17.01.2016
A MAQUETE DA IGREJA DE CRISTO
Expressões abertas de afeto tornaram-se cada vez mais raras nos círculos cristãos de hoje. Em uma sociedade caracterizada pelo “não me toque” e “mantenha distância de mim”, nós temos aprendido a viver isolados uns dos outros com uma rapidez impressionante. De seres humanos afetivos e relacionais, nós passamos a ser entidades independentes, cercadas por todos os lados com arames farpados de formalidade e de profissionalismo gelado.
Infelizmente, as igrejas não estão imunes dessa doença letal. Nós, cristãos, precisamos urgentemente tomar as medidas necessárias a fim de penetrarmos e permearmos nossas comunidades locais com demonstrações apropriadas de afeto e de preocupação uns com os outros. Mas, como?
O primeiro passo deve ser encontrar o modelo do ideal de Deus. Em seguida, buscar no Senhor a capacidade para se colocar em prática os propósitos de Deus para a Igreja. Louvado seja Deus que preservou para nós um exemplo invejável de amor e de afeto cristãos. Baixemos, pois, nossa guarda à medida que Paulo nos apresenta a “Maquete da Igreja de Cristo”.
Romanos 16.1-23
1 Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia. 2 Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos, e lhe prestem a ajuda de que venha a necessitar; pois tem sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim. 3 Saúdem Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus. 4 Arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as igrejas dos gentios. 5 Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na província da Ásia. 6 Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês. 7 Saúdem Andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim. 8 Saúdem Amplíato, meu amado irmão no Senhor. 9 Saúdem Urbano, nosso cooperador em Cristo, e meu amado irmão Estáquis. 10 Saúdem Apeles, aprovado em Cristo. Saúdem os que pertencem à casa de Aristóbulo. 11 Saúdem Herodião, meu parente. Saúdem os da casa de Narciso, que estão no Senhor. 12 Saúdem Trifena e Trifosa, mulheres que trabalham arduamente no Senhor. Saúdem a amada Pérside, outra que trabalhou arduamente no Senhor. 13 Saúdem Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe também para mim. 14 Saúdem Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que estão com eles. 15 Saúdem Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, e também Olimpas e todos os santos que estão com eles. 16 Saúdem uns aos outros com beijo santo. Todas as igrejas de Cristo enviam-lhes saudações. 17 Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. 18 Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos. 19 Todos têm ouvido falar da obediência de vocês, por isso estou muito alegre; mas quero que sejam sábios em relação ao que é bom, e sem malícia em relação ao que é mau. 20 Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça de nosso Senhor Jesus seja com vocês. 21 Timóteo, meu cooperador, envia-lhes saudações, bem como Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes. 22 Eu, Tércio, que redigi esta carta, saúdo vocês no Senhor. 23 Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a igreja desfrutamos, envia-lhes saudações. Erasto, administrador da cidade, e nosso irmão Quarto enviam-lhes saudações.
Romanos 16 é muito mais do que uma lista de nomes. É carregado de eclesiologia (doutrina da Igreja) e ética (ciência da moral e do comportamento). Mas está tudo implícito. Está tudo contido nas palavras. Não há propostas explícitas. Há princípios teológicos que são extremamente práticos. Paulo, depois de 15 capítulos, sendo 11 deles carregados de teologia (Rm 1 a 11) assume que os destinatários compreenderam a sua exortação.
Agora, concluindo a sua carta, não é o momento para Paulo explicar. Isso ele já fez anteriormente. Chegou a hora da saudação final, do adeus. Ah! Como nós podemos aprender com essas saudações! Mas infelizmente, quando chegamos e este capítulo, a tendência é de o lermos rapidamente, sem prestar muita atenção, querendo terminar logo a carta. Até porque, a lista contém nomes bastante complicados.
No entanto, o que temos diante de nós é uma bela Maquete da Igreja Primitiva – uma reprodução em escala reduzida, mas fiel em seu aspecto e proporções, do cenário da Igreja composta pelos primeiros cristãos. Um verdadeiro manual de relacionamentos.
De forma geral, faremos juntos algumas considerações importantes sobre como devem ser os relacionamentos na Igreja, a Noiva de Cristo.
Então, o que esta maquete nos revela e nos ensina?
Impressionam-me os seis pilares de sustentação dessa igreja.
Quais são eles e o que eles ensinam?
1. Os crentes devem se importar uns com os outros
Há 27 nomes nessa lista. Outras pessoas são saudadas, mas 27 são nomeadas, sendo que 26 delas estão em Roma, e Febe (o primeiro nome a ser mencionado – v. 1) está a caminho de Roma (levando consigo a carta – v. 2).
Certamente que nomes são importantes. Guardar o nome de alguém é demonstrar que se estima a pessoa. Eu queria poder chamar cada um de vocês pelo nome. Muitas vezes eu não consigo.
Jesus, porém, conhece cada um de nós pelo nome:
Jo 10.3 – As ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome.
Devemos nos esforçar para conhecer os nomes uns dos outros. Isso revelará que nos importamos com as pessoas. É incrível quantos nomes Paulo conhecia em Roma, quando ele nunca esteve lá! Paulo se importava com as pessoas. Talvez esses nomes até estivessem em sua lista de oração.
Os crentes devem se importar uns com os outros.
2. Os crentes devem valorizar relacionamentos
Cerca de 21 descrições estão associadas com as pessoas. Isso também nós não podemos deixar de observar, pois são notáveis as palavras que Paulo usa para descrever quem são essas pessoas em relação a ele e aos outros:
Irmã, irmão, servo, santos, auxílio, colaboradores, cooperador, colega de trabalho, eleito, igreja, primícias, parentes, companheiros de prisão, amados, aprovado em Cristo, eleitos, mãe para mim, hospitaleiro, etc.
Essas descrições revelam o tamanho do valor que Paulo nutria pelos relacionamentos com as pessoas, a ponto de complementá-las de forma tão nobre. Ele sabia que quanto mais nós nos relacionamos com pessoas diferentes, tanto mais nós enriquecemos e somos enriquecidos. Relacionamentos são como tesouros raros. Não podemos desprezá-los.
Os crentes devem valorizar relacionamentos.
3. Os crentes devem ser afetuosos
19 vezes nós encontrarmos palavras de saudação ou de recomendação pessoais – “Saúdem”; “Recomendo-lhes”; “Recebam”. Uma dessas últimas palavras está em Romanos 16.16, que diz:
Saúdem uns aos outros com beijo (ósculo) santo.
William Klassen, escrevendo sobre “beijo”, no Anchor Bible Dictionary, destacou algo muito importante:
Há um consenso geral de que o “ósculo santo” teve sua origem na prática que surgiu no início da igreja cristã, entre os próprios crentes, com o impulso que vem, provavelmente, da forma de vida do próprio Jesus. Nada análogo há que se encontre entre quaisquer sociedades greco-romanas, nem, aliás, em Qumran. Os mestres do mundo antigo não costumavam incentivar seus alunos a se cumprimentarem com beijos. Assim, o “beijo santo” é para ser visto no contexto de pessoas que estão construindo uma nova realidade social. A admoestação para se beijar serve para destacar a liberdade de se expressar sem inibição o ardor do agapē no contexto das relações.
O objetivo de Paulo com tanta ênfase na saudação e na recomendação era um só: transmitir intimidade espiritual, carinho e afeição aos irmãos, demonstrar o amor ágape.
Pena que hoje mal nos cumprimentamos. Muitas vezes apenas trocamos apertos de mãos (com as pontas dos dedos), olhares distantes, acenos com a mão e a cabeça, etc. Mesmo assim por mera formalidade; sem qualquer afeto, carinho, ou intimidade espiritual. Gente, nós somos irmãos! Devemos nos saudar com afeto. Devemos nos aproximar uns dos outros a ponto de poder recomendar o irmão.
Os crentes devem ser afetuosos.
4. Os crentes devem se reunir nas casas
É impressionante como essas pessoas estavam estrategicamente espalhadas pela cidade de Roma. Elas se reuniam em “pequenos grupos”.
Rm 16.5 – Diz que havia um grupo reunido na casa de Priscila e Áquila.
Rm 16.14 – Diz de outro grupo que se reúne com os irmãos: Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas.
Rm 16.15 – Diz dos da casa de Filólogo, Júlia, Nereu e irmã, e Olimpas.
E provavelmente havia muitos outros “pequenos grupos”. Nós aprendemos, portanto, que a igreja em Roma se distribuía e se espalhava pela cidade através dos grupos pequenos. Em Jerusalém, eles se reuniam no templo e nas casas (Atos 2). Deve ser assim também conosco.
Os crentes devem se reunir nas casas.
5. Os crentes devem ser piedosos até no falar
Observe o quanto esses relacionamentos eram encharcados de Cristo. Isso é revelado no linguajar de Paulo. É impressionante como as nossas palavras, o conteúdo de nossas conversas, revelam se somos ou não piedosos! Vejam:
Rm 16.2 – Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos.
Rm 16.3 – Meus colaboradores em Cristo Jesus.
Rm 16.5 – O primeiro convertido a Cristo.
Rm 16.7 – Estavam em Cristo antes de mim.
Rm 16.8 – Meu amado irmão no Senhor.
Rm 16.9 – Nosso cooperador em Cristo.
Rm 16.10 – Apeles, aprovado em Cristo.
Rm 16.11 – Saúdem os (…) que estão no Senhor.
Rm 16.12 – Saúdem as que trabalham arduamente no Senhor.
Rm 16.13 – Saúdem Rufo, eleito no Senhor.
Essa não é uma simples lista de saudações. É, antes, uma pequena demonstração de como uma pessoa que esta cheia do Espírito de Cristo fala sobre ou com os seus irmãos.
PERGUNTO: Quando você envia um e-mail, troca mensagens no WhatsApp, no MSN, no Facebook, no G-Talk, etc.; quando você posta uma mensagem em sua rede social; quando você liga para alguém; enfim, quando você fala ou escreve, Cristo está lá dessa maneira de Romanos 16?
LEMBRE-SE: “A boca fala [e os dedos teclam] do que está cheio o coração”. (Mt 12.34)
Se Cristo não está lá na sua conversa, na sua aula ou palestra, nos seus negócios, nas suas amizades e nos relacionamentos, no seu trabalho, em suas redes sociais ou nos e-mails, pode ser que ele não esteja em seu coração. Lutemos para ser uma igreja como Paulo em Romanos 16 – encharcada de Cristo.
Os crentes devem ser piedosos até no falar.
6. Os crentes devem amar de verdade
Note o tipo de amor que permeia este capítulo. Quatro vezes Paulo usa a palavra “amado” ou “amada” (Rm 16.5, 8, 9, 12), e então nós lemos sobre experiências inacreditáveis, que revelam a verdadeira linguagem do amor cristão:
Rm 16.3-6 – 3 Saúdem Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus. 4 Arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as igrejas dos gentios. 5 Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na província da Ásia. 6 Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês.
Essa é a linguagem do amor! Quem ama se arrisca pelo outro. Quem ama trabalha duro pelo outro. Quem ama sai de sua zona de conforto pelo outro. Que o Senhor nos ajude a amar dessa maneira – arriscando pelo outro, trabalhando arduamente pelo outro.
Os crentes devem amar de verdade.
A MAQUETE DA IGREJA DE CRISTO
Romanos 16 é uma belíssima maquete da Igreja de Jesus Cristo. Este capítulo nos ensina a cara que a SIBGO deveria ter neste mundo.
Os nomes – Os crentes devem se importar uns com os outros.
As descrições – Os crentes devem valorizar relacionamentos.
As saudações e as recomendações – Os crentes devem ser afetuosos.
A distribuição pela cidade – Os crentes devem se reunir nas casas.
As palavras – Os crentes devem ser piedosos até no falar.
O amor – Os crentes devem amar de verdade, arriscando-se e trabalhando duro pelo irmão.
Nos próximos domingos pela manhã, Deus permitindo, voltaremos a esse texto mais cinco vezes. Estudando a Igreja de Cristo em Romanos 16; aprenderemos sobre:
Que o Senhor nos abençoe com graça e paz.
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