31.08.2025
A vida é feita de escolhas. Você já ouviu isso. Talvez já tenha dito a alguém — num momento de dor, dúvida ou decisão.
É uma frase curta, quase um conselho de bolso: “A vida é feita de escolhas.” Mas carrega um peso que, muitas vezes, só percebemos tarde demais.
Sim, a vida é feita de escolhas… mas nem todas são simples. Algumas são triviais — como o que vestir, o que comer, qual caminho tomar até o trabalho. Outras, no entanto, têm o poder de moldar destinos. São escolhas que não cabem no tempo, porque atravessam a eternidade — como a escolha entre o céu e o inferno.
E, sim, essa escolha é real.
E há algo que frequentemente esquecemos: não escolher já é uma escolha. Fugir, adiar, calar — tudo isso tem consequências. Por isso, a sabedoria bíblica não nos convida apenas a escolher, mas a escolher bem: “Agora ouçam! Hoje lhes dou a escolha entre a vida e a morte, entre a prosperidade e a calamidade [ou: coloco diante de vocês a vida e o bem, a morte e o mal].” (Dt 30.15, NVT e NAA)
É com esse espírito que nos aproximamos de Deuteronômio 27 a 30 — o terceiro sermão de Moisés, às portas da Terra Prometida.
Antes de avançar, porém, o povo é formalmente confrontado com sua responsabilidade: obedecer aos mandamentos da aliança do SENHOR para desfrutar das bênçãos da promessa. A vida — vida abundante, prosperidade — e a permanência na terra dependem da fidelidade ao SENHOR.
Obediência ou desobediência. Bênção ou maldição. Vida ou morte.
Escolhas que reverberam na alma, moldam a caminhada e definem o destino.
Mas mais do que uma lista de alternativas, esses capítulos quase finais de Deuteronômio (27–30) contêm uma promessa — a promessa do SENHOR. E é essa promessa que deve ser o farol que ilumina nossas decisões espirituais.
Mesmo diante da infidelidade do povo, Moisés anuncia — com voz profética e coração pastoral — que, mesmo se, no futuro, esse povo vier a pecar, quebrar a aliança e perder tudo, se ainda assim voltar arrependido e obedecer de coração, então o SENHOR restaurará. A graça divina não depende de um passado limpo, mas de um coração quebrantado, e que se refugia pela fé no sangue da aliança. Afinal, o Deus da aliança é também o Deus da misericórdia.
Moisés escreveu o seguinte: “O SENHOR… restaurará sua situação. Ele terá misericórdia de vocês e os reunirá de todas as nações por onde os espalhou… os juntará e de lá os trará de volta… [a terra] será sua outra vez. Então ele os tornará ainda mais prósperos e numerosos que seus antepassados!” (Dt 30.2-5)
Essa promessa não era apenas para aquele povo. É também para nós — que hoje estamos diante de decisões eternas. É para você, aqui e agora.
É a promessa de restauração, de retorno e de vida abundante em Jesus Cristo. Não segundo critérios humanos, mas segundo a fidelidade inviolável de Deus — selada na nova aliança, firmada com o sangue do Cordeiro: Jesus Cristo, derramado por suas ovelhas, lá na cruz do Calvário (Lc 22.19; 1Co 11.25; Hb 9.15-18).
Portanto, reunimo-nos aqui, nesta noite, para ouvir mais uma vez a promessa do Senhor feita a nós em Cristo. Minha oração é que você ouça — talvez pela primeira vez, talvez mais uma vez — mas desta vez com força e com fé: Escolha a vida. Ame ao SENHOR. Ouça sua voz. Apegue-se a ele com todo o coração. Pois ele promete restaurar, reunir e dar vida, vida com Deus, vida plena — não por nossos méritos, mas por causa da sua graça em Jesus.
O ponto em que nos encontramos no livro de Deuteronômio é este: do capítulo 1, versículo 1, até o capítulo 4, versículo 43, Moisés relembrou ao povo os grandes atos do SENHOR — como ele os libertou do Egito e os conduziu pelo deserto — reafirmando que a terra que agora se abre diante deles é o cumprimento da aliança feita com Abraão, séculos antes, em Gênesis. Israel, agora às portas de Canaã, é uma nação formada por milhares de milhares — filhos da promessa.
A partir de Deuteronômio 4.44 até o final do capítulo 26, Moisés realizou uma belíssima exposição dos Dez Mandamentos, e revelou a vontade do SENHOR. Com profundidade e precisão pastoral, ele interpretou e aplicou a Lei à realidade do povo — tanto à sua condição presente, às margens do Jordão, quanto à sua futura vida na Terra Prometida.
É importante notar que o livro de Deuteronômio segue a estrutura dos antigos tratados de aliança, como aqueles que os que reis conquistadores firmavam com nações conquistadas. No entanto, aqui o Rei é o próprio SENHOR, e Israel é a sua nação eleita, seu povo peculiar. O SENHOR os tomou para si — libertando-os do Egito com mão forte — a fim de que o amassem, obedecessem-no e o servissem com alegria, de todo o coração.
Assim, nos primeiros capítulos (Dt 1.1–4.43), Moisés recordou as obras redentoras do SENHOR. Depois, com clareza e profundidade pastoral, expôs os termos da aliança (Dt 4.44–26.19), chamando Israel à obediência fiel.
E agora, em Deuteronômio 27 a 30 — o ponto em que nos encontramos nesta noite — Moisés, prosseguindo com a instrução do SENHOR, irá se voltar à conclusão do pacto. Ele apresentará as bênçãos prometidas à obediência, as maldições decorrentes da desobediência e, acima de tudo, a promessa do SENHOR: promessa de restauração, de retorno e de vida plena — mesmo depois da queda — mediante arrependimento sincero e fé obediente.
Nosso texto, como já vimos, é o terceiro e último sermão de Moisés registrado neste livro: Deuteronômio 27.1 a 30.20. Ele se organiza em três partes bem definidas:
Vamos, então, sobrevoar esses capítulos — e com olhos atentos e corações ávidos, ver o que o Espírito do Senhor quer nos ensinar hoje. Que cada parte desse sermão antigo — cheio de solenidade, graça e advertência — fale à sua alma com poder e clareza.
1. Instruções para a ratificação da aliança (cap. 27)
1Então Moisés, acompanhado dos líderes de Israel, deu a seguinte ordem ao povo: “Obedeçam a todos estes mandamentos que hoje lhes dou. 2Quando atravessarem o rio Jordão e entrarem na terra que o SENHOR, seu Deus, lhes dá, […]
A seguir, virão três instruções específicas para quando o povo entrar em Canaã: [1.] a exibição pública da lei (vs. 1-4,8), [2.] a construção de um altar ao SENHOR (vs. 5-7) e [3.] a proclamação solene de exemplos de bênçãos e maldições (vs. 9-26).
(1) a exibição pública da lei (vs. 1-4, 8)
2Quando atravessarem o rio Jordão e entrarem na terra que o SENHOR, seu Deus, lhes dá, levantem pedras grandes e pintem-nas com cal. 3Escrevam nelas todos os termos desta lei quando atravessarem o rio para entrar na terra que o SENHOR, seu Deus, lhes dá, uma terra que produz leite e mel com fartura, conforme lhes prometeu o SENHOR, o Deus de seus antepassados. 4Depois de atravessarem o Jordão, levantem essas pedras pintadas de cal no monte Ebal, como hoje lhes ordeno. […] 8Escrevam de forma bem visível todos os termos desta lei nas pedras pintadas de cal”.
Esse ato simbólico ressaltava quatro aspectos da Palavra escrita de Deus: imperecível, inteligível, confiável e obrigatória.
a) A Palavra de Deus é imperecível. Escrita em pedra, símbolo de permanência. Enquanto Moisés, o pregador, era frágil e passageiro, a Palavra permaneceria. Assim também Pedro lembra aos cristãos da palavra de Deus, “a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23).
b) A Palavra de Deus é inteligível. “Escrevam de forma bem visível todos os termos desta lei…” (v. 8). A clareza era vital para o povo, especialmente após a morte de Moisés: veriam o que não poderiam mais ouvir. É responsabilidade dos expositores da palavra de Deus torná-la clara e acessível, nunca obscura ou confusa.
c) A Palavra de Deus é confiável. As pedras seriam levantadas quando o povo entrasse na terra — cumprimento da promessa feita pelo SENHOR. A posse da terra testemunhava: se ele prometeu, ele cumpre. Sua Palavra jamais falhará ou passará.
d) A Palavra de Deus é obrigatória. Não bastava escrever nem ler, era preciso obedecer. O texto começa com uma ordem: “Obedeçam a todos estes mandamentos que hoje lhes dou” (v. 1). A aliança não era um convite, mas uma convocação solene à obediência.
(2) a construção de um altar ao Senhor (vs. 5-7)
5“Construam ali um altar para o SENHOR, seu Deus, usando pedras inteiras, em sua forma natural. Não alterem a forma das pedras com ferramenta de ferro. 6Construam o altar com pedras que não foram cortadas e usem-no para oferecer holocaustos ao SENHOR, seu Deus. 7Apresentem também sacrifícios de ofertas de paz e celebrem, comendo e alegrando-se na presença do SENHOR, seu Deus.
O altar deveria ser construído com pedras naturais, não lavradas por ferramentas de ferro (Êx 20.24-25). Isso carregava dois significados principais.
Primeiro, apontava para a dependência exclusiva de Deus: o ferro, escasso entre os israelitas e frequentemente obtido de nações pagãs, poderia simbolizar dependência dos povos vizinhos, mas o altar deveria testemunhar que a adoração do SENHOR não se apoiava em recursos estrangeiros. Era para ser simples.
Segundo, revelava a exclusão da intervenção humana: o altar não podia trazer a marca do trabalho humano, pois a salvação e a comunhão com Deus não se fundamentam em engenho ou mérito do homem, mas na graça do próprio Deus.
Assim, o altar de pedras brutas lembrava Israel da pureza e da simplicidade do culto ordenado pelo SENHOR. E tanto o altar quanto os sacrifícios ensinavam que a entrada na terra prometida não se sustentaria apenas pela obediência do povo, mas estaria firmada, sobretudo, na graça de Deus e na expiação que ele mesmo haveria de prover.
(3) a proclamação solene de exemplos
de bênçãos e maldições da aliança (vs. 9-26)
9Em seguida, Moisés e os sacerdotes levitas disseram a todo o Israel: “Faça silêncio e ouça, ó Israel! Hoje você se tornou o povo do SENHOR, seu Deus. 10Obedeça, portanto, ao SENHOR, seu Deus, cumprindo todos estes mandamentos e decretos que hoje lhe dou”.
11No mesmo dia, Moisés deu ao povo a seguinte ordem: 12“Quando atravessarem o rio Jordão, as tribos de Simeão, Levi, Judá, Issacar, José e Benjamim ficarão no monte Gerizim, de onde proclamarão uma bênção sobre o povo. 13As tribos de Rúben, Gade, Aser, Zebulom, Dã e Naftali ficarão no monte Ebal, de onde proclamarão uma maldição.
14“Então os levitas dirão em alta voz a todo o povo de Israel: […]15b E todo o povo responderá: ‘Amém!’.
Em seguida, Moisés apresenta exemplos de maldições, dez ou doze no total. Alguns tocam a relação com Deus: idolatria secreta (v. 15), rejeição aos pais (v. 16) e o desrespeito aos limites da propriedade (v. 17). Outros dizem respeito à justiça social: dificultar o caminho do cego (v. 18), oprimir o estrangeiro, o órfão e a viúva (v. 19). Também há advertências contra imoralidades sexuais, como relações incestuosas (vs. 20-23) e práticas ligadas a cultos pagãos, inclusive perversões como a bestialidade. Por fim, há pecados de violência e injustiça: homicídio em segredo (v. 24) e corrupção que leva ao assassinato de inocentes (v. 25).
Tudo isso revela a seriedade do pecado diante de Deus. Pecados de intenção — “aceitar pagamento para matar um inocente” (v. 25) são tão graves quanto pecados de ação — “matar o seu próximo” (v. 24). A aliança deixava claro que o SENHOR não tolera nem o planejamento do mal. A quebra dessa aliança equivalia a uma autodeclaração de maldição.
Assim, o texto nos apresenta duas verdades centrais sobre o pecado. A primeira é a sua seriedade: diante de Deus, tanto a intenção quanto o ato são igualmente condenáveis. A segunda é a sua abrangência: o pecado não se limita a apenas uma esfera da vida, mas alcança todas as dimensões possíveis — espirituais, sociais, morais e criminais.
4. Apresentação das consequências da aliança (cap. 28)
Em Deuteronômio 28, as opções diante de Israel sob a aliança são apresentadas com absoluta clareza: obediência para desfrutar das bênçãos de Deus, ou desobediência para sofrer o castigo de Deus.
Os versículos 1 a 14 mostram que a obediência colocaria Israel em posição de destaque entre as nações, fazendo da sua vida um testemunho visível da graça do SENHOR. O povo seria marcado pela fertilidade da terra, pela produtividade abundante, pela vitória sobre os inimigos, pelo respeito das nações vizinhas e pela prosperidade que procede unicamente de Deus.
Os versículos 15 a 68 revelam que a desobediência conduziria Israel à completa ruína. O povo experimentaria vergonha diante das nações (vs. 36-37), infertilidade da terra (v. 18), enfermidades devastadoras (vs. 21-22, 27-28, 35, 59-61), seca implacável (vs. 23-24), derrotas militares humilhantes (vs. 25-26), caos social (vs. 29-34), desprezo internacional (vs. 43-44) e, por fim, o exílio (vs. 63-68). Nada disso viria por acaso, mas como juízo justo e disciplina enviada pelo próprio Deus contra a infidelidade do seu povo.
Assim conclui Deuteronômio 28:
63“Assim como o SENHOR teve grande prazer em fazê-los prosperar e se multiplicar, também terá prazer em destruí-los. Vocês serão arrancados da terra em que estão prestes a entrar para tomar posse. 64O SENHOR os espalhará entre todas as nações, de uma extremidade à outra do mundo. Ali, adorarão deuses estrangeiros que nem vocês nem seus antepassados conheceram, deuses de madeira e pedra. 65Não encontrarão paz nem lugar de descanso entre essas nações. O SENHOR fará seu coração estremecer, sua vista falhar e sua alma desanimar. 66Sua vida estará sempre por um fio. Passarão os dias e as noites com medo, sem ter certeza se sobreviverão. 67Pela manhã dirão: ‘Quem nos dera já fosse noite!’, e à noite: ‘Quem nos dera já fosse dia!’. Pois se encherão de pavor com os horrores que verão ao seu redor. 68Então o SENHOR os mandará em navios de volta para o Egito, o lugar que eu prometi que nunca mais veriam. Lá, tentarão vender a si mesmos como escravos para seus inimigos, mas ninguém os comprará”.
O versículo 64 declara: “O SENHOR os espalhará” — cumprindo a advertência de Deuteronômio 4.27 de que a maldição da aliança levaria Israel ao exílio. Essa palavra se concretizou quando o Reino do Norte foi levado pela Assíria em 722 a.C. (cerca de 680 anos depois de Deuteronômio 28; cf. 2Rs 17) e quando o Reino do Sul foi levado pela Babilônia em 586 a.C. (cerca de 820 anos depois de Deuteronômio 28; cf. 2Rs 25). Ainda em Dt 28.64, lemos: “Ali, adorarão deuses estrangeiros… de madeira e pedra” — cumprimento direto de Deuteronômio 4.28, mostrando que o exílio não seria apenas político, mas também espiritual: o povo viveria entre nações idólatras, cercado de falsos deuses impotentes.
O versículo 65 acrescenta: “Não encontrarão paz nem lugar de descanso entre essas nações” — um contraste doloroso com as promessas de descanso em Deuteronômio 3.20 e 12.9-10, pois no exílio haveria apenas insegurança, temor e ansiedade.
Finalmente, os versículos 65-66 falam de pavor e terror incessantes: a honra e o respeito que as outras nações tinham diante de Israel (Dt 2.25; 11.25) seriam revertidos, e o povo, outrora temido, passaria a viver em constante medo, sem segurança, sempre à beira da destruição.
Essa é a maldição do pecado: idolatria, dispersão, ausência de descanso e vida marcada pelo medo. O juízo de Deus, porém, não é acidental nem arbitrário, mas tem um propósito pedagógico. O texto mostra que ele é previsto (Dt 28.20), pois Deus avisa de antemão, porque ele ama; é extensivo, alcançando todo transgressor; é abrangente, afetando todas as áreas da vida; e é também evitável, pois o SENHOR chama o seu povo a escolher a vida, como se lerá adiante, em Deuteronômio 30.19.
Essa seção aponta, em última análise, para a realidade universal do pecado: todos nós, sem Cristo, estamos cegos, fracos, desamparados e perdidos. Vivemos amedrontados. Mas em Cristo, o juízo foi desviado. Foi propiciado. Cristo levou sobre si a maldição da aliança, sendo feito maldição em nosso lugar (Gl 3.13), para que tivéssemos vida em abundância. Assim, até mesmo o pior destino pode ser revertido em esperança, porque o SENHOR promete restauração àqueles que se voltam para ele com arrependimento e fé.
5. Exortação à fidelidade à aliança (caps. 29–30)
Em Deuteronômio 29.1–30.20, Israel é convocado a prestar juramento de fidelidade à aliança do SENHOR antes de entrar em Canaã.
Em primeiro lugar (Dt 29.1-9), Moisés recorda as misericórdias do SENHOR como base para conclamar Israel à obediência. Ele lembra, acima de tudo, a libertação poderosa do Egito, quando o povo viu com os próprios olhos os sinais e maravilhas com que o SENHOR derrotou Faraó e seu império (vs. 2-4). Em seguida, destaca a provisão contínua no deserto: durante quarenta anos, as roupas não envelheceram, os pés não incharam e o pão do céu nunca lhes faltou (v. 5). Por fim, aponta para as vitórias já concedidas sobre os reis Seom, de Hesbom, e Ogue, de Basã, cujas terras foram entregues em possessão às tribos de Rúben, Gade e metade de Manassés (vs. 7-8). Portanto: Libertação, provisão e vitória — três marcas da misericórdia divina que deveriam conduzir Israel a obedecer com fé ao mandamentos do SENHOR (v. 9).
Em segundo lugar (Dt 29.10-29), Moisés recorda que a aliança assumida pelo povo é o cumprimento das antigas promessas feitas por Deus e se estende também às gerações futuras (vs. 10-15). Ele também mostra que a obediência individual aos requerimentos da aliança é essencial para o bem-estar da nação como um todo (vs. 16-22). Por outro lado, a negligência evidente dos mandamentos do SENHOR traria consequências desastrosas sobre a terra e sobre o próprio povo (29.23-29).
Ou seja, a terra, antes fértil e abundante, se tornaria como Sodoma e Gomorra: queimada, coberta de enxofre e sal, improdutiva e incapaz de ser semeada (v. 23). As nações vizinhas, ao contemplarem tamanha devastação, ficariam espantadas e perguntariam por que o SENHOR havia tratado assim o seu povo e a sua terra; a resposta seria evidente: porque Israel havia abandonado a aliança e se prostrado diante de outros deuses (vs. 24-27). Por fim, o juízo culminaria no exílio, quando o SENHOR os arrancaria da terra prometida e os espalharia entre outras nações (v. 28). Assim, aquilo que era o maior dom de sua fidelidade — a terra da promessa — se transformaria no sinal visível de sua disciplina por causa da infidelidade.
Em terceiro lugar (Dt 30.1-20), o SENHOR, em sua soberania, adverte Israel sobre o futuro fracasso, mas também promete plena restauração após a disciplina, o arrependimento e a fé (vs. 1-10). E é justamente aqui que encontramos a primeira grande promessa da nova aliança, aquela que seria selada com o sangue de Jesus Cristo. No versículo 6 lemos: “O SENHOR, seu Deus, transformará o coração de vocês e de todos os seus descendentes, para que o amem de todo o coração e de toda a alma, e para que vivam!”
Moisés então os encoraja a obedecer, lembrando que os mandamentos do SENHOR não estão além da compreensão ou da capacidade de serem praticados (vs. 11-14). Finalmente, a exortação culmina com um apelo solene: diante da escolha colocada pela aliança, Israel deve escolher a vida, amando e obedecendo ao SENHOR (vs. 15-20).
Deuteronômio 30 nos mostra que o SENHOR pede do seu povo arrependimento sincero, amor exclusivo, obediência fiel e a escolha deliberada pela vida. Mas, como Moisés mesmo já sabia, Israel não conseguiria cumprir isso por si só. O coração humano é duro, e a lei, gravada em pedras, não pode transformar a carne. Por isso, a promessa escondida neste capítulo resplandece como o início de uma nova esperança: “O SENHOR, seu Deus, transformará o coração de vocês…” (Dt 30.6). Aqui já se vislumbra a nova aliança, selada no sangue de Jesus Cristo, que nos dá não apenas mandamentos, mas um novo coração que ama obedecer.
Na cruz, Cristo tomou sobre si a maldição da aliança (Gl 3.13) e conquistou para nós a bênção da vida. Pelo Espírito Santo, ele cumpre em nós o que Moisés anunciou: um povo que ama a Deus de todo o coração e encontra nele a verdadeira alegria. A escolha entre vida e morte permanece diante de nós, mas agora a vida não é apenas Canaã, nem apenas longevidade na terra — a vida é Cristo, união com Cristo, pela fé (Jo 14.6).
Portanto, a exortação final de Moisés ecoa para nós hoje com ainda mais força: escolham a vida! Escolham Cristo, o único que, pelo seu sangue, justifica as nossas transgressões diante de Deus, o único que, pelo Espírito, transforma corações de pedra em carne, o único que satisfaz a alma, o único que é nosso tesouro supremo.
Nós começamos esta mensagem lembrando que a vida é feita de escolhas. Israel ouviu de Moisés, às portas de Canaã, que diante deles estavam a vida e a morte, a bênção e a maldição. E vimos em Deuteronômio 27 a 30 como o SENHOR gravou sua lei em pedras, exigiu fidelidade, anunciou bênçãos para a obediência, maldições para a rebeldia e, por fim, prometeu restauração pela graça.
Cristo
Mas toda essa jornada apontava para algo maior. A lei em pedras, o altar, a voz de Moisés, os montes de bênção e maldição — tudo isso convergia para Cristo, a grande promessa do SENHOR. Ele é a Rocha dos séculos, a Palavra viva e permanente. Ele é o sacrifício perfeito que o altar prefigurava. Ele é aquele que levou sobre si a maldição da lei para nos dar a bênção da vida eterna com Deus (Gl 3.13). Ele é o cumprimento da nova aliança, o Deus que transforma corações para que o amemos de todo o nosso coração e de toda a nossa alma (Dt 30.6; Lc 22.20).
Escolha
Nesta noite, como naquele dia, a escolha permanece diante de você: vida ou morte, bênção ou maldição. Mas agora a vida tem nome: Jesus Cristo. Ele é a promessa do SENHOR para nós. Fora dele há apenas juízo — maldição eterna. Mas nele há perdão, restauração, descanso e vida eterna. Portanto, ouça o chamado final: escolha a vida! Escolha Cristo. Ame o SENHOR, ouça a sua voz, apegue-se a ele. Pois nele, e somente nele, há vida abundante, agora e para sempre.
Bênção e maldição
À luz da nova aliança em Cristo, precisamos compreender que as bênçãos e maldições de Deuteronômio não se resumem a terras férteis, vitórias militares ou derrotas políticas, pobreza e pestes de todo tipo. Essas bênçãos não são, em última instância, sua prosperidade material, saúde física e conquistas neta vida. As bênçãos de que falava Deuteronômio apontavam para algo maior, superior.
Em Cristo, a maldição foi plenamente carregada na cruz: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). E, ao mesmo tempo, em Cristo recebemos toda sorte de bênçãos espirituais (Ef 1.3): perdão, adoção, o dom do Espírito e a esperança da vida eterna. Isso significa que a verdadeira bênção hoje não é medida pela prosperidade material, mas pela presença de Cristo em nós; e a verdadeira maldição não é infertilidade, enfermidade ou pobreza, mas viver longe de Deus — caminhando para a condenação eterna, no inferno.
A grande escolha
Assim, a grande escolha permanece diante de você, mas agora ela se resume a uma só questão: você está em Cristo, participando de todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais, ou está fora de Cristo, permanecendo debaixo da maldição — da justa condenação de Deus?
Sim, eu sei, meu irmão, minha irmã: há escolhas concretas que você precisa fazer na vida, e muitas delas são realmente difíceis. Porém, se você fizer a primeira e mais importante escolha de todas — receber Jesus Cristo como sua justiça diante de Deus e o tesouro supremo da sua vida — então todas as demais escolhas, quando iluminadas por essa decisão, se tornarão mais claras e leves de serem feitas.
Porque, em Cristo, a caminho da vida eterna, você aprenderá a discernir melhor os caminhos desta vida aqui na terra. Saberá escolher com sabedoria seus amigos, sua profissão, um namorado ou uma namorada, um cônjuge; e, mais ainda, terá condições de ajudar outros a também escolherem com discernimento. Quando Cristo é a sua vida, a sua grande escolha, as demais escolhas se alinham melhor em sua vida.
Por isso, ouça a voz do Senhor nesta noite: escolha a vida! Escolha Cristo. Ele é a grande promessa do SENHOR para você. Nele, a maldição é removida, a bênção é garantida e a vida eterna já começou.
E agora, ao se prepararem para voltar ao mundo com a mensagem do evangelho, esta é minha súplica a Deus em favor de vocês:
Números 6.24-26
O SENHOR os abençoe e os guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre vocês e tenha misericórdia de vocês; o SENHOR sobre vocês levante o seu rosto e lhes conceda a paz.
S.D.G. L.B.Peixoto
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A promessa do Senhor
Pr. Leandro B. Peixoto