitas vezes você também falou mal de outros.
Tiago quer que leiamos o seu texto e batalhemos diante de Deus para fazermos bom uso da língua. Ele nos ensina que o cristão sábio sabe do dever de usar bem a língua. Mas, como?
5.1 – Quebre o seu coração diante de Deus
Quebre o seu coração diante de Deus. Confesse o orgulho de querer ser mestre dos outros. Suplique para que a graça de Deus faça brotar do seu coração apenas água doce, palavras temperadas com sal, frutos que sustentem vidas.
A boca falará da abundância do coração. Deus é o único capaz de, em graça soberana, fazer um transplante de coração, transformando você, fazendo você ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, fazendo-o considerar os outros superiores a você mesmo (Fl 2.1-5).
5.2 – Abra os seus ouvidos para a voz de Deus
Seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para irar-se (Tg 1.19). A primeira atitude de um coração transformado por Deus é que ele abre os ouvidos para a voz de Deus. Isso aconteceu com Paulo. Após a sua conversão, a primeira coisa que nós o vemos fazer é orar (At 9.11).
Abra os seus ouvidos para a voz de Deus. A boca falará da abundância do coração, falará daquilo que ouviu de Deus.
Is 50.4 | O Soberano, o Senhor, deu-me uma língua instruída, para conhecer a palavra que sustém o exausto. Ele me acorda manhã após manhã, desperta meu ouvido para escutar como alguém que está sendo ensinado.
Abra os seus ouvidos para a voz de Deus. Que sua língua fale da abundância da Palavra plantada no seu coração.
5.3 – Use a sua língua para a glória de Deus
Warren W. Wiersbe, no seu comentário da carta de Tiago, faz uma observação inteligente. Ele classifica as seis figuras de linguagem usadas por Tiago em três categorias. Veja.
A língua tem poder para dirigir (freio e leme)
A língua tem poder para destruir (fogo e veneno)
A língua tem poder para dar prazer (fonte e frutos)
Desse ensino nós podemos fazer três aplicações que nos ensinarão como usar a língua para a glória de Deus.
– Não use a língua para desvirtuar, mas para dar direção – aconselhamento.
– Não use a língua para destruir, mas para edificação – discipulado.
– Não use a língua para entristecer, mas para alegrar – evangelização.
O cristão perfeito
Nossas palavras revelam nosso coração.
Um exame da língua revelará a saúde da nossa alma.
O que suas palavras revelam sobre você?
O cristão perfeito faz bom uso da língua.
* Se você já blasfemou, use a sua língua para confessar.
* Se você já negou, use a sua língua para adorar.
* Se você já amaldiçoou, use a sua língua para abençoar.
Receba a Jesus e use a língua para falar de salvação e promover edificação.
S.D.G. L.B.Peixoto
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