09.03.2025
[Nesta ocasião, examinaremos Levítico 27, o último capítulo do livro. Para começarmos, convido vocês a lerem comigo os dois primeiros e o último versículo do capítulo:]
Levítico 27 (NVT)
1O SENHOR disse a Moisés: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Se alguém fizer um voto especial de dedicar […]
34Esses são os mandamentos que o SENHOR deu aos israelitas por meio de Moisés no monte Sinai.
“Há apenas um problema em se fazer uma promessa: mantê-la”, escreveu sabiamente Kenneth Matthews. Isso é especialmente verdadeiro em nossos dias, uma vez que cumprir uma promessa já não tem a mesma importância de outrora.
Houve um tempo em que as palavras tinham mais valor; nessa época, votos, alianças e promessas eram como ouro. Hoje, porém, essas coisas perderam seu preço. E, para piorar tudo, sem elas, não há casamento, família, igreja ou nação, pois cada uma dessas instituições depende de serem cumpridos votos e promessas.
Sem aliança — que é o mesmo que voto ou promessa —, não há sequer relacionamento com Deus. Por isso, o último capítulo de Levítico se torna tão importante: Levítico 27 trata de votos e promessas de dedicação ao SENHOR.
O livro abordou os sacrifícios (1–7), o sacerdócio (8–10), a pureza (11–15) e a expiação (16) e poderia ter sido concluído nas alturas morais do código de santidade (17–26).
O capítulo 27, portanto, pode surgir como uma surpresa. Afinal, ele parece tão inspirador quanto uma planilha de gastos, pois lista a dedicação de pessoas, animais, casas, propriedades familiares e dízimos da terra. Olhando de relance, o capítulo anterior realmente parece melhor para uma conclusão do livro de Levítico. Leia os últimos versículos de Levítico 26, que poderiam muito bem ser os finais desta obra:
Levítico 26.45-46 (NVT)
45Em favor deles, eu me lembrarei da antiga aliança que fiz com seus antepassados, os quais tirei da terra do Egito diante dos olhos de todas as nações, para ser o Deus deles. Eu sou o SENHOR.
46Esses são os decretos, os estatutos e as instruções que o SENHOR estabeleceu entre ele próprio e os israelitas por meio de Moisés no monte Sinai.
Já Levítico 27 termina de forma mais contábil. Leia:
Levítico 27.30-34 (NVT)
30“A décima parte dos produtos da terra, sejam os cereais dos campos ou os frutos das árvores, pertence ao SENHOR e deve ser consagrada a ele. 31Se você desejar comprar de volta a décima parte dos cereais ou frutos pertencente ao SENHOR, pagará o seu valor, mais um quinto do valor. 32Conte um de cada dez animais do seu gado e dos seus rebanhos e separe-os para o SENHOR, considerando-os santos. 33Não faça distinção entre animais bons e ruins nem substitua um pelo outro. Mas, se trocar um animal por outro, tanto o primeiro como o seu substituto serão considerados santos e não poderão ser comprados de volta”.
34Esses são os mandamentos que o SENHOR deu aos israelitas por meio de Moisés no monte Sinai.
E então, faz sentido ou não perguntar: por que este capítulo é necessário? Essas questões já não foram, de alguma forma, abordadas anteriormente?
Andrew Bonar (1810–1892), amigo próximo de Robert Murray M’Cheyne (1813–1843) — responsável por compor um dos mais conhecidos planos de leitura anual da Bíblia —, Bonar escreveu um comentário sobre o livro de Levítico que Spurgeon descreveu como “muito precioso”. Ao contrário da maioria dos estudiosos, Bonar reconheceu a importância de Levítico 27 como um desfecho essencial do livro. Ele observou que, embora muitos considerem esse capítulo deslocado, sua conexão com os anteriores é evidente, pois estabelece um vínculo profundo de sentimento entre Deus e seu povo. Veja:
Os capítulos anteriores (1–26) revelam o coração e a vontade de Deus para o seu povo: eles devem se aproximar dele por meio dos sacrifícios (1–7) oferecidos pelo sumo sacerdote (8–10), manter-se puros (11–15), ter seus pecados expiados (16) e viver em santidade (17–26).
O capítulo 27, por sua vez, trata da resposta do povo, que expressa sua devoção ao SENHOR de maneira voluntária e plena — não apenas por obrigação ou mera obediência às exigências da aliança. A razão para isso é simples: quem ama sente alegria em dar. Não se restringe a ocasiões formais, como aniversários ou festividades, mas é movido pelo amor a ofertar espontaneamente, com generosidade.
PORTANTO, tendo Deus revelado as boas novas de sua lei a Israel (caps. 1–26), será que o povo de Deus não desejaria responder com fé e adoração, cheios de gratidão (cap. 27), perguntando-se — nas palavras de Salmos 116.12 (ARA): “Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo?” Ora, nada menos que uma consagração total de fé pode responder adequadamente a essa legítima indagação. O próprio Salmo continua (Sl 116.13-14, ARA):
Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do SENHOR. Cumprirei [com fé, com a fé de quem invoca o nome do SENHOR… cumprirei com fé…] os meus votos ao SENHOR, na presença de todo o seu povo.
LEVÍTICO SE ENCERRA COM O TEMA DOS VOTOS porque, ao longo de todo o livro, Deus reafirmou suas promessas ao seu povo. Pela aliança que havia estabelecido, o SENHOR — o Criador dos céus e da terra, o Deus da aliança com Abraão, Isaque e Jacó, Aquele que libertou Israel do Egito e que, pela mediação de Moisés, lhes entregou a lei no Sinai… esse Deus — comprometeu-se a habitar no meio deles, desde que vivessem segundo as suas estipulações: oferecendo sacrifícios de sangue por meio do sumo sacerdote, vivendo em pureza, lavados pelo sangue e em santidade, seguindo as instruções do SENHOR.
Uma vez que Deus permaneceu fiel em todas as instâncias do seu voto, a pergunta que naturalmente surge é: COMO VOCÊS RESPONDERÃO A DEUS?
Embora Levítico 27 contenha vários aspectos que não se aplicam diretamente à vida cristã, sua mensagem permanece válida. E essa é uma mensagem à qual precisamos estar atentos, especialmente diante da facilidade com que, nos dias de hoje, tendemos a quebrar ou “ressignificar” nossos votos, nossas promessas de dedicação e nossos compromissos com Deus.
Como veremos, os tópicos deste capítulo incluem a fé que se comprova pela dedicação de vidas e bens ao serviço do SENHOR. Afinal, a fé sem obras é morta.
Leia comigo, a seguir, o texto de Tiago. Observe como ele evidencia que tudo é pela fé, mas uma fé viva, que se manifesta em ações de amor e dedicação. É exatamente disso que trata Levítico 27. Leia com atenção, Tiago 2.14-26 (NVT):
14De que adianta, meus irmãos, dizerem que têm fé se não a demonstram por meio de suas ações? Acaso esse tipo de fé pode salvar alguém? 15Se um irmão ou uma irmã necessitar de alimento ou de roupa, 16e vocês disserem: “Até logo e tenha um bom dia; aqueça-se e coma bem”, mas não lhe derem alimento nem roupa, em que isso ajuda?
17Como veem, a fé por si mesma, a menos que produza boas obras, está morta.
18Mas alguém pode argumentar: “Uns têm fé; outros têm obras”. Mostre-me sua fé sem obras e eu, pelas minhas obras, lhe mostrarei minha fé!
19Você diz crer que há um único Deus [ou: que Deus é um só]. Muito bem! Até os demônios creem nisso e tremem de medo. 20Quanta insensatez! Vocês não entendem que a fé sem as obras é inútil?
21Não lembram que nosso antepassado Abraão foi declarado justo por suas ações quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? 22Como veem, sua fé e suas ações atuaram juntas e, assim, as ações tornaram a fé completa. 23E aconteceu exatamente como as Escrituras dizem: “Abraão creu em Deus, e assim foi considerado justo” [Gn 15.6]. Ele até foi chamado amigo de Deus [Is 41.8]! 24Vejam que somos declarados justos pelo que fazemos, e não apenas pela fé.
25Raabe, a prostituta, é outro exemplo. Ela foi declarada justa por causa de suas ações quando escondeu os mensageiros e os fez sair em segurança por um caminho diferente. 26Assim como o corpo sem fôlego [ou: sem espírito] está morto, também a fé sem obras está morta.
Levítico 27 é sobre a fé que se dedica a produzir boas obras para a glória de Deus e o bem do próximo, e pode ser dividido em duas partes: (1) versículos 1–25: a provisão que Deus faz; e (2) versículos 26–34: a restrição que Deus impõe. E essa divisão nos conduz à conclusão sobre a dedicação que Deus deseja.
1O SENHOR disse a Moisés: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Se alguém fizer um voto especial de dedicar […]
Uma das formas de consagração era o adorador dedicar algo que possuía, dar algo que era seu ao SENHOR, para que ficasse à sua disposição e fosse utilizado em seu serviço. Uma vez feita essa oferta — fosse a vida de alguém, um animal, o fruto da terra ou um patrimônio —, na prática, poderia ser mais benéfico atribuir um valor monetário ao que foi dedicado e, em vez da oferta em si, entregar aos sacerdotes o valor correspondente à sua redenção. O capítulo inteiro, portanto, será sobre esse tipo de dedicação.
A seção principal de Levítico 27 — vs. 1-25 — apresenta a provisão que Deus faz para a redenção de pessoas ou propriedades que haviam sido prometidas como forma de dedicação a ele.
1) A dedicação de pessoas (vs. 1-8)
1O Senhor disse a Moisés: 2“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Se alguém fizer um voto especial de dedicar uma pessoa ao Senhor mediante o pagamento do valor dessa pessoa, 3deve usar a seguinte escala de valores. [RESUMINDO:]
Em Israel, uma pessoa podia fazer um voto ao SENHOR, dedicando-lhe a si próprio ou um membro da família. Esse compromisso implicava serviço no santuário. No entanto, como os não levitas não podiam servir no templo, era possível ser liberado desse serviço mediante um pagamento ao santuário. Esses versículos estabelecem uma tabela de valores para esse pagamento, possivelmente baseada nos preços habituais de servos.
A consagração de Samuel por Ana é um exemplo marcante desse tipo de dedicação (1Sm 1.1-28). Em gratidão por ter o SENHOR ouvido sua oração, Ana entregou seu filho para servir no templo sob a direção de Eli. Vale ressaltar que Samuel era descendente de Levi, especificamente da família de Coate. Ele era filho de Elcana, cuja linhagem até Levi é traçada em 1Crônicas 6.16-28. Isso significa que Samuel, por direito, poderia servir no tabernáculo, pois os levitas tinham a responsabilidade de auxiliar os sacerdotes nas tarefas sagradas.
Contudo, nem todos eram da linhagem de Levi e, portanto, não podiam servir no santuário. Além disso, mesmo entre os descendentes de Levi, nem sempre seria prático que todas as pessoas consagradas a Deus servissem diretamente ao lado dos sacerdotes, pois o templo poderia ficar superlotado.
Por essa razão, foram estabelecidos arranjos para que o valor da pessoa consagrada fosse calculado e o dinheiro correspondente apresentado aos sacerdotes como forma de redenção.
Os valores variavam conforme aspectos culturais, econômicos e práticos da sociedade israelita. Homens adultos entre 20 e 60 anos tinham o maior valor, pois eram os principais trabalhadores e provedores na estrutura agro-pastoril. Mulheres, crianças e idosos tinham valores menores devido à menor força braçal e menor participação em trabalhos físicos intensos.
A sociedade dependia da força produtiva dos homens, enquanto as mulheres, apesar de desempenharem papéis essenciais, tinham menor envolvimento em atividades que exigiam vigor físico. Crianças e idosos possuíam valores reduzidos porque dependiam dos outros para sustento. Além disso, mulheres (devido aos riscos do parto), crianças e idosos tinham uma expectativa de vida menor.
Se alguém não pudesse pagar, o sacerdote ajustaria a quantia conforme a condição financeira do ofertante (v. 8). Isso demonstra que o propósito não era arrecadar dinheiro, mas garantir que todos pudessem expressar sua devoção de maneira justa e acessível. Embora esses valores possam parecer desiguais aos olhos modernos, refletiam a estrutura social da época, baseada no trabalho e na capacidade de contribuição nas atividades agro-pastoris, sem medir o valor intrínseco das pessoas.
2) A dedicação de animais (vs. 9-13)
Se a dedicação assumisse a forma de um animal, vários fatores eram considerados. Primeiramente (Lv 27.9-10), os adoradores eram desencorajados a fazer votos precipitados e depois se arrependerem. Quem prometesse um animal perfeito não poderia substituí-lo por um inferior ao perceber sua impulsividade. Para evitar essa prática, foi estabelecida uma regra simples: quem tentasse a troca perderia tanto o animal original quanto o substituto.
Como se tratava de uma oferta voluntária, animais cerimonialmente impuros eram aceitáveis (Lv 27.11-12). Embora não servissem para sacrifício, poderiam ser utilizados para outras funções no tabernáculo, como transporte e carga.
Muitas vezes, porém, o ofertante preferia contribuir com dinheiro em vez de entregar o próprio animal, ou se arrependia de ter dado o animal. Nesses casos, o sacerdote avaliava seu valor, e o ofertante pagava a quantia determinada, acrescida de um quinto do total (20%) como preço de redenção (Lv 27.13). Os sacerdotes atuavam como árbitros nesse processo, e suas decisões eram definitivas.
3) A dedicação de casas (vs. 14-15)
A dedicação de casas mencionada em Levítico 27.14-15 refere-se às casas localizadas em cidades, não às propriedades familiares herdadas (suas terras), que eram protegidas pelas leis do Jubileu (Lv 25.25-34). Se alguém consagrasse uma casa ao SENHOR, ela poderia ser utilizada pelos sacerdotes conforme necessário.
Caso o doador quisesse resgatá-la posteriormente, aplicava-se o mesmo princípio válido para os animais: o sacerdote avaliaria seu valor, e o doador teria que pagar essa quantia acrescida de 20% como taxa de resgate. Esse acréscimo reforçava o compromisso da consagração e evitava que o ato fosse feito impulsivamente.
4) A dedicação de propriedades familiares (vs. 16-25)
Quando uma terra herdada era dedicada ao SENHOR por um voto (Lv 27.16-21), seu valor era calculado com base na produção potencial e no tempo restante até o ano do Jubileu, quando retornaria ao proprietário original. O doador poderia resgatá-la mediante pagamento, mas, caso não o fizesse, no Jubileu a terra seria transferida permanentemente aos sacerdotes (uma vez que a terra era de propriedade familiar, não havia sido comprada).
No caso de uma terra adquirida (Lv 27.22-25), também era possível dedicá-la ao SENHOR. Seu valor era avaliado pelo sacerdote e pago por quem fez o voto. Contudo, no ano do Jubileu (no quinquagésimo ano de sua posse como arrendatário, cf. Lv 25), a terra retornaria ao seu proprietário original (a família proprietária de origem).
Esse princípio reflete a teologia da posse da terra em Israel: a terra pertencia ao SENHOR, e os israelitas eram apenas seus administradores ou arrendatários (Lv 25.23). As leis garantiam que as terras herdadas permanecessem dentro das famílias, evitando perdas definitivas e protegendo a estrutura econômica. O resgate com acréscimo desestimulava votos impulsivos, e a transferência aos sacerdotes reforçava o compromisso da consagração. No caso das terras compradas, a restituição ao dono original no Jubileu preservava o equilíbrio social e impedia a concentração de propriedades. Essas regras asseguravam justiça econômica, administração responsável e fidelidade ao SENHOR.
Levítico 27, do início ao fim, expressa um certo receio quanto às ofertas voluntárias a Deus. Emoções religiosas intensas podem levar a promessas impulsivas, das quais a pessoa pode se arrepender depois. Além disso, a devoção genuína pode dar lugar à ostentação, onde gestos extravagantes são feitos mais para impressionar os outros — ou a si mesmo — do que para glorificar a Deus.
Nem toda extravagância é errada. Algumas expressam gratidão sincera, como a mulher que ungiu os pés de Jesus com perfume caro (Lc 7.36-50). No entanto, quando realizados publicamente, sem a devida contrição, esses gestos podem se tornar demonstrações vazias.
Um exemplo dessa “espiritualidade de barganha” era a prática de contar uma oferta duas vezes, apresentando a Deus algo que já lhe pertencia como se fosse uma nova doação. A segunda parte de Levítico 27 (vs. 26-34) estabelece limites para evitar essa devoção superficial e sem custo real, destacando três áreas nas quais Deus já possuía direitos: 1) os primogênitos dos animais, que já eram consagrados a ele (vs. 26-27); 2) aquilo ou aqueles já dedicados ao SENHOR ou marcados como apóstatas (vs. 28-29); e 3) o dízimo da terra e de animais, que lhe pertencia por direito (vs. 30-33).
1) Restrições quanto aos primogênitos (vs. 26-27)
O animal primogênito já era consagrado ao SENHOR por direito (Êx 13) e, portanto, não poderia ser oferecido como um voto, pois não era uma escolha voluntária, mas uma obrigação. Da mesma forma, o dízimo não podia ser apresentado como oferta, pois já pertencia a Deus.
Dízimo é dízimo; oferta é oferta. A oferta é algo além do dízimo, uma expressão voluntária de fé que expressa devoção e gratidão, enquanto o dízimo representa o reconhecimento do senhorio de Deus sobre tudo o que o adorador possui.
2) Restrições quanto às coisas dedicadas (vs. 28-29)
A dedicação total ao SENHOR (v. 28) era uma forma mais intensa de voto, na qual a pessoa ou objeto consagrado era entregue sem reservas a Deus. Esse compromisso era irrevogável e não podia ser substituído por um pagamento.
A consagração total de uma pessoa (v. 29) refere-se a um caso específico dessa dedicação. Sob a lei dada no Sinai, quem cometesse apostasia estava sujeito à pena de morte (Êx 22.20). Essa marcação era definitiva e não poderia ser revertida por resgate.
3) Restrições quanto ao dízimo (vs. 30-33)
O dízimo da produção da terra (vs. 30-31) pertencia ao SENHOR. Caso alguém quisesse resgatar parte desse dízimo, parte dos frutos da terra, deveria pagar o valor correspondente acrescido de um quinto (20%), garantindo que a devolução ao SENHOR não fosse feita sem custo.
O dízimo do rebanho (Lv 27.32-33) exigia que um décimo dos animais fosse dedicado a Deus, sem possibilidade de resgate. A prática do dízimo já era conhecida em Israel (Gn 28.20-22; 14.20) e aqui é reafirmada como pertencente ao SENHOR. Em Números 18.8-32, seu propósito é esclarecido: o dízimo servia para o sustento dos sacerdotes e levitas que ministravam no santuário.
Fim
Levítico se encerra de forma breve, mas reveladora: todos os regulamentos apresentados por Moisés têm origem divina. Levítico 27.34 (NVT): “Esses são os mandamentos que o SENHOR deu aos israelitas por meio de Moisés no monte Sinai.”
Levítico 27 trata da dificuldade humana em cumprir votos, manter compromissos e sustentar alianças, um tema crucial em uma geração marcada pela falta de vínculos. O capítulo fala de uma fé que se comprova na dedicação total ao SENHOR — vida e valores, pessoas e posses, corpo e alma. O Deus que faz aliança conosco exige tudo de nós, pois andar com ele pela fé não é apenas discurso, mas uma resposta sincera de um coração purificado pelo sangue de Jesus, evidenciada na pureza, santidade e fidelidade aos votos feitos ao SENHOR.
Que votos? Votos com Deus. Votos de casamento. Votos de unidade familiar. Votos de compromisso com a igreja. Votos de cidadania responsável para com o próprio povo e nação. Votos de justiça social. Votos. Promessas solenes.
Hoje, mais do que nunca, esses compromissos são necessários. Sempre foram, mas atualmente são banalizados ou completamente descartados — aliança com Deus pelo sangue de Cristo, pacto de membresia da igreja, aliança matrimonial, fidelidade familiar e responsabilidade cidadã. Onde estão essas coisas, meu Deus?!
O capítulo final de Levítico trata, em última instância, da resposta da fé: uma fé que se comprova pelas obras. Nesse contexto, tais obras se manifestam na seriedade com que se cumprem votos, alianças e compromissos diante de Deus e da comunidade da aliança.
Mas Levítico 27 não deve ser lido isoladamente. Na verdade, nenhuma parte da Lei mosaica pode ser interpretada de forma isolada, sob o risco de se criar ou impor códigos moralistas e legalistas. Assim como toda a Lei, Levítico 27 se sustenta sobre os capítulos 1 a 26, na aliança que Deus estabeleceu com Seu povo, na iniciativa divina de resgatá-lo, purificá-lo e santificá-lo pelo sangue do cordeiro, oferecido a Ele pelo sumo sacerdote.
Desde o início do livro, Deus estabelece os princípios do sacrifício como meio de expiação e comunhão com ele (Lv 1–7). O sacerdócio, instituído por Deus (Lv 8–10), media essa relação, apontando para a necessidade de intercessão e pureza diante do SENHOR (Lv 11–15). O Dia da Expiação (Lv 16) reforça a centralidade do perdão divino e da santidade requerida por Deus (Lv 19.2).
O chamado à santidade permeia toda a aliança (Lv 17–25), assim como as bênçãos e maldições ligadas à obediência ou à desobediência (Lv 26).
É nesse contexto que Levítico 27 se encaixa: a resposta do povo à aliança estabelecida pelo SENHOR. A dedicação, os votos e os compromissos mencionados nesse capítulo só fazem sentido porque Deus já havia feito uma aliança com Seu povo e providenciado os meios para sua salvação e santificação.
Levítico 20.8 (NVT): “Guardem meus decretos pondo-os em prática, pois eu sou o SENHOR, que os santifica.”
Levítico 21.8b (NVT): “Eu, o SENHOR, sou santo e santifico vocês.”
A resposta do povo ao Deus que salva e santifica, então, é fé e devoção. E essa devoção, fruto da fé, se comprova no cumprimento da aliança: amar a Deus acima de todas as coisas (Dt 6.5; 11.1) e ao próximo como a si mesmo (Lv 19.18, 34). Essa é a dedicação que Deus deseja. Essa é a fé que salva.
Mas eu quero concluir esta mensagem, a mensagem que encerra nossa série em Levítico, afirmando que santidade ao SENHOR, na prática, à luz de Levítico 27, implica em duas realidades fundamentais: devoção verdadeira e coração generoso.
Uma vez salvo e santificado pelo sangue de Cristo, pelo sangue do Cordeiro, a resposta natural do coração transformado é amar a Deus e ao próximo. E esse amor se expressa de maneira concreta:
Que essa seja a marca da nossa fé: uma entrega sincera e perseverante, fruto da aliança que Deus fez conosco em Cristo.
Levítico não deve ser visto como um livro que termina de forma negativa ou com um capítulo deslocado. Pelo contrário, ao tratar da consagração do povo a Deus, ele revela um povo maravilhado com sua graça. O livro se encerra com uma nota de exaltação, testemunhando uma fé não fundamentada na lei, mas na graça; não movida pelo dever, mas pelo amor; não marcada pelo peso da obrigação, mas pela leveza da gratidão.
Aqui está um povo que foi redimido para ser santo. E essa santidade se traduz em dedicação — dedicação a Deus e ao próximo, vivida na comunidade da aliança, em comunhão diante do SENHOR.
Santidade ao SENHOR é a marca inconfundível dos crentes regenerados. Que essa marca esteja sobre nós!
S.D.G. L.B.Peixoto
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Dedicação
Pr. Leandro B. Peixoto