21.09.2025
Salmo 119.105
Tua palavra é lâmpada para meus pés e luz para meu caminho.
Salmo 119. O que vem à sua mente quando ouve essas palavras: “Salmo 119”?
Permita-me ajudá-lo a responder. Abra sua Bíblia no Salmo 119. Nós vamos ler… do versículo 1 ao versículo 176.
Sim, você ouviu corretamente: do versículo um ao cento e setenta e seis!
Essa reação espontânea, talvez um sorriso, talvez um suspiro, talvez algumas caras e bocas, revela algo sobre o nosso coração ao ouvir “Salmo 119”. É um salmo grande. Enorme. Especialmente para ser lido de uma só vez em um culto.
Para que você tenha uma ideia, sua leitura completa levaria cerca de 25 minutos. E, se feita com a devida pausa e reverência, pode se estender a quase 30.
É um salmo extenso, de fato.
Mas não se preocupe — não faremos isso hoje à noite.
Ainda assim, é uma pena se a única coisa que lhe vem à mente ao pensar nesse salmo for apenas o seu tamanho.
Talvez você, que nos visita hoje, jamais tenha ouvido falar deste salmo. Talvez nunca tenha refletido sobre sua extensão. O Salmo 119 contém cerca de 1.732 palavras no hebraico original. Na versão Almeida Revista e Atualizada, ultrapassa as 3.600 palavras. Em outras traduções, como a Bíblia de Jerusalém, chega perto de 4.000.
É o maior capítulo de toda a Bíblia.
Para comparação, ele é mais de 100 vezes maior que o menor salmo — o Salmo 117. E supera, quase em dobro, os outros quatro entre os cinco maiores capítulos da Bíblia: Números 7, com 89 versículos; 1Reis 8, com 66; Neemias 7, com 73; e Lucas 1, com 80 versículos. Além disso, é mais longo que livros inteiros das Escrituras — como Obadias, 2João, 3João e Judas.
O Salmo 119, em termos de extensão, é como a Muralha da China — enquanto os demais se assemelham a muros de quintal.
Mas, repito: será uma verdadeira perda se você conhecer o Salmo 119 apenas por causa do seu tamanho. Porque… o tamanho, por si só, pode intimidar. E, com este salmo, não é diferente. Ele é o gigante dos salmos. Ou, se preferir, o salmo gigante.
Contudo, seu valor é proporcional à sua grandeza. E isso deve encorajar você — não a recuar diante da altura, mas a preparar os pés e firmar o coração para a subida. Este salmo é o Everest do Saltério. E cada passo rumo ao cume vale a jornada.
Hoje à noite, pela graça de Deus, daremos os primeiros passos nessa subida. E, se o Senhor permitir, teremos mais 22 — talvez 23 — exposições bíblicas no Salmo 119.
O título da nossa série será: “Lâmpada para os Pés e Luz para o Caminho.”
Vamos juntos, povo de Deus. Sigam-me até o topo.
O Salmo 119 é único em toda a Bíblia. Em quase todos os seus 176 versículos, encontramos uma referência explícita à Palavra de Deus. E isso acontece por meio de oito termos hebraicos distintos — cada um com sua própria nuance, mas todos apontando para a mesma realidade: a revelação divina.
São eles: tôrâ, que significa ‘lei’ ou ‘instrução’; ‘ēdâ, traduzido como estatuto, decreto ou testemunho; piqqûd, que quer dizer preceito; hôq, que indica ordem ou decreto; miṣwâ, que é mandamento; mişpāṭ, que se refere a juízo ou justiça; dābār, que é palavra; e ’imrâ, que pode ser traduzido como fala, palavra ou promessa. Esses termos se entrelaçam ao longo do salmo de forma harmoniosa, deixando claro que o tema central é, incontestavelmente, a revelação divina como guia e sustento — lâmpada e luz — do povo de Deus.
Apenas quatro versículos — os de número 84, 121, 122 e 132 — não contêm uma menção direta à palavra de Deus, por meio de nenhum dos seus sinônimos. Todos os outros 172 versículos fazem referência a ela de forma explícita. No total, esses oito sinônimos aparecem cerca de 180 vezes ao longo do salmo — o que nos dá uma média de pouco mais de uma ocorrência por versículo. Aproximadamente 1,04.
Na maioria dos versículos, encontramos apenas um desses termos. Alguns, porém, contêm até dois — como o versículo 168, que menciona “ordens” e “preceitos”; ou o versículo 43, onde aparecem “palavra da verdade” e “estatutos”, conforme algumas traduções. Outro exemplo é o versículo 16, com referências tanto aos “decretos” quanto à “palavra”.
Por isso, o Salmo 119 se destaca como o cântico por excelência da centralidade das Escrituras na vida de fé do povo do SENHOR. É um salmo sobre a Bíblia — a Torá.
Aliás, o termo “Torá” aparece 126 vezes, mais do que qualquer outro.
Mas é necessário entender o que o salmista quer dizer com “lei”.
Ele não está exaltando apenas o código de mandamentos dado a Moisés no Sinai e repetido às margens do Jordão — em Deuteronômio. Lei (Torá) e leis são coisas distintas.
As leis fazem parte da Lei, mas não a esgotam.
O termo “Torá” significa “ensino” — e se refere a toda a revelação escrita de Deus. Ele não abrange apenas leis ou mandamentos, mas inclui também narrativas, poesia, profecia e outros gêneros literários das Escrituras. Em outras palavras, as histórias, os salmos, os oráculos proféticos, os escritos de sabedoria e até os sermões são igualmente palavra e ensino de Deus, tanto quanto os preceitos legais.
É por isso que, muitas vezes, todo o Antigo Testamento foi chamado simplesmente de “a lei”. Vemos isso claramente em Mateus 5.17, onde o título completo — “a Lei, os Profetas e os Escritos”, as três grandes divisões da Bíblia Hebraica — aparece abreviado nos lábios do próprio Cristo como “a lei de Moisés” e “os escritos dos profetas”. E, no versículo 18, tudo isso é resumido por Jesus numa só palavra: “lei”.
Jesus não veio apenas para cumprir os requisitos legais. Ele cumpriu também as profecias, os salmos, e até mesmo os acontecimentos históricos — pois todos eles, em última análise, revelavam o plano eterno de Deus, o qual converge em Cristo.
Isso explica por que a Torá era tão preciosa para o autor do Salmo 119.
Agora, o quanto das Escrituras o salmista já conhecia depende da data em que o Salmo 119 foi escrito. Se veio dos dias de Davi, ele já teria acesso aos livros de Moisés, Josué, Juízes, possivelmente partes de 1 e 2 Samuel, além do livro de Jó e muitos salmos.
Ainda que a Bíblia Hebraica não estivesse completa, esses livros já continham em si toda a riqueza teológica do Antigo Testamento: criação e queda, providência e salvação, juízo e graça, mandamentos e advertências, promessas e bênçãos. E por isso o salmista amava a Torá — a lei, os ensinamentos do SENHOR.
A extensão do salmo
Por que esse salmo é tão grande?
A razão de sua extensão está na forma como foi composto. O autor decidiu estruturá-lo como um acróstico — isto é, baseado nas 22 letras do alfabeto hebraico.
Essa estrutura não foi uma invenção aplicada apenas no Salmo 119. O uso do alfabeto hebraico como recurso literário já aparece em outros salmos — como os de número 9 e 10, 25, 34, 37, 111, 112 e 145. A diferença está na escala.
Nesses casos, temos apenas um versículo por letra — ou dois, como no Salmo 37. Mas no Salmo 119, o padrão é levado ao extremo: são 8 versículos para cada uma das 22 letras do alfabeto. É como se fosse de A a Z… e cada letra, marcando uma estrofe, repetida oito vezes. Uma avalanche poética de louvor à palavra de Deus.
É por isso que, na maioria das Bíblias, cada estrofe do salmo aparece encabeçada por uma letra hebraica — Alef, Bet, Guímel, Dálet, He, Vav, Zayin, Chet, Tet, Yod, Kaf, Lámed, Mem, Nun, Sámeq, Ayin, Pê, Tsade, Qof, Resh, Shin e Tav. Todos os oito versículos de cada estrofe começam com essa mesma letra.
O método do salmista
Mas… por quê?
Possivelmente porque o salmista decidiu usar oito diferentes sinônimos para se referir ao que hoje chamamos de “a palavra de Deus” ou “as Escrituras” ou “a Bíblia”. É verdade que nem todas as estrofes contêm os oito termos — a composição não é tão mecânica. Mas, como já vimos, com exceção dos versículos 84, 121, 122 e 132, cada versículo traz ao menos um desses sinônimos.
Derek Kidner descreve isso de forma poética: “Como um toque de oito sinos, oito sinônimos para a Escritura dominam o salmo, e as 22 estrofes soam suas variações sobre eles… livremente, não com as fórmulas elaboradas de um sineiro.” Ele também chama o salmo de “um alfabeto de orações e reflexões sobre a palavra de Deus”.
Isso não significa que o salmista estivesse apenas demonstrando engenhosidade ou exibindo sua habilidade literária. Há uma mensagem por trás do método. O que ele faz é enfatizar um dos dois grandes fundamentos da fé do povo de Deus na antiga aliança: a palavra de Deus, revelada nas Escrituras. O outro fundamento era o culto no templo, com suas cerimônias diárias, semanais, mensais e anuais.
Data e autor do salmo
Quem escreveu este salmo?
A verdade é que ninguém sabe.
O Salmo 119 é anônimo, e não há indícios claros que o vinculem a um evento histórico específico, como acontece com outros salmos sem autoria declarada.
Alguns estudiosos situam a composição do Salmo 119 no período pós-exílico, antes da plena restauração do culto no templo. Naqueles dias, a lei de Deus ganhava um destaque renovado — como vemos claramente no ministério de Esdras.
Por isso, muitos sugerem que o próprio Esdras tenha sido o autor deste salmo. De fato, o livro de Deuteronômio parece ter assumido nova centralidade naquela época, e o Salmo 119 ecoa diversos temas e expressões de Deuteronômio, reforçando sua ênfase na Palavra como fundamento para a vida do povo de Deus.
A propósito, tendo concluído no domingo passado nossas exposições bíblicas no livro de Deuteronômio, que maravilha da providência divina é sermos conduzidos, logo em seguida, ao Salmo 119 — justamente na continuidade da nossa série de exposições nos Salmos.
Uma série que havíamos pausado ao encerrarmos o Salmo 118, para então percorrer o Pentateuco, livro a livro, por meio de exposições bíblicas panorâmicas.
É a mão de Deus. Sábia, fiel e invisivelmente presente na dieta do púlpito desta igreja.
De volta ao nosso tópico… Ainda sobre o tempo em que o Salmo 119 foi escrito…
Sobre o contexto
O contexto em que o Salmo 119 foi escrito era, em muitos aspectos, semelhante ao dos nossos dias. Era um tempo de ceticismo religioso desenfreado. O versículo 126 denuncia isso com clareza: “SENHOR, é tempo de agires, pois violaram a tua lei.” Havia apatia espiritual, indiferença à verdade e uma inconstância moral perturbadora. O povo era volúvel, de atenção curta, facilmente seduzido por modismos e distrações. O versículo 113 expressa essa instabilidade: “Odeio os inconstantes, mas amo a tua lei.”
Era também uma época de hostilidade e ódio crescentes. No versículo 95, o salmista diz: “Os perversos me esperam para me destruir, mas eu medito nos teus preceitos.” Viviam-se dias de crueldade, perversão e oposição à fé. Podemos dizer, à luz dos últimos acontecimentos em nossos dias: não há nada novo debaixo do sol.
O salmista vivia num ambiente hostil — hostil à fé, à verdade, às coisas de Deus. Hostil a qualquer sustentação pública da Palavra. Sustentar a verdade, naquele tempo, era colocar-se no alvo da oposição — como se estivesse na mira de um sniper, um franco-atirador.
E o mais notável: esse salmista começou a seguir ao SENHOR ainda jovem. Jovem, mas consciente da batalha espiritual ao seu redor. Ele era alvo de zombaria, de calúnias, de perseguição. Era um crente sob pressão. Mas, em vez de recuar, ele se agarrava ainda mais firmemente à palavra de Deus. Não a largava. Pelo contrário — agarrava-se a ela com fé, firmeza e amor.
Sobre o autor.
O historiador judeu do primeiro século, Flávio Josefo (37/38 d.C.—100 d.C.), atribui o salmo a Davi e a seus escribas, já no final de seu reinado, após a rebelião de Seba.
Nessa leitura, Davi estaria olhando retrospectivamente para sua vida, destacando a centralidade da palavra de Deus em sua caminhada. Isso explicaria a ênfase recorrente em temas como conhecimento, entendimento, sabedoria, consolo, oração e compromisso. São todos meios pelos quais o salmista conhecia e se comunicava com Deus — e Deus com ele. É o amadurecimento pleno daquela alegria na lei do Senhor descrita no Salmo 1, e maravilhosamente testemunhada no Salmo 19.
É, portanto, o testemunho de um jovem que cresceu para se tornar um homem maduro em Deus, tendo se pautado ao longo de toda a vida pela lei do SENHOR.
Charles Spurgeon escreveu:
Cremos que Davi escreveu este salmo. Ele é davídico em tom e expressão, e corresponde à experiência de Davi em muitos pontos significativos. Na juventude, nosso professor costumava chamá-lo de “o livrinho de bolso de Davi” — e nos inclinamos a concordar com essa opinião: aqui temos, de fato, o diário real, escrito em diferentes ocasiões ao longo de uma vida longa e marcada pela graça de Deus.
Não, não podemos entregar este salmo ao inimigo. Este é o despojo de Davi.
Após longa leitura de um autor, passa-se a reconhecer o seu estilo. Adquire-se um discernimento quase intuitivo, pelo qual sua autoria se revela, mesmo que seu nome permaneça oculto. Assim sentimos, com uma espécie de certeza crítica e espiritual, que a mão de Davi está presente nesta obra — sim, que ela é inteiramente sua.
Concordo com Spurgeon!
A didática do salmista
Já analisamos que o salmista, aqui no Salmo 119, louva a revelação de Deus por meio de oito palavras diferentes.
Mas… por quê?
Cada sinônimo traz uma nuance própria da mesma verdade.
Ao falar da tôrâ, ele se refere à lei como instrução completa, ensino divino que não se limita a mandamentos, mas inclui história, promessa e orientação para toda a vida.
A ‘ēdâ, traduzida como “decreto” ou “estatuto”, aponta para a Palavra como testemunho: ela declara quem Deus é, denuncia o pecado humano e confirma a justiça do Senhor. Os piqqûdîm, “preceitos”, ressaltam o cuidado minucioso de Deus, que orienta até os detalhes da conduta. Já o hôq, “decreto” ou “ordem gravada”, evoca a ideia de algo estabelecido de forma permanente, uma inscrição que permanece válida em todas as épocas.
Os miṣwôt, “mandamentos”, destacam a autoridade de Deus que ordena e dirige a vida de Seu povo, lembrando-nos de que o relacionamento com ele não se baseia em sugestões, mas em ordens santas e amorosas. O termo mišpāṭ, “juízo” ou “julgamento”, evidencia a avaliação justa que Deus faz da realidade, tanto em Suas determinações morais quanto em Seus atos de julgar e salvar.
O dābār, traduzido simplesmente como “palavra”, é o termo mais amplo, cobrindo toda a revelação divina em sua totalidade. Por fim, a ’imrâ, também vertida como “palavra”, poderia ser entendida mais precisamente como “promessa”, pois ressalta as declarações de esperança e salvação que Deus comunica ao Seu povo.
Lane, um estudioso dos Salmos escreveu que esses oito termos, longe de serem repetições vazias, funcionam como vozes distintas em um mesmo coral, compondo uma melodia única em louvor ao Deus que fala. Cada palavra acrescenta uma faceta à revelação, mostrando que a Escritura é ampla, profunda e inesgotável. Por isso, o salmista pôde expandir-se em vinte e duas estrofes sem se repetir de forma enfadonha, pois em cada linha soa uma nota nova da mesma harmonia.
O Salmo 119, assim, é um convite para se amar, guardar e meditar na palavra inesgotável de Deus — em toda a sua riqueza e plenitude, em toda a sua largura, altura e profundidade.
À luz dessa introdução, o meu propósito, a partir de agora, será apresentar algumas aplicações que nos mostram, de maneira prática e viva, que o Salmo 119 não é apenas um monumento do passado, nem apenas um cântico da antiga aliança, dedicado à exaltação da Torá. De forma especial, ele é Palavra de Deus para nós hoje. Ele é para os cristãos.
O que veremos, portanto, é que este salmo, com toda a sua extensão, altura e profundidade, fala diretamente à nossa fé em Cristo, à nossa caminhada como discípulos e ao nosso chamado à perseverança — por meio da Palavra, centrada em Cristo e da oração, em nome de Jesus.
O propósito principal da Bíblia é fazer conhecer a Deus
A primeira lição que este salmo nos ensina é que o propósito principal da Bíblia é fazer conhecer a Deus. Embora o salmista fale insistentemente da “palavra” e da “lei”, ele não as valorizava em si mesmas, mas porque vinham de Deus e conduziam ao próprio Deus. Basta notar o pronome “teu”, que aparece quase em cada versículo. As Escrituras são preciosas porque são Tuas, ó SENHOR. Elas nos levam a Ti. Conduzem-nos a Deus. São lentes pelas quais passamos a enxergar — a ver o próprio Deus.
Esse é o perigo que os cristãos sempre enfrentaram: defender a Bíblia como objeto de reverência, mas esquecer o seu propósito supremo — conduzir-nos ao próprio Deus que fala. Não devemos transformá-la em ídolo, como se papel e tinta fossem sagrados.
Tal como não veneramos as nossas próprias córneas em si mesmas. Sim… Nós as amamos, cuidamos delas e as protegemos com zelo — porque, por meio delas, enxergamos. Assim também é com a Bíblia: ela é santa porque, através dela, contemplamos o Deus santo. Pela Escritura, nós vemos Deus.
Nesse sentido, o Salmo 119 nos chama a abrir as Escrituras não apenas em busca de regras de conduta ou de doutrinas a serem afirmadas, mas, sobretudo, para encontrar o Deus vivo. Ele nos lembra que a Escritura é meio, não fim; é o caminho pelo qual buscamos, conhecemos e experimentamos o Senhor. É nesse sentido que o salmista fala de conhecimento, sabedoria e entendimento (vv. 98-100, 104, 169): não se trata de acumular informações, mas de conhecer pessoalmente a Deus. É nesse encontro que passamos a compreender o mundo e a nós mesmos. Como proclama o Salmo 36.9 (NVT): “[O SENHOR é] a fonte de vida, a luz pela qual vemos.”
O resultado de se ler a Bíblia é a oração
Dissemos que o Salmo 119 é sobre a Bíblia — e, em certo sentido, estamos corretos.
Já vimos que a maioria esmagadora dos versículos desse salmo mencionam a palavra de Deus: lei, mandamento, preceito, testemunho, estatuto, juízo.
Mas, como bem observou David Powlison, essa não é a ênfase principal, ou, pelo menos, não é o objetivo último do salmista. As palavras que realmente o dominam, muito à frente, são os pronomes “eu” e “Tu” — e seus derivados: me, meu, minha; Teu, Tua, Teus.
O Salmo 119 é, na verdade, a mais longa conversa entre um servo e o seu Senhor registrada em toda a Escritura.
NOTE: em todo o salmo, apenas os três primeiros versículos falam em terceira pessoa, descrevendo pessoas em geral. Mas, a partir do quarto versículo, o tom muda.
O salmista se coloca diante de Deus e fala diretamente com ele — em oração. Nos 172 versículos seguintes, ouvimos o coração de um homem em diálogo com Deus, um filho clamando ao Pai — em oração.
OBSERVE:
Salmos 119.1-5 (NVT)
1Como são felizes os íntegros, os que seguem a lei do SENHOR! 2Como são felizes os que obedecem a seus preceitos e o buscam de todo o coração. 3Não praticam o mal e andam em seus caminhos. 4Tu nos encarregaste de seguir fielmente tuas ordens. 5Meu grande desejo é que minhas ações sempre reflitam teus decretos. […]
Portanto, o Salmo 119 não é apenas uma meditação sobre a importância da Bíblia. Ele é oração. É fé em voz alta. É o transbordar de alguém que foi alcançado pela Palavra e responde a Deus com prazer, necessidade, adoração, confissão e esperança. Tudo isso em oraçao. Neste salmo, Davi não fala apenas sobre a Palavra, mas ao Deus da Palavra. Não apenas estuda um tema, mas clama: “Senhor, Tu falaste. Tu agiste. Eu preciso de Ti. Cumpre o que prometeste. Eu Te amo.”
David Powlison escreveu assim: “O Salmo 119 é o clamor refletido que nasce quando a vida real encontra o Deus real [— na revelação das Escrituras].”
As bênçãos que fluem da palavra de Deus
A terceira lição que este salmo nos ensina é sobre as bênçãos que fluem da palavra de Deus. A primeira palavra do Saltério é “Como são felizes” — ou, em outras traduções, “Bem-aventurado”. E o Salmo 119 ecoa esse mesmo início, do começo ao fim. Ele nos mostra que as bênçãos divinas não são teóricas, mas experimentadas no contato vivo e diário com a Palavra. Entre elas, encontramos:
Eis o privilégio dos crentes: enquanto o mundo busca apenas recursos humanos, nós temos a Palavra como remédio e consolo.
A Bíblia desperta amor a Deus
Quinto, este salmo ensina que a Bíblia desperta amor a Deus. A Escritura não é apenas fonte de doutrina e conduta, mas também de comunhão. E da comunhão brota o afeto. O salmista irrompe repetidas vezes em expressões de amor (v. 97: “Como eu amo a tua lei; penso nela o dia todo!”; v. 113: “Odeio pessoas inconstantes, mas amo a tua lei”; v. 127: “Por isso amo teus mandamentos, mais que o ouro, mais que o ouro puro”; v. 159: “Vê, SENHOR, como eu amo tuas ordens; restaura minha vida por causa do teu amor”).
Esse amor se manifesta de duas formas principais:
Se Davi, — o salmista de Israel, — encontrou tal deleite na “lei”, quanto mais nós, que temos a plena revelação de Jesus Cristo no Novo Testamento (Hb 1.1-2)!
Cristo é a revelação perfeita do Pai. “Ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” — disse Jesus em Mateus 11.27. E completou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também meu Pai” (Jo 14.6-7).
Em Cristo, todas as promessas de Deus encontram o seu “sim” e o seu “amém.” Ele é a garantia viva do cumprimento fiel da aliança (2Co 1.20).
Cristo, em sua obra de redenção, conquistou para nós liberdade, luz e vida.
Liberdade: “Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão, de fato, livres” (Jo 8.36).
Luz: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
E vida: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10.10); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25).
Nele temos estabilidade inabalável. “Estou convencido de que nem morte nem vida […] nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39).
Cristo é também o nosso único consolo, na aflição, na vida e na morte. Como declara Paulo: “Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8). E ele acrescenta: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações” (2Co 1.3-4).
Por fim, somente Cristo satisfaz plenamente os nossos anseios e nos enche com alegria eterna. “Na tua presença há plenitude de alegria; à tua direita, delícias perpetuamente” (Sl 16.11). E Jesus declara: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35).
Renda-se a Cristo, nesta noite. Entregue-se a ele com fé humilde e coração sincero.
Comprometa-se a buscá-lo diariamente, por meio da leitura da Palavra e da oração. É assim que ele se revela — àqueles que o buscam de todo o coração.
E venha conhecê-lo mais profundamente, ao longo desta jornada no Salmo 119. Passo a passo, verso a verso, seremos guiados pela luz da sua verdade.
Eis uma prévia dos próximos capítulos…
Série: Lâmpada para os pés e luz para o caminho
Senhor nosso Deus e Pai,
E agora, ao se prepararem para voltar ao mundo com a mensagem do evangelho, esta é minha súplica a Deus em favor de vocês:
Hebreus 13.20-21
Que o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, aperfeiçoe vocês em todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em vocês o que é agradável diante dele, por meio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!
S.D.G. L.B.Peixoto.
Mais Sermões
Mais Séries
Salmo 119 – Lâmpada Para os Pés e Luz Para o Caminho
Pr. Leandro B. Peixoto