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19.10.2025

Como sobreviver à juventude

  • Pr. Leandro B. Peixoto
  • Série: Salmo 119 - Lâmpada Para os Pés e Luz Para o Caminho
  • Livro: Salmos

Salmo 119.9-16

Bêt
9Como pode o jovem se manter puro?
Obedecendo à tua palavra.
10De todo o meu coração te busquei;
não permitas que eu me desvie de teus mandamentos.
11Guardei tua palavra em meu coração,
para não pecar contra ti.
12Eu te louvo, ó SENHOR;
ensina-me teus decretos.
13Recitei em voz alta
todos os estatutos que nos deste.
14Alegrei-me com o caminho apontado por teus preceitos
tanto quanto com muitas riquezas.
15Meditarei em tuas ordens
e refletirei sobre teus caminhos.
16Terei prazer em teus decretos
e não me esquecerei de tua palavra.

Na literatura, há retratos poderosos da juventude — não apenas em seu encanto, mas também em seus estragos; não só em seus prazeres, mas também em seus perigos — os perigos da própria juventude.

Um desses retratos é o de Werther, o jovem sensível criado pelo celebradíssimo escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749–1832), no século XVIII, em sua obra-prima Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774).

Werther é apaixonado pela natureza, pela arte, pela beleza — e, sobretudo, por uma mulher chamada Lotte (Charlotte), que é noiva — e depois esposa — de um homem chamado Albert. Essa é a tensão central da história: Werther se apaixona por uma mulher que já pertence a outro, e sabe disso desde o início.

Sua vida é movida por um coração ardente, que busca intensidade em tudo. Ele encontra prazer em cada emoção, em cada suspiro, em cada sonho. Mas o que começa como encanto logo se torna prisão. Werther se deixa seduzir pelos prazeres da juventude — a emoção sem limite, o amor sem sabedoria, a sensibilidade sem a direção de Deus. Ele transforma o sentimento num ídolo e, quando esse ídolo lhe é negado, o prazer se converte em tormento. No fim, o mesmo coração que o fazia vibrar de alegria o conduz ao desespero.

Na noite de 23 de dezembro — atenção: contém spoilers! — Werther empresta a pistola de Albert (o próprio esposo de Lotte!) sob o pretexto de uma viagem.

Horas depois, tranca-se em casa, coloca sobre a mesa o retrato da mulher do amor impossível — a mesma que, sem saber, lhe entregara a arma do marido —, abre a Bíblia no Cântico dos Cânticos de Salomão e atira em si mesmo no peito.

Na manhã seguinte, é encontrado ainda vivo, agonizando — e morre por volta do meio-dia. A narrativa encerra-se com uma frieza quase documental:

“Nenhum dos ministros eclesiásticos acompanhou o corpo. Ele foi sepultado à noite, fora do cemitério.”

Werther morre jovem, consumido pelas próprias paixões — símbolo trágico de uma juventude que vive para sentir, mas esquece de pensar, de discernir e de temer a Deus.

Pouco mais de um século depois, em terras brasileiras, Joaquim Maria Machado de Assis (1839–1908) — o maior escritor brasileiro e um dos maiores nomes da literatura de língua portuguesa — pintou outro retrato: o de Bento Santiago, o narrador de Dom Casmurro (1899).

Também ele foi jovem, também se deixou guiar pelas paixões — e também colheu os espinhos do próprio coração.

Na juventude, Bento viveu movido por amor, ciúme, vaidade e desejo de controle. O mesmo sentimento que parecia doce transformou-se em veneno. O amor tornou-se desconfiança, a paixão tornou-se obsessão, e o que antes era brilho de mocidade se transformou em sombra e solidão.

Já velho, Bento exclama:

“Oh! a mocidade! a mocidade! Não há nada como ela.”

Mas é um lamento, não um louvor. Ele está recordando a juventude como quem olha para um tempo perdido — e percebe que o que chamava de prazer foi, na verdade, o começo de sua ruína. O menino sensível se tornou o homem casmurro: fechado, amargo, cabeça dura, prisioneiro de si mesmo.

Tanto Werther quanto Bento são espelhos literários do mesmo perigo: a juventude vivida sem freio, entregue ao coração, movida por emoções e prazeres, mas sem direção espiritual. São jovens que buscaram plenitude em si mesmos — e encontraram o vazio.

E é exatamente aqui que a palavra de Deus nos chama à reflexão.

O salmista faz a pergunta que nenhum deles soube responder:

“Como pode o jovem se manter puro?” (Sl 119.9, NVT)
Ou: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?” (Sl 119.9, ARA)

Davi mesmo responde:

“Obedecendo à tua palavra.” (NVT)
Ou: “Guardando-o [guardando o seu caminho] segundo a tua palavra.” (ESV)

O segredo da juventude, a chave para uma vida feliz — em qualquer fase da vida, aliás —, não está em seguir o coração, mas em submetê-lo. O verdadeiro prazer não está nas paixões passageiras, mas na presença permanente de Deus.

Eis como encerra a segunda estrofe (vs. 9-16) desse salmo — Salmos119.16 (NVT):

“Terei prazer em teus decretos e não me esquecerei de tua palavra.”

Veja: o jovem que começou indagando:

“Como pode o jovem manter pura a sua conduta?” (v. 9),

conclui resoluto:

“Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei de tua palavra.” (v. 16)

A juventude guiada pela Palavra é forte, bela e fecunda; mas a juventude entregue aos prazeres é fogo que consome, não luz que ilumina.

Werther e Bento Santiago buscaram sentido nos sentimentos — e encontraram apenas desespero e solidão. O primeiro, deu fim à própria vida. O segundo, ficou casmurro. O salmista, porém, encontrou prazer na lei do Senhor — e, por isso, encontrou vida.

Entretanto, todos conhecemos a história de Davi. No mais tenebroso, no mais perverso, no mais infame episódio de sua vida — quando adulterou com Bate-Seba e, tendo sido informado da gravidez inesperada, mandou matar Urias, o marido dela (2Sm 11.1-17) — Davi foi guiado por um coração selvagem, e não submisso à palavra de Deus.

O mesmo homem que outrora dissera: “Tenho prazer na lei do Senhor, e nela medito de dia e de noite” (Sl 1.2) deixou-se dominar pelos impulsos do desejo e pela cegueira do poder. E o resultado foi devastador: culpa, vergonha, morte e silêncio espiritual, a tal ponto de a culpa não confessada fazer arder de dor os seus ossos (Sl 32.3-4; 51.3-4).

Talvez lembrando-se do profundo abismo do pecado em que havia caído — aquele mesmo em que o coração o havia lançado quando se afastou da palavra de Deus —, Davi encerrou o Salmo 119 com estas palavras comoventes, no versículo 176 (NVT):

Andei sem rumo, como ovelha perdida;
vem buscar teu servo, pois não me esqueci de teus mandamentos.

Ah!, meu jovem, esse será o fim de todo aquele que segue o coração e não o submete a Deus! O coração é enganoso e desesperadamente corrupto (Jr 17.9); quem o toma por guia, cedo ou tarde, se perderá em suas próprias paixões. Mas o Davi do Salmo 119.9-16 mostra outro caminho — o caminho da pureza, do prazer verdadeiro e da vida abundante.

Ele pergunta: “Como pode o jovem manter pura a sua conduta?” E ele mesmo responde: “Vivendo de acordo com a tua Palavra, ó Deus.” (v. 9)

O segredo para uma juventude feliz não está em seguir o coração, mas em submetê-lo à palavra de Deus. A chave da vida bem-aventurada não está em experimentar tudo, mas em obedecer com alegria — a palavra do SENHOR. O verdadeiro prazer não está nas paixões passageiras, mas na presença permanente de Deus: “Terei prazer nos teus decretos, e não me esquecerei de tua palavra.” (v. 16)

Pois bem — agora, de forma específica, de maneira prática e espiritual, — como Davi fez isso? Como ele conseguiu guardar o coração em meio às tentações da juventude?

Em outras palavras: como sobreviver à juventude sem ser devorado por seus prazeres e paixões?

É exatamente isso que o Salmo 119.9-16 nos ensina. Aqui, Davi abre o coração e revela o segredo de uma vida pura, firme e feliz diante de Deus. Veremos, então, como o jovem pode permanecer puro, encontrar prazer verdadeiro e perseverar na Palavra.

Passemos, agora, à análise do Salmo 119.9-16; e, ao final, faremos algumas aplicações práticas.

Leiamos mais uma vez o nosso texto:

Bêt
9Como pode o jovem se manter puro?
Obedecendo à tua palavra.
10De todo o meu coração te busquei;
não permitas que eu me desvie de teus mandamentos.
11Guardei tua palavra em meu coração,
para não pecar contra ti.
12Eu te louvo, ó SENHOR;
ensina-me teus decretos.
13Recitei em voz alta
todos os estatutos que nos deste.
14Alegrei-me com o caminho apontado por teus preceitos
tanto quanto com muitas riquezas.
15Meditarei em tuas ordens
e refletirei sobre teus caminhos.
16Terei prazer em teus decretos
e não me esquecerei de tua palavra.

A mensagem dessa estrofe — a grande ideia ou ideia central desse trecho, dessa perícope — pode ser resumida da seguinte maneira:

A juventude encontra sua pureza, sua realização e sua felicidade não nas paixões que passam, mas na Palavra que permanece; não em seguir o coração, mas em guardar a palavra de Deus no coração — e praticá-la.

Davi, ao que tudo indica, ainda era um jovem quando escreveu esta estrofe do Salmo 119. Ou talvez — já adulto, ao revisitar a vida e o passado — tenha desejado deixar algumas lições aos jovens que lessem ou cantassem seu salmo.

O caminho puro

Perceba como ele inicia a estrofe com uma pergunta típica de quem ainda está aprendendo, a pergunta sincera do jovem aprendiz — note o advérbio (v. 9): “Como?” Ou, em outras palavras: “De que maneira?” — “Como pode o jovem se manter puro?” (NVT); “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?” (ARA)

É uma pergunta honesta, nascida de quem não apenas reconhece a própria limitação e necessidade, mas também discerniu que há dois caminhos: um puro e outro impuro; um certo e outro errado; um divino e justo, e outro carnal e injusto.

Portanto, essa pergunta, em si mesma, já contém uma grande primeira lição: o jovem começa a lutar por sua sobrevivência espiritual quando reconhece que existe um caminho certo a seguir — o caminho traçado pelo SENHOR em Sua Palavra —, jamais o caminho tentado pelo coração.

Esse jovem, à semelhança do salmista, descobrirá que o Deus das Escrituras é grande o bastante e gracioso o suficiente para lidar com todas as perguntas, todas as dúvidas e todos os medos de um coração que o busca sinceramente para guardar puro o seu caminho.

“[Como…] De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?” (v. 9, ARA)

Essa pergunta tem uma resposta difícil:

“…observando-o segundo a tua palavra” (v. 9b, ARA).

Ou, como traduz a Nova Versão Transformadora:

“Obedecendo à tua palavra.”

Mas isso nos conduz, inevitavelmente, a outra pergunta — uma ainda mais prática e urgente: Como viver segundo a palavra de Deus?

É fácil decidir que é isso o que devemos fazer — difícil é descobrir como.

Como passamos de onde estamos para onde deveríamos estar? Como manter o caminho puro, vivendo ou obedecendo “segundo a tua palavra”? (v. 9)

Os campos de batalha

Esses oito versículos tratam de três dimensões da personalidade humana que são absolutamente críticas na juventude — e, de fato, em toda a vida: o intelecto, as emoções e a vontade. Esses são os três campos de batalha que todos enfrentamos enquanto amadurecemos — lutas que começam nos anos da juventude e se estendem até o fim da jornada terreal.

A salvação do jovem pecador

Porém, antes de entrarmos nesses campos, note que o salmista está falando a crentes, não a incrédulos. Como sabemos disso?

Ora, a preocupação expressa no versículo 9 — o anseio de “guardar puro o caminho diante de Deus” — só pode brotar de um coração regenerado, de alguém que nasceu de novo, que renasceu espiritualmente para Deus.

O ímpio até pode desejar parecer bom, até pode buscar uma aparência moral, mas jamais terá prazer em ser puro diante de um Deus santo.

Somente aquele cujo coração foi transformado pela graça e iluminado pelo Espírito é capaz de desejar sinceramente viver de modo que agrada ao Senhor. Essa preocupação não é natural: é sobrenatural. É o fruto de um novo nascimento, o sinal de que a Palavra já começou a operar vida onde antes havia apenas morte.

Portanto, o primeiro pré-requisito para atravessar os campos de batalha dos anos da juventude — ou qualquer fase da vida — é abandonar o pecado e receber Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

Receber Jesus Cristo como Salvador é reconhecê-lo como o Substituto pessoal na cruz do Calvário — aquele que cumpriu perfeitamente a Lei de Deus em seu próprio corpo e morreu como propiciação pelos nossos pecados, aplacando a justa ira de Deus, que nos condenava a viver eternamente no inferno. É recebê-lo como o Sumo Sacerdote, que ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito pelo nosso pecado.

Mas, além de Salvador, é preciso receber Jesus Cristo como Senhor: o Rei que governa a vida com o cetro real de sua Palavra; o Profeta que, por meio dessa Palavra, nos conduz de volta a Deus e nos ensina a andar em seus caminhos.

Somente então o jovem pode trilhar o caminho da pureza e da sabedoria — pois somente aquele que pertence a Cristo pode viver de modo que agrada a Deus — e, dessa forma, sobreviver à juventude; não apenas sobreviver, mas triunfar nos campos de batalha.

O manual do jovem crente em crescimento — e em combate

Salmo 119.9-16, então, é um manual espiritual para o crente em crescimento — especialmente para o jovem crente que deseja amadurecer com sabedoria bíblica e fidelidade espiritual, o jovem que anseia viver pela fé nas promessas do SENHOR.

Este trecho foi escrito para todos aqueles que desejam sobreviver aos anos desafiadores da juventude e triunfar em seus campos de batalha — não apenas resistindo, mas vencendo de modo retumbante, pela graça de Deus, por meio da fé na palavra do Senhor.

Pois bem, observe agora como Davi responde ao “como” do versículo 9a (“Como pode o jovem manter puro o seu caminho?”) de maneira lógica e progressiva, delineando um processo espiritual que é, ao mesmo tempo, cronológico e pedagógico. A seguir, apresento uma explicação breve, mostrando como esse “como” se desdobra passo a passo.

O princípio geral: obedecer a palavra de Deus (v. 9b):

“Como pode o jovem se manter puro?” (v. 9a).
A resposta é direta e fundamental: “Obedecendo à tua palavra.” (v. 9b).

A pureza espiritual não é fruto do esforço humano isolado, mas nasce da obediência à palavra de Deus. No entanto, o salmista não se contenta com uma resposta teórica. Ele nos conduz pelas veredas práticas dessa obediência, desdobrando o caminho em etapas: sete etapas — revelando como, de fato, o coração se alinha à vontade de Deus.

1. O desejo sincero: buscar a Deus de todo o coração (v. 10)

“De todo o meu coração te busquei; não permitas que eu me desvie de teus mandamentos.”

Tudo começa com o desejo — com uma entrega interior, silenciosa; uma resolução profunda. Antes de obedecer, o jovem precisa desejar. Antes de agir, precisa querer a Deus mais do que qualquer prazer: “De todo o meu coração te busquei”.

Esse é o movimento do coração regenerado: um anseio que nasce da graça e que sopra na direção da comunhão. E note, meu irmão, minha irmã — essa comunhão com Deus não é mística nem difusa. Ela se revela na vida que permanece na trilha dos seus mandamentos. É comunhão na Palavra e pela Palavra. É andar com Deus sob a luz de sua verdade. Por isso o salmista complementa: “não permitas que eu me desvie de teus mandamentos.”

“De todo o meu coração te busquei; não permitas que eu me desvie de teus mandamentos.” (v. 10)

2. O método espiritual: guardar a Palavra no coração (v. 11)

“Guardei a tua palavra em meu coração, para não pecar contra ti.”

Aqui, o salmista mostra como o desejo sincero de buscar a Deus de todo o coração (v. 10) se concretiza: pela memorização e internalização das Escrituras (v. 11).

A Palavra não é apenas lida — ela é guardada, armazenada, protegida no coração como um tesouro sagrado. Assim, torna-se viva e presente no momento da decisão, na hora da tribulação ou em face da tentação. Não como eco distante, mas como espada afiada, pronta para defender a alma e preservar a santidade.

3. A atitude humilde: aprender com o SENHOR (v. 12)

“Eu te louvo, ó SENHOR; ensina-me teus decretos.”

A obediência de que depende a comunhão com Deus requer um coração ensinável.

O jovem piedoso não confia em sua própria força, nem presume sabedoria suficiente. Ele se curva diante do SENHOR, reconhecendo sua necessidade de ser instruído. Depende do ensino de Deus — um discipulado que vem pela Palavra viva e pela ação do Espírito Santo. É nessa escola divina que a alma aprende a andar em santidade.

A Palavra de Deus que foi lida, ouvida e memorizada agora impulsiona o louvor: “Eu te louvo, ó SENHOR” (v. 12a).

Mas não qualquer louvor — e sim aquele que é pleno e verdadeiro, nascido da correta compreensão da verdade. Por isso, o jovem busca aprender: “ensina-me os teus decretos” (v. 12). Ele ora pedindo discernimento. Recorre aos bons livros que iluminam as Escrituras. E, com humildade, se aproxima dos pastores e mestres que o Senhor Jesus confiou à sua igreja. Ele entende: sem compreensão, o louvor se esvazia; com entendimento, ele transborda em adoração sincera, fortificando o coração no campo de batalha.

4. A expressão pública: testemunhar da Palavra (v. 13)

“Recitei em voz alta todos os estatutos que nos deste.”

O desejo sincero: buscar a Deus de todo o coração (v. 10).
O método espiritual: guardar a Palavra no coração (v. 11).
A atitude humilde: aprender com o SENHOR (v. 12).

Esses três movimentos interiores encontram sua expressão pública: testemunhar da Palavra (v. 13): “Recitei em voz alta todos os estatutos que nos deste.” O aprendizado se transforma em proclamação. Quem guarda e aprende a Palavra, fala dela com liberdade e convicção. A verdade, uma vez armazenada no coração, transborda pelos lábios. A pureza pessoal, cultivada em secreto, gera influência pública. A santidade silenciosa se torna voz viva no mundo: “Recitei em voz alta todos os estatutos que nos deste.” (v. 13)

5. O resultado emocional: alegria na Palavra (v. 14)

“Alegrei-me com o caminho dos teus preceitos tanto quanto com muitas riquezas.”

A obediência produz prazer espiritual. A alma que antes buscava alegria no pecado agora encontra deleite na vontade de Deus. O jovem descobre que a Palavra é o seu tesouro — não por causa de sua forma, mas por causa de seu conteúdo. E ela é um tesouro porque é nela (pela iluminação do Espírito Santo) que ele encontra Cristo, o seu bem supremo, seu Salvador, seu Senhor e sua maior alegria. Obedecer deixou de ser um peso. Tornou-se prazer — porque é comunhão com o Senhor que redimiu sua vida: “Alegrei-me com o caminho dos teus preceitos tanto quanto com muitas riquezas.” (v. 14)

6. O exercício contínuo: meditação (v. 15)

“Meditarei em tuas ordens e refletirei sobre teus caminhos.”

Aqui está o segredo da constância: meditar. A mente moldada pela Palavra aprende a refletir, a ponderar, a revisitar com reverência tudo o que Deus diz.

Meditar não é se esvaziar e é mais do que lembrar — é transformar o aprendizado em comunhão viva. É ouvir novamente a voz do SENHOR na Palavra guardada no coração, até que a verdade se torne deleite, direção e descanso.

Por isso disse o salmista: “Meditarei em tuas ordens e refletirei sobre teus caminhos.”

7. O propósito final: deleite e memória (v. 16)

“Terei prazer em teus decretos e não me esquecerei da tua Palavra.”

O salmista termina esta estrofe onde todo verdadeiro discípulo de Jesus Cristo deseja viver: no deleite constante — em Deus. Ele não obedece por obrigação, mas por prazer. Não se esforça apenas para lembrar, mas ama demais para esquecer — ou se corromper.

A Palavra tornou-se sua alegria diária, seu alimento, seu caminho. Obedecer é amar, lembrar é adorar, meditar é viver. O coração foi conquistado — e agora descansa onde sempre pertenceu: na vontade de Deus.

Intelecto, emoção e vontade

Em suma, o salmista responde à pergunta “como obedecer à Palavra de Deus?” (v. 9) com um processo espiritual em sete movimentos: buscar a Deus de todo o coração (v. 10) → guardar a Palavra no coração (v. 11) → aprender com o SENHOR (v. 12) → testemunhar da Palavra (v. 13) → alegrar-se na Palavra (v. 14) → meditar na Palavra (v. 15) → lembrar-se com deleite da Palavra (v. 16).

Tudo isso porque Davi quer manter puro o seu caminho (v. 9), não quer se desviar da vontade de Deus (v. 10) e não quer pecar contra o SENHOR seu Deus (v. 11).

Antes, o homem segundo o coração de Deus deseja ser instruído por Deus (v. 12), proclamar os seus decretos (v. 13) e celebrar a alegria que encontrou nele — uma alegria mais preciosa do que todas as riquezas deste mundo (v. 14). Por isso, ele mantém viva na memória a Escritura (v. 15) e se deleita nela com um amor que não esquece (v. 16).

É assim — por meio de uma obediência progressiva, amorosa e cheia de prazer na Palavra — que o jovem se mantém puro e vive para a glória de Deus, obedecendo a Deus.

E foi assim que esse jovem salmista aprendeu a triunfar em cada um dos seus campos de batalha: no intelecto (sua mente era guiada pela Escritura), nas emoções (seu coração era guardado pela Escritura) e na vontade (suas decisões eram pautadas pela Escritura). A Palavra o guiou, o guardou e o pautou. E ela continua sendo suficiente, em todas as gerações, para formar corações puros e vidas consagradas ao Senhor.

Werther, Dom Casmurro e Davi

Em contraste com Werther e Bento Santiago — personagens marcantes da literatura que se deixaram guiar pelos próprios corações e foram tragados pelas paixões que os dominaram — o salmista nos apresenta um caminho mais alto, mais seguro e eternamente relevante.

Werther, o sonhador trágico de Goethe, seguiu a emoção sem direção e terminou consumido pelo desespero. Bento, o ciumento de Machado, seguiu a suspeita sem razão e terminou enclausurado, casmurro, numa solidão seca e teimosa — desdenhando da mocidade. Ambos buscaram sentido nos sentimentos e, sem âncora na verdade, perderam-se no abismo de si mesmos.

Davi, porém, trilhou outra rota. Encontrou o segredo da juventude e da vida: submeter o coração à palavra de Deus. Ele iluminou a mente com a verdade, disciplinou a vontade pela obediência da fé e descobriu prazer verdadeiro na presença do Senhor.

Enquanto Werther e Bento foram vencidos por suas paixões, Davi foi sustentado pela graça. E a mesma Palavra que guiou seu intelecto, guardou suas emoções e orientou sua vontade continua sendo, ainda hoje, lâmpada para os pés e luz para o caminho (Sl 119.105) — para o seu caminho, jovem.

Ah, meu jovem — não se engane com o brilho passageiro das paixões. O coração entregue à Palavra não termina em desespero nem em solidão casmurra (aquele tipo de solidão teimosa, obstinada, cabeçuda, fechada em si mesma), mas em vida abundante, alegria perseverante e paz profunda diante do Deus que santifica, preserva e satisfaz.

Como sobreviver à juventude

  1. O INTELECTO — Renove sua mente na Palavra, não nas telas.
    Vivemos cercados por vozes e imagens. A mente do jovem é constantemente moldada — ou pela cultura digital ou pela Escritura. A primeira batalha é mental: é a guerra pela atenção. Renovar a mente é pensar biblicamente sobre tudo: sucesso, corpo, prazer, propósito e eternidade. Se você não preencher sua mente com a verdade, o mundo a preencherá com mentiras. Leia, memorize, medite. A mente na Palavra não se curva à mentira.
  2. AS EMOÇÕES — Submeta seus sentimentos à verdade, não à intensidade.
    A cultura diz: “siga seu coração”. Mas corações sem verdade afundam em paixão, ciúme ou desespero. Werther e Bento Santiago são provas disso. A Bíblia, por sua vez, oferece outro caminho: não negar os sentimentos, mas discipliná-los. Aprenda a amar o que Deus ama e a se alegrar no que ele aprova. A liberdade verdadeira é sentir prazer em obedecer — a palavra de Deus.
  3. A VONTADE — Obedeça mesmo quando não tiver vontade.
    Veja, jovem: nem todo dia é animado ou estimulante. Mas é na rotina, não no impulso, que a fé amadurece. Santidade se constrói com decisões constantes: levantar, ler, memorizar, aprender, meditar, orar, resistir, praticar e continuar. Não viva pelo entusiasmo, viva pela fidelidade; viva pela fé, não por vista. Obedeça — e o prazer virá. A alegria renasce quando a vontade se curva à Palavra.

Oração

Senhor Deus e Pai, renova as nossas mentes por meio da tua Palavra. Livra-nos de sermos moldados por este século e ensina-nos a pensar com clareza, segundo a tua verdade. Que nossas mentes sejam cheias da tua luz e firmes diante das mentiras deste mundo.

Ó Deus, pedimos também que disciplines os nossos sentimentos pela tua verdade. Não queremos ser guiados pelas paixões, mas pelo teu Espírito. Ensina-nos a amar o que tu amas e a encontrar alegria no que te agrada.

Senhor, por fim, fortalece as nossas vontades para que obedeçamos mesmo quando não houver vontade. Dá-nos constância nos teus caminhos, fidelidade nos dias difíceis e prazer em fazer a tua vontade. Que vivamos pela fé e perseveremos até o fim.

Bênção pastoral

Que o Senhor guarde vocês em pureza de coração,
e os conduza no caminho da obediência à sua Palavra.

Que ele sustente vocês enquanto o buscam de todo o coração,
e os preserve de todo desvio dos seus mandamentos.

Que a Palavra do Senhor habite ricamente em vocês,
e os livre do pecado que espreita a alma.

Que os lábios de vocês proclamem louvores ao Senhor,
e que ele mesmo os ensine os seus santos decretos.

Que não lhes falte coragem para testemunhar os estatutos do Senhor,
nem temor para anunciá-los com fidelidade.

Que vocês se alegrem profundamente nos caminhos do Senhor,
mais do que no acúmulo de muitas riquezas.

Que a mente de vocês se ocupe com os preceitos de Deus,
e que os olhos de vocês estejam fixos em seus caminhos.

E que o Senhor lhes dê prazer em sua Palavra,
e graça para que vocês jamais dela se esqueçam.

Amém.

S.D.G. L.B.Peixoto.

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