

30.11.2025
Salmo 119.57-64 (NVT)
ח Hệt
57SENHOR, tu és minha herança;
prometo obedecer às tuas palavras!
58Busco teu favor de todo o coração;
tem misericórdia de mim, como prometeste.
59Refleti sobre o rumo de minha vida
e resolvi seguir teus preceitos.
60Eu me apressarei e, sem demora,
obedecerei a teus mandamentos.
61Os perversos tentam me arrastar,
mas não me esquecerei de tua lei.
62Levanto-me à meia-noite para te dar graças
por teus justos estatutos.
63Sou amigo de todos que te temem,
dos que obedecem às tuas ordens.
64Ó SENHOR, o teu amor enche a terra;
ensina-me teus decretos.
Atenas, 399 a.C. O sol do Mediterrâneo bate sobre o tribunal onde 500 jurados acabaram de tomar uma decisão fatal. Diante deles está um homem de 70 anos, vestido com simplicidade, mas com um olhar que penetra a alma. Seu nome é Sócrates.
Ele foi julgado e condenado. As acusações? Corromper a juventude e desrespeitar os deuses da cidade.
Chega então o momento dramático em que a pena deve ser fixada. A acusação pede a morte. A multidão espera que o velho filósofo implore por misericórdia, que sugira o exílio ou pague uma multa. Se ele apenas prometesse ficar em silêncio e parar com suas perguntas incômodas, viveria.
Mas Sócrates recusa o silêncio. Ele argumenta que uma existência passiva, onde apenas comemos, dormimos e respiramos sem entender o porquê, não é digna do ser humano. Ele recusa o suicídio da mente para preservar o corpo. É neste momento de tensão suprema, encarando a morte, que ele crava a sentença que definiria o Ocidente:
Se eu disser que o maior bem para um homem é conversar todos os dias sobre a virtude… examinando a mim mesmo e aos outros, e que a vida não examinada não vale a pena ser vivida, vós não acreditareis em mim. (Apologia, 38a)
Diante da oferta de viver uma vida muda, Sócrates escolheu a cicuta — o cálice de veneno. Preferiu a morte física a viver sem buscar a Verdade, entendendo que uma vida sem exame é apenas decomposição biológica.
Hoje, o homem também fala de “exame”, mas trocou a rocha da Razão pelo pântano da Emoção. Ele substituiu a busca pela “Virtude” pela obsessão com a “Autenticidade”. Seu deus não é a Verdade externa, é o “arrepio” interno. Ele não pergunta se é certo, mas se “sente bem”. É a ditadura das glândulas.
Ambos — o grego e o moderno — estão trancados na clausura do EU humano. Mas Davi, no Salmo 119.59, olha para fora e para cima: “Refleti [ou: examinei] sobre os meus caminhos e voltei os meus passos para os teus testemunhos”.
Sócrates tinha a vela da razão humana (insuficiente). O Moderno tem a escuridão dos próprios desejos (suicida). Davi tem o Holofote da Revelação Divina (luz e vida).
Davi não obedece por dever mórbido, mas por prazer estratégico. Ele descobriu que a Palavra não é uma jaula, mas o mapa do Tesouro. Ele pisa no freio porque sabe que o maior perigo não é o ateísmo, é o sonambulismo espiritual — viver e morrer no “piloto automático” sem nunca provar a Glória.
Nesta noite, aplicaremos esse bisturi através de três movimentos lógicos extraídos do texto: A Definição, A Ação e A Afeição. Cada um com três perguntas a serem respondidas.
Vamos, então, à primeira tríade:
57SENHOR, tu és minha herança;
prometo obedecer às tuas palavras!
58Busco teu favor de todo o coração;
tem misericórdia de mim, como prometeste.
Iniciamos o exame pelo alicerce. Antes de dar o primeiro passo, Davi define sua identidade, sua autoridade e seu combustível.
ELE COMEÇA PELO MAIOR BEM: a lógica do investidor (v. 57a): “O SENHOR é a minha porção.”
Davi responde com um golpe no materialismo. No hebraico, a palavra Cheleq [ou: porção] tem cheiro de terra molhada. Ela remete à divisão de Josué, quando cada tribo recebeu seu lote imobiliário — seu capital, sua segurança. Mas houve uma exceção: a tribo de Levi. Eles ficaram de mãos vazias de terra para terem as mãos cheias de Deus. O Senhor disse: “Eu sou a sua porção”.
O choque aqui é que Davi era da tribo de Judá. Ele era Rei. Ele tinha terras e palácios. Mas espiritualmente, ele assume a postura de um levita. Ele olha para todo o seu patrimônio real e diz: “Isso é cascalho. O meu verdadeiro ativo, a substância que sustenta a minha alma, não é o palácio ou o trono de Israel; é o Deus de Israel”.
Essa é a mesma lógica de Jesus na Parábola do Tesouro Escondido. O homem vende tudo o que tem “transbordante de alegria”. O mundo chama isso de “sacrifício”; Jesus chama de “grande negócio”. O cristão não deixa o pecado porque sua força de vontade é grande, mas porque seu apetite por Deus é maior. A santidade não é a ausência de desejo; é a presença de um Desejo Superior que torna o pecado uma moeda desvalorizada.
DAVI PROSSEGUE. Ele fala agora de um prazer estratégico (v. 57b): “Prometo obedecer às tuas palavras!”
Se o Senhor é o Tesouro, quem segura o mapa? O slogan do século é “Meu corpo, minhas regras”. É o grito da autonomia. Mas isso é uma ilusão infantil. Como Bob Dylan cantou, “você vai ter que servir a alguém”. Se não serve a Cristo, você serve à tirania dos seus desejos, à ditadura das suas glândulas ou ao medo da plateia. O “Eu” é um senhor cruel.
Mas Davi nos mostra a saída através de uma lógica de ferro: Porque Deus é a minha herança, portanto, eu obedeço.
Por que ele se submete à lei? Não é para comprar o céu. É por prazer estratégico.
Pense comigo: Se você herda uma fortuna de bilhões, mas o banco exige uma senha complexa para o saque, você achará essas regras “pesadas”? Não! Você amará a senha. Você obedecerá a cada vírgula do protocolo. Por quê? Porque você ama o Tesouro! Sabe que é para a sua segurança — e desfrute. A obediência à Bíblia deixa de ser um dever religioso chato e torna-se a atitude lógica de quem não quer perder a maior alegria do universo.
O PASSO SEGUINTE DE DAVI mostrará de onde vem a sua força. Ela vem da face de Deus, não de suas próprias mãos (v. 58) “Busco teu favor [ou: tua face] de todo o coração.”
Aqui está o colapso da arrogância. No versículo 57, Davi estufa o peito e promete obedecer. No versículo 58, ele cai de joelhos e implora misericórdia. Por quê? Porque ele sabe que sua “força de vontade” é um motor que funde na primeira subida. Prometer obediência sem suplicar graça é suicídio espiritual.
Primeiro, porque será impossível.
Segundo, porque não passará de justiça própria.
Então eu te pergunto:
Na segunda-feira de manhã, o que te tira da cama? É o medo? A vaidade? A raiva? Esses combustíveis geram burnout.
Davi nos ensina a distinção vital: o religioso busca a mão de Deus (o produto, a bênção); o cristão hedonista busca a face de Deus (a Presença). Davi clama por misericórdia “segundo a tua promessa” (v. 58). Ele não baseia sua oração na sua performance, mas na fidelidade de Deus. Você não trabalha para ser aceito; você trabalha porque foi aceito. A graça não é o prêmio pela obediência; a graça é o combustível da obediência.
Então… Para Davi, o maior bem da vida é o SENHOR, quem tem autoridade sobre ele é a palavra de Deus e o que da a ele força para viver é a graça divina.
Mas ele prossegue.
Vejamos como ele lidará com as perguntas seguintes.
59Refleti sobre o rumo de minha vida
e resolvi seguir teus preceitos.
60Eu me apressarei e, sem demora,
obedecerei a teus mandamentos.
61Os perversos tentam me arrastar,
mas não me esquecerei de tua lei.
Com a identidade definida, Davi sai da teoria para o asfalto. Aqui encontramos a geografia da obediência em três movimentos:
PRIMEIRO: O fim do sonambulismo. Davi pisa no freio. Versículo 59 (NAA): “Penso nos meus caminhos e volto os meus passos para os teus testemunhos.”
O verbo “pensar” ou “refletir” (Hishav) sugere um cálculo contábil. Ele olha para o saldo da sua vida e percebe que o pecado é um investimento falido, um caminho de morte. Mas ele não apenas “pensa”; ele “volta os pés”. É um movimento de conversão. É uma guinada moral e física, urgente e violenta para bem longe do abismo e em direção ao Tesouro: Jesus Cristo.
SEGUNDO: A pressa do apetite. Davi agora acelera. Versículo 60 (NAA) : “Apresso-me, não me demoro a praticar os teus mandamentos.”
Quem ama, corre. A demora em obedecer é a prova de que você não vê valor no comando. Se lhe dissessem que há um baú de ouro esperando por você, você não caminharia; você dispararia. Davi tem pressa porque tem fome. A obediência dele não é um arrastar de correntes, é uma corrida para o Banquete.
TERCEIRO: A pressão externa. Davi resiste. Versículo 61 (NAA): “Laços de perversos me cercam, mas não me esqueço da tua lei.”
Quando os “laços de perversos” tentam estrangular sua fé e a cultura o pressiona a ceder, o que o sustenta? Quando sua própria carne tenta laçar você, o que o mantém em pé? A memória. Davi deu a dica: “Laços de perversos me cercam, MAS não me esqueço da tua lei.”
A lei de Deus não é um fardo nas costas; é a estrutura de aço na coluna vertebral. A pressão externa não o esmaga porque o Prazer interno é mais denso.
Mas, meus irmãos, aqui reside um perigo mortal. Se pararmos na Segunda Tríade — a tríade da pressa e da resistência, a tríade da ação —, corremos o risco de nos tornarmos meros estoicos. Corremos o risco de sermos soldados que sabem marchar, sabem lutar e sabem apertar os dentes contra o pecado, mas que esqueceram o gosto da vitória.
Uma religião feita apenas de “esforço” e “não esquecer a lei” eventualmente seca. O motor da vontade funde sem o óleo da alegria. Ninguém consegue dizer “não” ao pecado para sempre se não tiver um “sim” mais saboroso queimando no peito.
É por isso que Davi não para no versículo 61. A obediência dos pés (que se convertem ao SENHOR, que correm para os mandamentos) precisa transbordar para a obediência dos lábios (que cantam louvores). Davi sai da geografia da batalha para a geografia do banquete.
Entremos, então, na última sala deste exame.
62Levanto-me à meia-noite para te dar graças
por teus justos estatutos.
63Sou amigo de todos que te temem,
dos que obedecem às tuas ordens.
64Ó SENHOR, o teu amor enche a terra;
ensina-me teus decretos.
Finalmente, a obediência deixa de ser uma tarefa e torna-se uma fome. A religião do “dever” cumpre regras e ainda vai dormir com a consciência pesada. A religião do “deleite” perde o sono porque está fascinada.
Aqui estão as três últimas sondas para o seu coração:
A resposta à PRIMEIRA PERGUNTA — “Pelo que você é grato?” — revela o paladar. Observe, versículo 62 (NAA): “No meio da noite eu me levanto para te dar graças, por causa dos teus retos juízos.”
Pense na biologia disso. O sono é uma das necessidades mais tirânicas do corpo. Quando estamos exaustos, a cama é um ídolo, e dormir é o culto. Mas Davi quebra essa tirania biológica.
Ele acorda no escuro, no frio da madrugada e sai da cama quentinha. Por quê? Para pedir livramento? Não. Para chorar suas mágoas? Não. Ele acorda para agradecer. E note: ele não agradece porque ganhou uma batalha ou um tesouro novo. Ele agradece pelos “retos juízos” de Deus.
O sabor da santidade de Deus é tão doce no paladar de Davi que ele prefere degustar a Glória a descansar o corpo.
Você só agradece a Deus quando ele lhe dá o “bônus” (saúde, dinheiro, resposta)? Ou você agradece pelo que ele é — pelo que você está conhecendo dele na Palavra?
A gratidão que quebra o sono é a prova de que Deus deixou de ser um acessório, um mero fornecedor ou operador de bênçãos na sua vida e se tornou o evento principal, o grande Tesouro.
A resposta à SEGUNDA PERGUNTA — “Com quem você anda?” — não revela apenas sua agenda social; revela sua essência. Observe, versículo 63 (NAA): “Companheiro sou de todos os que te temem e dos que guardam os teus preceitos.”
O ditado popular é teologicamente cirúrgico: “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Isso é puro Salmo 1 . Não existe mesa neutra: ou você tem prazer na lei do SENHOR (e caminha com os justos) ou você acaba sentado na roda dos escarnecedores. Ou suas companhias te elevam à adoração, ou elas te arrastam para o cinismo.
Agostinho de Hipona, em suas Confissões, expõe a anatomia perversa das amizades sem Deus. Ele admite que, na juventude, cometia pecados não tanto pelo prazer do ato, mas pelo prazer do aplauso. Ele escreve:
Eu me envergonhava de ser menos perverso do que os outros… Gostava de cometer desordens para agradar aos companheiros.
Veja a loucura do pecado: a pressão do grupo fazia Agostinho ter vergonha da virtude! Ele arrastava amigos para o erro e era arrastado por eles, numa solidariedade suicida.
O homem moderno faz networking. Ele busca pessoas que lhe deem lucro, status ou vantagem. Gente que afaga seu ego. É uma transação comercial ou mesmo carnal. Davi, não! Ele faz Aliança. Ele diz: “Se você teme a Deus, você é minha família”.
Se você ama o Tesouro, você caçará com outros caçadores de tesouro. A física espiritual é implacável: brasas juntas viram fogueira; a brasa isolada, por mais quente que seja, vira cinza fria e morre.
A resposta à TERCEIRA PERGUNTA — “O que enche os seus olhos?” — revela o que governa o coração. Observe, versículo 64 (NAA): “A terra, SENHOR, está cheia da tua bondade; ensina-me os teus decretos.”
Os olhos de Davi revelam onde está seu coração: em Deus. O materialista olha para a terra e vê recursos, vê caos ou vê tédio. Davi olha para a mesma terra e a vê encharcada de Hesed — o amor leal de Deus. Mas note o pedido estranho que ele faz logo em seguida: “Ensina-me os teus decretos”.
Por que pedir para ser ensinado se ele já vê o amor leal? Porque ele quer mais. Ele quer que a Palavra seja a lente que aumenta o foco dessa glória.
E aqui precisamos resgatar a teologia da brasa viva. Quando Davi pede “ensina-me”, ele não está pedindo uma aula de teologia fria. Ele não quer apenas encher o caderno de anotações intelectuais. Lembrem-se neste ponto dos discípulos no caminho de Emaús, em Lucas 24.32. Quando Jesus lhes “ensinava” e “expunha as Escrituras”, o resultado não foi apenas entendimento mental. Eles disseram (ARA):
Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?
Davi está pedindo essa combustão! “Senhor, ensina-me a tua lei de tal forma que meus ossos peguem fogo e meu coração se abrase! Abre os meus olhos para a tua beleza até que o pecado se torne cinza na minha boca!
O estudo da Bíblia não serve para te fazer um “sabichão” religioso ou teólogo de redes sociais. Serve para incendiar o seu afeto. Nós lemos para ver; vemos para amar; e amamos para viver eternamente satisfeitos em Jesus Cristo.
Ao percorrermos a estrofe de Hệt, percebemos que o verdadeiro autoexame exige olhos fixos em Cristo. Tudo o que Davi confessa, Jesus encarna.
Portanto, afirmar que “Cristo é o Tesouro” é uma mudança brutal na sua agenda de amanhã cedo. Sim, pois a pergunta inevitável é : Onde este exame fere a sua carne?
Talvez seja no uso fútil do tempo, no vício digital, no peca-do de estimação ou no orgulho relacional. Qualquer que seja o ponto, o caminho é o mesmo: alinhar a vida à voz de Cristo, não pela força do braço, mas pela força que ele concede.
Não caminhe sozinho. Quem toma Cristo como Tesouro busca outros caçadores de tesouro. E transforme o exame em hábito de graça, disciplina espiritual mesmo. Quem encontrou a Pérola de Grande Valor não trata a disciplina espiritual como peso, mas como o meio pelo qual a alegria é renovada.
Dê um passo hoje mesmo. Cristo não apenas examina; ele transforma. Todo aquele que toma a Cristo como sua Porção encontra a força que não se esgota e a satisfação que não termina.
Senhor nosso Deus e Pai, Tu és a nossa Herança e a nossa Porção (v.57). Em Cristo, temos tudo e não nos falta nada. Prometemos guardar a Tua Palavra, mas reconhecemos nossa fraqueza; por isso, buscamos a Tua face: Tem misericórdia de nós (v.58), conforme a Tua promessa selada na cruz.
Consideramos os nossos caminhos, Senhor, e hoje voltamos os nossos pés para os Teus testemunhos (v.59). Dá-nos urgência! Que nos apressemos e não demoremos obedecer (v.60). Mesmo que os laços dos perversos nos cerquem e o mundo tente nos arrastar, não nos esqueceremos da Tua Lei (v.61), pois ela é a nossa vida.
Desperta-nos, ó Pai. Que a nossa gratidão seja maior que o nosso sono, para Te louvarmos até nas vigílias da noite pelos Teus justos juízos (v.62). Cimenta a nossa comunhão: declaramos que somos companheiros de todos os que Te temem (v.63). Dá-nos amizades santas que fortaleçam a nossa fé.
A terra está cheia do Teu amor leal (v.64)! Abre os nossos olhos para vermos a glória de Cristo em tudo. Ensina-nos os Teus decretos, não apenas para informar a nossa mente, mas para incendiar o nosso coração.
Em nome d e Jesus, o Verbo Vivo, nós oramos.
Amém.
S.D.G. L.B.Peixoto.
Mais Sermões
Mais Séries
Examine a si mesmo
Pr. Leandro B. Peixoto