21.09.2025
A vida cristã, como nos lembra John Bunyan (1628–1688) em O Peregrino (1678) e A Peregrina (1684), é uma grande jornada.
Tudo começa quando o personagem Cristão, habitante da Cidade da Destruição, desperta para o peso insuportável do seu pecado. É assim que a verdadeira vida com Deus sempre se inicia: com a consciência despertada, o fardo da culpa sobre os ombros e a busca sincera por perdão em Jesus Cristo.
Ao deixar sua cidade, Cristão descobre que seguir a Cristo não é permanecer estagnado, mas caminhar — passo após passo — como peregrino rumo a um destino eterno.
Essa jornada, porém, está longe de ser fácil. Ela conduz o Peregrino por vales sombrios, como o da Humilhação; por pântanos traiçoeiros, como o do Desespero; e por lugares sedutores, como a Feira das Vaidades. Cristão ainda enfrenta a íngreme Colina da Dificuldade, o tenebroso Vale da Sombra da Morte, as enganosas Terras Encantadas do Esquecimento e o cárcere do Castelo da Dúvida, onde o Gigante Desespero mantém cativos os desanimados.
Cada um desses cenários simboliza realidades espirituais vividas por todo cristão: tempos de provação, tentações do mundo, combates contra a incredulidade e o constante perigo de esquecer a esperança eterna.
Bunyan nos mostra que a vida cristã é uma luta constante contra o mundo, a carne e o diabo. O embate de Cristão com Apoliom — o Destruidor, como o chama Apocalipse 9.11 — ilustra que essa peregrinação não se vence com força humana, mas com a armadura de Deus.
E, em sua bondade, o Senhor nos concede companheiros de fé — outros peregrino — ao longo do caminho: Fiel, Esperançoso… irmãos que vão ao nosso lado, sustentando-nos com amizade, exortação e oração. Porque não fomos chamados a peregrinar sozinhos.
Bunyan aprofunda essa dimensão da comunhão, mostrando que Deus levanta diferentes pessoas em momentos distintos da jornada. Alguns oferecem amizade imediata, como Fiel, cuja vida — e martírio — inspiraram profundamente Cristão. Outros testemunham perseverança paciente, como Esperançoso, que o acompanhou nos trechos mais árduos da caminhada final. Há os que ensinam e guiam, como o Intérprete, que abriu janelas para as verdades do evangelho.
Em A Peregrina, segunda parte dessa alegoria da vida cristã, Bunyan destaca a bênção da fé vivida em família: Cristiana, esposa de Cristão, seus filhos — Mateus, José, Samuel e Tiago — e a fiel companheira Misericórdia, todos seguindo juntos rumo à Cidade Celestial. Ao lado deles está o corajoso Grande-Coração, que os guarda e conduz com fidelidade ao longo da jornada.
Assim, a vida cristã é sustentada pela graça de Deus e enriquecida pela comunhão dos santos — comunhão que confirma a fé, fortalece a esperança e nos encoraja a prosseguir, passo a passo com amor, até o fim.
No centro dessa jornada está a cruz. É diante dela que o fardo de Cristão cai, e ele encontra alívio. É pela obra de Cristo — e somente por ela — que o pecado é perdoado, o coração encontra descanso e a jornada continua, rumo ao céu, até a presença do Rei: o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Sim, no fim da peregrinação, o peregrino chega à Cidade Celestial. Mas antes, precisa atravessar o Rio da Morte — imagem vívida da nossa última passagem. Essa travessia aponta para a esperança que nos sustenta: a ressurreição e a eternidade com Deus.
Assim, Bunyan nos recorda que a vida cristã é uma peregrinação marcada pela graça, sustentada pela fé, vivida em comunhão e orientada pela glória futura — conforme nos revela a palavra de Deus.
Ah, meus irmãos! Vejam: não foi por acaso que Spurgeon, o príncipe dos pregadores, testemunhou ter lido — acreditem — mais de cem vezes essa obra de John Bunyan. Charles Haddon Spurgeon (1834–1892) nutria profunda estima por O Peregrino, a ponto de declará-lo seu livro favorito depois da Bíblia. Ele começou a lê-lo ainda menino, aos 10 anos de idade, e continuou a revisitá-lo até a sua morte, aos 57. Isso significa que, em 47 anos de contato constante com a obra, ele a leu, em média, cerca de duas vezes por ano. Tal hábito não apenas demonstra o apreço do pregador batista por esse clássico puritano, mas também revela a influência duradoura de Bunyan sobre sua espiritualidade e sua pregação.
E ao abrirmos juntos as Escrituras, em 1Samuel 23.13-18, veremos que essa verdade não é apenas alegoria devocional, mas realidade histórica. Em meio à perseguição, tomado pelo medo e afogando-se na incerteza, Deus fortaleceu Davi por meio da amizade de Jônatas. E, assim como no caminho do Peregrino, também na jornada de Davi — e na nossa — o Senhor envia irmãos para nos fortalecer em Deus. Leia:
1Samuel 23.13-18 (NVT)
13Então Davi e seus homens, que agora eram cerca de seiscentos, partiram de Queila e começaram a andar sem rumo por aquela região. Quando Saul foi informado de que Davi tinha escapado, desistiu de ir a Queila. 14Davi permaneceu nas fortalezas do deserto e na região montanhosa de Zife. Saul o perseguia continuamente, mas Deus não permitiu que o encontrasse.
15Então, perto de Horesa, Davi recebeu a notícia de que Saul estava a caminho do deserto de Zife para procurá-lo e matá-lo. 16Jônatas, o filho de Saul, foi encontrar Davi e o animou a permanecer firme em Deus [ou: fortaleceu a sua mão em Deus]. 17“Não tenha medo!”, disse Jônatas. “Meu pai jamais o encontrará! Você será o rei de Israel, e eu serei o segundo no comando, como meu pai, Saul, sabe muito bem.” 18Então os dois renovaram seu compromisso solene diante do SENHOR. Depois Jônatas voltou para casa, enquanto Davi ficou em Horesa.
Este é um dos muitos textos das Escrituras que sustentam a convicção de que cada membro da Segunda Igreja Batista em Goiânia deveria fazer parte de algum tipo de pequeno grupo — um espaço onde ajudamos uns aos outros a lutar o bom combate da fé, até cruzarmos, pela graça, o Rio da Morte e entrarmos na Cidade Celestial. Claro, a menos que Cristo volte antes, para estabelecer seu reino eterno.
Segurança eterna é um projeto comunitário
Como afirma John Piper, “cremos que a segurança eterna é um projeto comunitário.” Em outras palavras: a perseverança dos crentes rumo à salvação eterna não é apenas uma realidade individual, mas uma responsabilidade congregacional.
O mesmo Senhor amoroso que declarou: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão. Ninguém pode arrancá-las de minha mão” (Jo 10.27-28), também disse: “Aquele… que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24.13).
Isso significa que todos quantos são nascidos de Deus estão eternamente seguros nas mãos de Cristo — e, ao mesmo tempo, são chamados a perseverar até o fim para serem finalmente salvos. A pergunta inevitável que surge é: qual foi o meio que Deus ordenou para que seu povo perseverasse na fé até o fim, de modo que se cumpra infalivelmente a promessa de que nenhuma de suas ovelhas jamais se perderá?
Nesta manhã, estamos focados em uma parte essencial da resposta: Deus nos colocou em congregações, entre irmãos e irmãs, para que nos ajudemos mutuamente a lutar o bom combate da fé, dia após dia, até o fim.
A base bíblica para isso está em Hebreus 3.12-14, que já estudamos em nossa série de sermões na carta aos Hebreus:
12Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que o leve a se afastar do Deus vivo. 13Pelo contrário, animem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, a fim de que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado. 14Porque temos nos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até o fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. (NAA)
Deus estabeleceu um meio para nos capacitar a guardar firme a nossa confiança até o fim — e esse meio é a koinōnia: a vida cristã em comunhão. Relacionamentos piedosos, marcados por amor, verdade e vigilância. Relações em que irmãos exortam uns aos outros, todos os dias, a permanecer nas promessas de Deus e a fugir do engano do pecado.
Faça parte de um grupo de cristãos
Crianças, adolescentes, jovens, estudantes, trabalhadores, solteiros, casais, viúvas e viúvos — todos nesta igreja, do mais antigo ao recém-chegado! Você já faz parte de um grupo de cristãos comprometidos a ajudar uns aos outros a lutar o bom combate da fé e a proteger-se mutuamente das sutis investidas do pecado?
Não afirmo que você não possa ser salvo sem pertencer a um pequeno grupo organizado. Mas afirmo — e creio que esta é a palavra de Deus — que, se você não tem um grupo de companheiros na fé — para usarmos os nomes dos personagens de Bunyan: se você não tem em sua vida um Interprete, um Fiel, um Esperançoso ou uma Misericórdia —, então está negligenciando um dos meios designados por Deus para a sua preservação e perseverança. E negligenciar os meios de graça é sempre um risco grave para a alma.
Portanto, meu objetivo nesta manhã é muito simples: motivar você a pertencer a um pequeno grupo de cristãos, no qual possa exortar e ser exortado a lutar o bom combate da fé, dia após dia.
Ao final da mensagem, você poderá consultar, na página 2 do boletim dominical, a lista de pequenos grupos disponíveis para a sua consideração em oração. Ou, se preferir, poderá procurar o irmão Mateus Colistet e deixar o seu nome para se juntar ao grupo de formação de líderes de pequenos grupos, que se reúne comigo quinzenalmente, aos sábados, das 16 às 18 horas, aqui mesmo na igreja.
Quatro lições do encontro de Jônatas com Davi
O texto de 1Samuel 23.13-18 nos apresenta uma ilustração simples e, ao mesmo tempo, profundamente necessária para a luta contínua da fé.
Davi estava no deserto de Zife, cerca de cinquenta quilômetros ao sul de Jerusalém, fugindo de Saul. O rei de Israel o via como rival perigoso ao trono e não descansava em sua intenção de matá-lo. Nesse contexto de medo e perseguição, Jônatas, filho do próprio Saul, move-se por lealdade e amor. Ao saber onde Davi estava, desceu até ele, no deserto, para fortalecer-lhe a mão em Deus (1Sm 23.16, ARC).
Esse encontro, breve mas marcante, revela pelo menos quatro lições preciosas sobre como podemos — e devemos — ajudar uns aos outros a lutar o bom combate da fé.
1. Saiba que todos necessitam de companheirismo cristão
Até os santos mais fiéis e os líderes mais fortes precisam de companheiros cristãos que fortaleçam suas mãos em Deus. Davi era profundo, Davi era forte — e, ainda assim, Davi precisava de Jônatas.
1Samuel 23.15-16 (ARC) “Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua vida, Davi esteve no deserto de Zife, num bosque. Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi ao bosque, e fortaleceu a sua mão em Deus”.
O companheirismo cristão não é apenas para os “novatos” na fé — é para todo crente. Jamais chegaremos a um nível de maturidade em que não precisemos do ministério de outros irmãos. Se você pensa estar além da necessidade de exortação diária na luta da fé, é sinal de que seu coração já pode ter sido enredado pelo engano do pecado.
Davi era um homem segundo o coração de Deus, um guerreiro notável, superior a Jônatas em força, inteligência e profundidade espiritual. No entanto, o versículo 16 registra que Jônatas se levantou e foi ao encontro de Davi, “e fortaleceu a sua mão em Deus”.
Ah, meu irmão, minha irmã! Jamais pense que alguém seja tão forte que não precise ser fortalecido em Deus por você. E jamais suponha que alguém esteja tão acima de você que não possa ser, justamente você, o instrumento de Deus para fortalecê-lo.
Charles Spurgeon testemunhou isso em sua própria vida. E certamente ele falava em nome de tantos e tantos outros grandes homens de Deus (Autobiography, vol. 2, p. 415):
Alguns anos atrás, fui acometido por uma terrível depressão de espírito. Vários acontecimentos penosos haviam me sucedido; além disso, eu estava enfermo, e meu coração se abateu dentro de mim. Das profundezas fui compelido a clamar ao Senhor.
Pouco antes de ir a Mentone para descansar, sofri intensamente no corpo, mas ainda mais na alma, pois meu espírito estava esmagado. Sob tal peso, preguei um sermão a partir das palavras: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Estava tão qualificado para pregar sobre esse texto quanto jamais espero estar; creio, na verdade, que poucos de meus irmãos poderiam ter penetrado tão fundo nessas palavras dilacerantes.
Senti, até o limite da minha capacidade, o horror de uma alma desamparada por Deus. Essa, porém, não foi uma experiência desejável. Estremeço só de pensar em passar novamente por esse eclipse da alma, e oro para que jamais venha a sofrer daquela maneira outra vez.
Ah, sim, meu povo! Até mesmo Spurgeon conheceu o Vale de Lágrimas. Aos 24 anos, confessou: “Meu espírito afundou tão profundamente que eu poderia chorar por horas como uma criança, e, contudo, eu não sabia por que chorava.”
Essa declaração, registrada em 1858, revela com dolorosa sinceridade a profundidade de seu desânimo emocional — um peso que o fazia sofrer intensamente, ainda que sem causa claramente identificável.
Isso nos mostra que até os gigantes de Deus, os guerreiros mais valentes, não estão acima da necessidade de terem suas mãos fortalecidas em Deus. Pelo contrário, muitas vezes os ataques do diabo contra eles tornam essa necessidade ainda maior.
E não pense, meu irmão, minha irmã, que você esteja imune a isso.
A primeira lição, portanto, é clara: nunca superamos a necessidade de exortação diária. Os santos mais fiéis e os líderes mais fortes precisam de companheiros cristãos que fortaleçam suas mãos em Deus.
Todos nós precisamos de um Fiel, um Esperançoso ou uma Misericórdia em nossas vidas. Se você pensa que não, CUIDADO! Você precisa sim de companheirismo cristão.
2. Exerça um esforço intencional
Fortalecer a mão de alguém em Deus exige esforço intencional. É algo intencional. Não acontece por acaso. O texto diz (1Sm 23.15-16, ARC):
“Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua vida, Davi esteve no deserto de Zife, num bosque. Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi ao bosque, e fortaleceu a sua mão em Deus”.
Jônatas não encontrou Davi por acaso; ele decidiu ir ao seu encontro para fortalecê-lo. E esse é o verdadeiro sinal de maturidade cristã: cultivar, com intenção e prática, o hábito de fortalecer as mãos dos irmãos em Deus.
E há mais. Ir ao encontro de Davi significava, para Jônatas, deixar a zona de conforto do palácio para caminhar até o deserto. Mas não apenas isso — significava também posicionar-se contra o próprio pai, — o intempestivo, imprevisível e implacável— Saul.
Pouco antes do episódio narrado aqui em 1Samuel 23, Jônatas já havia experimentado a fúria do próprio pai. Em 1Samuel 20 encontramos o relato da hostilidade de Saul não apenas contra Davi, mas também contra seu próprio filho, ao perceber a lealdade de Jônatas para com o amigo. O texto declara (1Sm 20.30-33, NVT):
“Saul se enfureceu com Jônatas e disse: ‘Seu traidor, filho de uma prostituta! Pensa que não sei que você deseja que ele seja rei, para sua própria vergonha e para a vergonha de sua mãe? Enquanto esse filho de Jessé viver, você jamais será rei. Agora vá buscá-lo para que eu o mate!’. ‘Mas por que ele deve morrer?’, perguntou Jônatas ao pai. ‘O que ele fez?’. Então Saul atirou sua lança contra Jônatas, com a intenção de matá-lo. Assim, Jônatas compreendeu que seu pai estava, de fato, decidido a matar Davi.”
Mas Jônatas decidiu ir ao encontro de Davi, e fortalecer a sua mão em Deus.
Esse mesmo espírito atravessa os séculos e se manifesta nos fundadores da Sociedade Missionária Batista de Londres (1792) — John Ryland Jr. (1753–1825), John Sutcliff (1752–1814), Andrew Fuller (1754–1815), Samuel Pearce (1766–1799) e William Carey (1761–1834). Depois do impulso missionário dos Morávios em 1732, o passo decisivo para levar o evangelho até os confins da terra foi dado com Carey e a Sociedade Missionária Batista, em 1792, inaugurando o modelo moderno de missões organizadas por sociedades ou juntas missionárias, rapidamente difundido na Europa e na América do Norte.
E o que unia esses homens não era apenas a causa missionária, mas também a convicção de que precisavam fortalecer-se mutuamente em Deus. Assim, quando Pearce recebeu em Londres uma carta de Carey, após um ano de silêncio dele na Índia, escreveu de volta ao amigo:
O relato que você nos enviou nos inspirou com novo vigor e muito fortaleceu nossas mãos no Senhor. Nós lemos, choramos, louvamos e oramos. Oh! quem além do cristão experimenta tais prazeres ligados à amizade para nosso amado Senhor Jesus Cristo?
(Memoirs of Samuel Pearce, p. 58)
Que expressão preciosa: “Amizade para nosso amado Senhor Jesus Cristo”!
Minha oração, meu povo, é que vocês cultivem amizades para Jesus Cristo — que formem pequenos grupos de companheirismo cristão, unidos pelo compromisso mútuo, intencional, de apontar uns aos outros, continuamente, para Cristo como a única fonte de esperança e de força para atravessar esta vida e cruzar o Rio da Morte até ao céu, na presença maravilhosa de nosso Deus triúno: Pai, Filho e Espírito Santo.
3. Fortaleça uns aos outros em Deus
A primeira lição foi: todos necessitam de companheirismo cristão. A segunda lição foi: é preciso exercer esforço intencional para fortalecer uns aos outros. E agora, a terceira lição: a força que devemos dar uns aos outros é em Deus, não em nós mesmos.
Note: 1Samuel 23.16 não diz que Jônatas percorreu todo aquele caminho até Horesa para fortalecer a autoconfiança de Davi. Não foi isso. O texto declara que ele se levantou, foi até Davi em Horesa e fortaleceu-lhe a mão em Deus.
Essa é a diferença entre o companheirismo cristão e todos os outros grupos de apoio, grupos terapêuticos e grupos de autoajuda. O objetivo inteiro do companheirismo cristão é apontar uns aos outros para Cristo, não para o homem, em busca de ajuda e força.
Há aqui um certo paradoxo: por um lado, eu digo: eu preciso de você. Deus o designou como um meio de graça para me ajudar a perseverar até o fim. Mas, por outro lado, devo dizer que a única maneira de você realmente me ajudar é fazendo ou dizendo algo que me leve a depender de Deus, e não de você (nem de mim mesmo).
Aqui estamos novamente com o que parece ser nosso tema mais recorrente: um radical Deus-centrismo em tudo o que fazemos — até mesmo em nossa comunhão humana, em nosso companheirismo, em nossa amizade. Deve ser uma amizade para Jesus — que leve para Jesus.
Todo pequeno grupo cristão que existe deve existir para fortalecer as mãos uns dos outros em Deus, e não no homem.
Essa é a terceira lição do nosso texto: “Jônatas levantou-se e foi até Davi em Horesa, e fortaleceu-lhe a mão em Deus.”
4. Relembre uns aos outros as promessas de Deus
Finalmente, como Jônatas fez isso — como ele fortaleceu a mão de Davi em Deus? E como nós o fazemos? O versículo 17 responde:
“Não tenha medo!”, disse Jônatas. “Meu pai jamais o encontrará! Você será o rei de Israel, e eu serei o segundo no comando, como meu pai, Saul, sabe muito bem.”
Como Jônatas sabia que Davi seria rei sobre Israel? É evidente que, como amigos íntimos, Davi lhe havia contado o episódio de 1Samuel 16, quando, ainda menino, foi ungido por Samuel para reinar sobre o povo de Deus. Eis o texto:
1Samuel 16.12-13 (NVT)
12Jessé mandou chamá-lo. Era um jovem ruivo, de boa aparência e olhos bonitos.
E o SENHOR disse: “É este; levante-se e unja-o com óleo”.
13Enquanto Davi estava entre seus irmãos, Samuel pegou a vasilha com óleo que havia trazido e o ungiu. A partir daquele dia, o Espírito do SENHOR veio poderosamente sobre Davi. […]
Assim, a maneira como Jônatas fortaleceu a mão de Davi em Deus foi simples e poderosa: lembrou-lhe da promessa que o Senhor já havia feito. Saul não poderia prevalecer contra Davi, porque Deus era por ele.
Portanto, a força de Davi não estava em si mesmo, nem sequer em Jônatas — ainda que este fosse filho do rei Saul — mas em Deus. Então Jônatas fortaleceu a mão de Davi em Deus, lembrando-o da promessa do Senhor, fazendo-o recordar do destino que Deus já havia decretado para ele.
Jônatas fortaleceu mão de Davi em Deus, lembrando-o da promessa de Deus.
E assim também conosco. Fortalecemos as mãos uns dos outros em Deus quando nos lembramos mutuamente das promessas de Deus, aplicando-as às nossas necessidades mais urgentes.
Pense nisso: o que você precisaria ouvir de seus amigos se fosse William Carey, a mais de 24.000 km de casa, lutando o bom combate da fé com apenas um colaborador, cercado por milhões de incrédulos? Você precisaria de palavras saturadas de promessa — como as que Samuel Pearce, seu amigo precioso, lhe escreveu em 4 de outubro de 1794:
Irmão, anseio por estar ao seu lado e participar de todas as vicissitudes do ataque — um ataque que está garantido, a não ser que faltemos à coragem. Sim, o Capitão da nossa salvação marcha à nossa frente. Às vezes ele pode retirar a sua presença (mas não o seu poder), para provar nossa coragem com nossas armas espirituais e armadura celestial. Oh, o que uma fé viva não pode fazer pelo soldado cristão! Ela trará o Libertador dos céus; revesti-lo-á como com um manto tingido de sangue; colocá-lo-á na linha de frente da batalha e porá um cântico novo em nossas bocas: “Estes guerrearam contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá.” Sim, ele vencerá — a vitória é certa antes mesmo de entrarmos no campo; a coroa já está preparada para adornar nossas frontes, essa coroa de glória que não murcha; e já resolvemos o que faremos com ela — a lançaremos aos pés do Conquistador, e diremos: “Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória,” enquanto todo o céu se une no coro: “Digno é o Cordeiro.”
(Memoirs of Samuel Pearce, p. 66)
Nem todos nós temos o dom de escrever ou falar como Samuel Pearce. Mas todos podemos encher a mente e o coração com a palavra de Deus. Se você meditar nela de dia e de noite, como ensina o Salmo 1, será como fonte de água viva — e fortalecerá as mãos de muitos em Deus.
O chamado de Deus para nós nesta manhã é claro:
Venham, fortaleçamos as mãos uns dos outros em Deus! Seja a mão de Deus a tua Palavra na vida do irmão, fortalecendo-o em Deus. Para a glória de Cristo. Amém.
Senhor nosso Deus e Pai,
E agora, ao se prepararem para voltar ao mundo com a mensagem do evangelho, esta é minha súplica a Deus em favor de vocês:
Hebreus 13.20-21
Que o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, aperfeiçoe vocês em todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em vocês o que é agradável diante dele, por meio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!
S.D.G. L.B.Peixoto.
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A Mão de Deus na Palavra de um Irmão
Pr. Leandro B. Peixoto