

26.10.2025
Salmo 119.17-24
Guímel
17Trata teu servo com bondade,
para que eu viva e obedeça à tua palavra.
18Abre meus olhos,
para que eu veja as maravilhas de tua lei.
19Sou estrangeiro na terra;
não escondas de mim teus mandamentos.
20Tenho sempre intenso desejo
por teus estatutos.
21Tu repreendes os arrogantes;
são malditos os que se desviam de teus mandamentos.
22Não permitas que zombem de mim e me desprezem,
pois tenho obedecido a teus preceitos.
23Até os príncipes se reúnem e falam contra mim,
mas eu meditarei em teus decretos.
24Tenho prazer em teus preceitos;
eles me dão conselhos sábios.
A realidade é dura! E ela é dura para todos — da criança ao idoso.
A realidade é dura para a criança que cresce em meio às angústias, para o jovem perdido num mundo confuso, para o adulto sufocado por contas a pagar e incertezas financeiras, e para o idoso que vê o tempo levar tudo o que ama.
É dura a realidade para quem tenta ser fiel num sistema que recompensa a mentira. É dura para o cristão que tenta ser luz em meio a uma cultura que já não sabe que vive em trevas profundas.
Vivemos dias em que a verdade é zombada, a fé cristã é alvo e a família é atacada.
A realidade é dura — e parece endurecer mais a cada geração.
Mas é justamente nesse chão duro que Deus caminha conosco. A graça do Senhor não floresce em mundos encantados ou em realidades utópicas, mas na terra dos viventes — regada com lágrimas reais, entre as dores e os deveres do mundo real.
A realidade é dura — mas é nela que o evangelho de Cristo se torna boa notícia. E é por isso que, mesmo quando tudo parece pesado demais, podemos dizer com fé: a realidade é sim dura — mas Deus é real e muito bom.
Quem lê o Salmo 119 com atenção — lápis na mão e olhos atentos — percebe que Davi não viveu num mundo de ilusões. A realidade também foi dura para o homem segundo o coração de Deus. Na primeira seção (vs. 1-8), ele mostra que conhece a maldade e sabe o que é escorregar (v. 5). Na segunda (vs. 9-16), revela consciência de uma juventude impura e desviada — culpada diante de Deus, sem prazer na Palavra (vs. 9-11, 16). Mas ele não se conforma com essa realidade: quer vencê-la pela graça.
Ao chegarmos às seções seguintes (vs. 17-24; 25-32), é como se Davi escrevesse sua própria biografia. Ele não fala de teorias espirituais. Ele ora como quem está sangrando. Reconhece sua fragilidade, suplicando assim: “Trata o teu servo com bondade, para que eu viva” (v. 17); “Estou prostrado no pó” (v. 25); “Minha alma chora de tristeza” (v. 28). Ele se sente estrangeiro na terra (v. 19), deslocado e solitário em um mundo que ignora a verdade de Deus. Não há romantização aqui — há angústia e clamor. A dura realidade.
Além das lutas internas, Davi enfrenta oposição externa: zombaria (v. 22), desprezo e conspirações (v. 23). Ser fiel, nesse contexto, é caminhar na contramão de uma multidão hostil. Mas a batalha também é moral e interior. Ele clama: “Afasta de mim o caminho da mentira” (v. 29) e reafirma: “Escolhi o caminho da verdade” (v. 30). O conflito é real — e começa no coração. Reconhecendo sua limitação espiritual, ele ora: “Abre meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei” (v. 18) e “Ajuda-me a entender tuas ordens” (v. 27). Davi sabe que só Deus pode iluminá-lo e sustentá-lo.
O mundo ao seu redor é hostil. Seu coração, vulnerável. Sua mente, limitada. Mas é nesse chão duro — não num jardim artificial — que Davi se apega à Palavra (v. 31) e nela encontra vida, consolo e direção. Esse é o mundo real de Davi — o mesmo que o nosso: marcado por instabilidade, injustiça e tristeza, dentro e fora de nós. E é bom ver que o salmista não fugiu da realidade; ele orou no meio dela: “Trata teu servo com bondade” (v. 17); “Abre meus olhos” (v. 18); “Não escondas de mim teus mandamentos” (v. 19); “Não permitas que zombem de mim” (v. 22). E assim ele seguirá até o fim do salmo — provando que a graça de Deus floresce na terra seca da vida real.
Portanto, o que faremos agora será — à luz dos versículos 17 a 24 — responder à seguinte pergunta: Como enfrentar a realidade, sem se evaporar dela? Como permanecer firmes no mundo real, sem perder a alma, sem abandonar a fé, sem endurecer o coração?
Afinal, foi o próprio Cristo que orou ao Pai, em nosso favor, com estas palavras: “Não peço que os tires do mundo, mas que os protejas do maligno” (Jo 17.15, NVT).
Pois bem, partindo de sua própria experiência, Davi nos ensinará a enfrentar a realidade sem recorrer a escapismos — e a triunfar de forma piedosa. Em resumo, o salmista modelará uma atitude fundamental: a súplica.
Davi nos diria, suplique a Deus três coisas:
Passemos, então, à nossa pergunta:
Como enfrentar a realidade, sem se evaporar dela — e triunfar?
1. Suplique a Deus que
o capacite a guardar a sua palavra maravilhosa (vs. 17-18)
Enquanto na primeira estrofe (vs. 1-8) Davi apresenta a chave para uma vida feliz, e na segunda (vs. 9-16) mostra como o jovem pode atravessar a juventude com fidelidade, agora, na terceira (vs. 17-24), ele revela como o servo de Deus — dependente da graça e guiado pela Palavra — pode enfrentar a realidade hostil do mundo, não importa a idade.
O foco aqui não está na realidade em si, mas na relação do servo com a Palavra, vivendo dentro da dura realidade da vida.
17Trata teu servo com bondade,
para que eu viva e obedeça à tua palavra.
18Abre meus olhos,
para que eu veja as maravilhas de tua lei.
1.1 — A Palavra é vida para o servo do Senhor (v. 17)
Davi ora pedindo que o Senhor o trate “com bondade” — ou “com generosidade” (v. 17). É um clamor urgente, humilde e cheio de esperança. Nos Salmos, essa expressão carrega o peso de quem suplica por livramento: “Ajuda-me. Resgata-me. Sê generoso comigo, Senhor — não segundo o que mereço, mas segundo a tua misericórdia.”
Essa mesma ideia aparece em passagens como:
A realidade é dura. O mundo é hostil. Por isso suplicamos a bondade de Deus.
E quem é aquele que faz tal pedido?
O “servo” do Senhor. “Trata teu servo com bondade” (v. 17).
Nem todo seguidor é chamado assim. Ao longo das Escrituras, “servo do Senhor” é título reservado a quem vive em aliança com Deus e participa de sua obra: Abraão (Gn 26.24), Moisés (Êx 14.31), Davi (2Sm 7.5), Isaías (Is 20.3), Paulo (Rm 1.1). E, acima de todos, Jesus — o Servo Sofredor de Isaías 53 — que obedeceu perfeitamente, sofreu vicariamente e venceu gloriosamente.
Ser servo é mais que função — é identidade. Uma posição de honra, ternura e proximidade com Deus. É algo a que todos nós, pela graça, devemos aspirar.
Mas por que o servo pede ajuda?
A resposta está no fim do v. 17: “para que eu viva e obedeça à tua palavra.”
Davi não quer viver por viver, mas para guardar a Palavra. Ele sabe: a vida verdadeira depende da graça — e tem como propósito a fidelidade. Jesus confirma isso em Mateus 4.4: “Uma pessoa não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca de Deus.”
Sem a Palavra, o servo não vive — apenas sobrevive. Como disse Spurgeon: “Sem abundante misericórdia, o servo não poderia viver. É necessária grande graça para manter um santo vivo.”
E essa grande graça nos chega pela Palavra — viva, eficaz e suficiente. A Escritura é mais que verdade a ser crida: é graça a ser recebida. Atos 14.3 (NAA) chama-a de “palavra da sua graça”; e Atos 20.32 (NAA) afirma que essa “palavra da sua graça” pode “edificar e dar herança entre os santificados.”
Por isso, o servo não apenas conhece a Palavra. Ele vive dela.
A palavra é vida para o servo do Senhor.
1.2 — A Palavra é maravilhosa para o servo do Senhor (v. 18)
A palavra de Deus é vida e é maravilhosa:
17Trata teu servo com bondade,
para que eu viva e obedeça à tua palavra.
18Abre meus olhos,
para que eu veja as maravilhas de tua lei.
Três verdades se destacam neste versículo admirável: “Abre os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei” (v. 18).
Primeiro, Davi afirma que há, de fato, coisas maravilhosas na Palavra — verdades admiráveis, belas e transformadoras. A Bíblia não apenas informa — ela encanta. Não apenas orienta — ela vivifica. Não apenas traz informações — ela revela o SENHOR Deus.
Segundo, reconhecemos nossa incapacidade natural de enxergar tais maravilhas. Assim como os discípulos a caminho de Emaús não reconheceram Jesus até que seus olhos fossem abertos (Lc 24.31), também precisamos que o Senhor remova nossas vendas e quebre a dureza do coração. Sem o Espírito, lemos, mas não vemos; ouvimos, mas não compreendemos.
Por isso, em terceiro lugar, devemos orar por iluminação espiritual. Não basta ter a Bíblia aberta — precisamos que Deus abra os nossos olhos diante dela.
John Piper resume bem (O Lord, Open My Eyes, 4 de janeiro de 1998):
Se Deus não abrir nossos olhos, não veremos a maravilha da Palavra. Não somos naturalmente capazes de perceber a beleza espiritual. Quando lemos a Bíblia sem a ajuda de Deus, a glória de Deus nas doutrinas e eventos da Escritura é como o sol brilhando no rosto de um cego. Não que você não possa entender o seu sentido literal, mas não vê a maravilha, a beleza, a glória de tal forma que ela conquiste o seu coração… Precisamos orar a Deus por iluminação sobrenatural quando lemos a Bíblia.
Davi não quer apenas ler a Palavra — ele quer ser capturado, maravilhado por ela. Esse também deve ser o nosso clamor: “Senhor, abre os meus olhos.” Abre, porque preciso de vida. Abre, porque a vida vem do maravilhamento.
17Trata teu servo com bondade,
para que eu viva e obedeça à tua palavra.
18Abre meus olhos,
para que eu veja as maravilhas de tua lei.
2. Suplique a Deus que
o sustente fiel num mundo que não é o seu país (vs. 19-20)
19Sou estrangeiro na terra;
não escondas de mim teus mandamentos.
20Tenho sempre intenso desejo
por teus estatutos.
Davi expressa aqui uma verdade que percorre toda a Escritura: este mundo — esta era perversa, como Paulo a descreve em Gálatas 1.4 — não é o nosso lar. Com humildade, o salmista declara: “Sou estrangeiro na terra” (Sl 119.19). Um peregrino. Um forasteiro. Alguém apenas de passagem por uma realidade dura e hostil.
O Novo Testamento reforça essa identidade. Em 1Pedro 1.1, somos chamados de “estrangeiros”; e em 1Pedro 2.11, exortados como “peregrinos e estrangeiros”. Hebreus 13.14 afirma: “Não temos neste mundo uma cidade permanente; aguardamos a cidade por vir” — a Nova Jerusalém, descrita em Apocalipse 21–22. E Colossenses 1.13 revela nossa nova condição: “[O Pai] nos resgatou do poder das trevas e nos trouxe para o reino de seu Filho amado.”
Somos de outro Reino, crentes. Temos outro endereço. Outro destino. Em Cristo, nossa cidadania está nos céus (Fp 3.20). Ainda assim, estamos aqui. Ainda andamos por estas ruas, convivendo com as dores desta era má — embora pertençamos à era por vir.
E aqui nasce a tensão: queremos ser fiéis ao nosso verdadeiro Rei, mas precisamos de ajuda. Ter convicções certas não basta — precisamos de vida espiritual, visão clara e graça constante, para viver.
Como então viveremos neste mundo, sem nos conformar com ele? Como resistiremos à sedução de uma terra que não é nossa, mas insiste em nos seduzir?
O salmista nos mostrará o caminho.
2.1 — Assuma que você é alguém a caminho de outro Reino (v. 19)
Davi declara no versículo 19a: “Sou estrangeiro na terra.” Reconhece com lucidez sua condição de residente temporário neste mundo — e essa sensação de desencaixe espiritual deveria também marcar todos os filhos de Deus.
Como peregrino, o salmista precisa de direção clara — de um mapa confiável para atravessar esta terra rumo ao Reino celestial. Por isso ora: “Não escondas de mim teus mandamentos” (v. 19b).
Essa súplica é o eco do versículo anterior: “Abre meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei” (v. 18). O estrangeiro precisa de visão — e de guia.
O apóstolo Paulo reforça essa orientação em Filipenses 3.20-21 (NVT):
20Nossa cidadania, no entanto, vem do céu, e de lá aguardamos ansiosamente a volta do Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21Ele tomará nosso frágil corpo mortal e o transformará num corpo glorioso como o dele, usando o mesmo poder com o qual submeterá todas as coisas a seu domínio.
É a Palavra de Deus, iluminada pelo seu Espírito, que nos conduzirá com segurança até lá, enquanto “aguardamos ansiosamente a volta do Salvador, o Senhor Jesus Cristo”.
Assim, assuma que você é alguém a caminho de outro Reino. E…
2.2 — Admita que você precisa de paixão pela palavra de Deus (v. 20)
O clamor do versículo 19 se intensifica no versículo 20. Davi ora como alguém consumido por um anseio profundo:
19Sou estrangeiro na terra;
não escondas de mim teus mandamentos.
20Tenho sempre intenso desejo
por teus estatutos.
A ideia é clara e impactante. Diz o salmista: estou quebrado, esmigalhado em pedaços — esgotado pela intensidade desse anseio interior: “Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos” (v. 20, NAA). Em outras palavras: estou à beira de desmoronar, não tenho sossego — e não sobreviverei sem a tua Palavra.
Esse versículo ecoa Salmo 42.1-2 (NVT): “Como a corça anseia pelas correntes de água, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. Tenho sede de Deus, do Deus vivo; quando poderei estar na presença dele?”
Note: essa ânsia é constante. Não é esporádica.
Ou seja: Nossa paixão pela Palavra precisa ser ininterrupta. Se não for essa santa inquietação a nos mover, outras urgências ocuparão o coração — e a ansiedade deste mundo nos esmagará. Só uma alma cativada pela Palavra permanecerá firme no caos.
Por isso, suplique a Deus:
3. Suplique a Deus que
o proteja daqueles que atacam você com palavras (vs. 21-24)
21Tu repreendes os arrogantes;
são malditos os que se desviam de teus mandamentos.
22Não permitas que zombem de mim e me desprezem,
pois tenho obedecido a teus preceitos.
23Até os príncipes se reúnem e falam contra mim,
mas eu meditarei em teus decretos.
24Tenho prazer em teus preceitos;
eles me dão conselhos sábios.
Oposição, perseguição ou ataques nunca devem surpreender o discípulo de Jesus. O próprio Senhor nos advertiu que essa seria a nossa experiência. Na noite anterior à sua crucificação, em seu discurso no cenáculo, Jesus declarou, em João 15.18-20 (NVT):
18“Se o mundo os odeia, lembrem-se de que primeiro odiou a mim. 19O mundo os amaria se pertencessem a ele, mas vocês já não fazem parte do mundo. Eu os escolhi para que não mais pertençam ao mundo, e por isso o mundo os odeia. 20Vocês se lembram do que eu lhes disse: ‘O escravo não é maior que o seu senhor’? Uma vez que eles me perseguiram, também os perseguirão. E, se obedeceram à minha palavra, também obedecerão à sua.
E o apóstolo Paulo reforça essa verdade com clareza: “Todos que desejam ter uma vida de devoção em Cristo Jesus sofrerão perseguições” (2Tm 3.12, NVT).
Portanto, prepare-se, crente: este mundo caído não gostará de você — nem o aplaudirá por viver para Cristo, obedecendo à sua Palavra (Sl 119.17) e desejando-a com fervor (Sl 119.20). O mundo não celebrará as palavras nem as obras do verdadeiro Jesus revelado na Escritura. Nem as nossas, cristãos — quando elas forem temperadas pelo evangelho.
A oposição virá — e deve ser esperada. Na verdade, ela já está entre nós. Faça você mesmo uma pesquisa, por exemplo, no site da missão Portas Abertas. Os números são assombrosos:
Causas principais da perseguição:
Como então viveremos em face dessa perseguição?
3.1 — Confie que Deus lidará com os opositores (v. 21)
21Tu repreendes os arrogantes;
são malditos os que se desviam de teus mandamentos.
Davi demonstra profunda confiança no caráter e nos caminhos de Deus, conforme revelados em sua Palavra. Ele crê que o Senhor tratará com firmeza aqueles que descreve como arrogantes (NVT), ou soberbos (NAA); amaldiçoados e desviados dos mandamentos.
São pessoas que não se importam com Deus nem com o que ele pensa.
E o que Deus faz com tais indivíduos?
O texto é claro: “Tu repreendes”.
O teólogo Allan Ross explica que essa “repreensão” é uma ação verbal que “põe fim de modo eficaz às atividades”. Em outras palavras: Deus interrompe os ímpios no caminho deles. Ele os coloca em seu devido lugar. Por meio da sua Palavra poderosa e eficaz, o Senhor desfaz a arrogância.
Um simples “Cala a boca!” do Senhor os fará parar.
Nós não precisamos mover um dedo: Deus fala — e está feito. Portanto, confie: Deus cuidará dos que se opõem aos seus; isso inclui você, crente.
3.2 — Confie que Deus ouvirá suas orações (vs. 22-24)
Os versículos 22 a 24 formam uma unidade literária e teológica. Cada um deles termina com uma referência direta à relação do salmista com a palavra de Deus — revelando que ele não se vê como um espectador passivo no drama entre o bem e o mal. Pelo contrário, ele assume duas responsabilidades claras:
Primeiro, ele ora — pedindo a Deus que o livre da vergonha e do desprezo (v. 22).
Segundo, ele age — recorrendo à Palavra como guia e conselheira (vs. 23-24).
22Não permitas que zombem de mim e me desprezem,
pois tenho obedecido a teus preceitos.
23Até os príncipes se reúnem e falam contra mim,
mas eu meditarei em teus decretos.
24Tenho prazer em teus preceitos;
eles me dão conselhos sábios.
A oração revela fé da parte de Davi — fé no SENHOR Deus Altíssimo.
E a relação de Davi com as Escrituras, apesar da oposição, revela sua fé na Palavra.
21Tu repreendes os arrogantes;
são malditos os que se desviam de teus mandamentos.
22Não permitas que zombem de mim e me desprezem,
pois tenho obedecido a teus preceitos.
23Até os príncipes se reúnem e falam contra mim,
mas eu meditarei em teus decretos.
24Tenho prazer em teus preceitos;
eles me dão conselhos sábios.
Note: no versículo 23 há ecos da traição que o próprio Cristo sofreu. Homens poderosos, assentados em seus tronos, tramaram contra o Ungido de Deus (cf. Salmo 2) — uma sombra profética da conspiração contra o Justo. E Davi reagiu como seu Senhor reagiria, séculos mais tarde: meditou nos decretos do Senhor (v. 23). Como lemos em 1Pedro 2.23: “Não revidou quando foi insultado, nem ameaçou se vingar quando sofreu, mas deixou seu caso nas mãos de Deus, que sempre julga com justiça” (NVT).
Jamais se esqueça, crente: não lutamos batalhas espirituais à maneira do mundo.
A realidade é dura — atinge corpo, alma, relacionamentos e toda a criação. E, para o cristão, pode parecer ainda mais pesada, com oposição, zombaria e, em muitos lugares, até risco de morte. Mas Salmo 119.17-24 nos ensina como enfrentar tudo isso: valorizando mais o que Deus pensa de nós do que o que dizem os homens a nosso respeito; buscando conselho na Palavra; sendo sustentados por ela; e confiando que o SENHOR cuidará dos seus.
Portanto, alegremo-nos: há maravilhas na Escritura. O Senhor as revelará. Seu Espírito nos ajudará. Ele fez isso por Cristo — e fará por nós também.
Sim, a vida pesa — mas o evangelho é ainda mais precioso. A vida é dura — mas o evangelho é ainda mais delicioso. Ele não nega a dor, mas revela a beleza de Cristo no meio dela. Como Davi, que encontrou consolo e prazer na Palavra, também nós podemos dizer: “Teus testemunhos são o meu prazer… os meus conselheiros.”
Vivemos neste mundo — mas não somos dele. Choramos, sim — mas com esperança viva. Como diz 2Coríntios 4.8-10 (ARA): “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos.”
Portanto, quando a realidade pesar sobre seus ombros, alimente-se do evangelho. Busque delícia na Palavra. Deleite-se em Cristo. Encontre prazer não no conforto do mundo, mas na fidelidade de Deus. A realidade é mesmo dura — mas a Palavra é ainda mais doce. O evangelho é o nosso sustento, e Cristo é o nosso prazer até o fim — e além.
Prove e veja. Venha a Cristo com arrependimento e fé.
Oração
Senhor, reorienta nossos corações. Que não busquemos prazer nas distrações deste mundo, mas encontremos delícia na tua Palavra. Abre os nossos olhos, Pai, para que contemplemos as maravilhas da tua lei e nos alimentemos dela todos os dias.
Quando a oposição vier, sustenta-nos. Lembra-nos que somos teus servos e que vale mais o que tu pensas de nós do que qualquer voz contrária. Dá-nos coragem para permanecermos firmes e confiança de que tu mesmo lidarás com os inimigos do evangelho.
E, no meio do caos, enche-nos de esperança. Ajuda-nos a manter os olhos em Cristo, que já venceu o mundo. Que vivamos cada dia certos de que, mesmo em meio à dor, tua graça nos basta — e tua fidelidade triunfará.
Em nome de Jesus, nós oramos. Amém.
Bênção pastoral
E agora:
Que o Senhor trate vocês com bondade, para que vivam — e vivam para obedecer à sua Palavra.
Que ele abra os seus olhos, para que vejam as maravilhas da sua lei e se encantem com a beleza do seu caminho.
Que, mesmo como estrangeiros nesta terra, não lhes faltem direção e clareza, pois os mandamentos do Senhor serão sempre o seu mapa e o seu norte.
Que o desejo pelos estatutos de Deus consuma os seus corações, sustentando-os em fidelidade todos os dias.
Que, ao enfrentarem arrogância, zombaria ou desprezo, vocês se lembrem: o Senhor mesmo repreende os que se desviam e cuida dos que lhe pertencem.
Que, ainda que poderosos se levantem contra nós, vocês permaneçam firmes — meditando nos decretos do Senhor e encontrando neles prazer, sabedoria e segurança.
E que, em tudo, a palavra de Deus seja o seu prazer constante, o seu conselheiro fiel e a luz para o seu caminho através da realidade dura da vida. Amém.
S.D.G. L.B.Peixoto.
Mais Sermões
Mais Séries
Como enfrentar a realidade
Pr. Leandro B. Peixoto