17.08.2025
2Timóteo 2.1-2 (NAA)
1Quanto a você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. 2E o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros.
Talvez você pense que a evangelização e a edificação espiritual das pessoas aconteçam apenas dentro dos cultos da igreja. Ou, quem sabe, acredite que apenas o pastor e o púlpito — ou, no máximo, o pastor e o gabinete pastoral — sejam os únicos instrumentos usados por Deus para a salvação dos pecadores e o crescimento do Seu povo. Talvez até sustente que tudo o que precisamos se resume a orações específicas ou a um ministério de libertação.
Olhe, é triste. E seria apenas triste, se não fosse também trágico, que esse tipo de mentalidade ainda domine o imaginário da maioria.
Some-se a isso uma outra mentalidade, surgida com o chamado “movimento de crescimento de igreja”, lá pelos anos 1970 e 1980. Desde então, além de provedor de serviços espirituais, o pastor passou a ser visto quase como um “contratado”, responsável por fazer tudo acontecer em larga escala. Espera-se dele eficiência e atratividade em todas as áreas — do berçário ao ministério da terceira idade, do culto às coisas da cozinha.
Mas, biblicamente falando, o pastor não é nem uma coisa, nem outra. Ele não é um simples clérigo, provedor de serviços ou ministérios espirituais. Tampouco é um diretor executivo, um gestor, ou um CEO, um presidente executivo. O pastor é um discipulador. Paulo escreveu: Timóteo, “o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros.” (2Tm 2.2, NAA).
Este versículo é, na verdade, a conclusão de um longo argumento iniciado pelo apóstolo lá no capítulo 1, versículo 13. Paulo vem sustentando que Timóteo deve permanecer firme, preservando a fé apostólica e dedicando-se a discipular homens fiéis, sobretudo diante da inconstância de outros que, outrora, estiveram no mesmo ministério com eles (1.13–2.2). Assim, o crescimento pessoal na graça e o discipulado de homens fiéis constituem o programa que Timóteo deveria seguir (2.1-2) para “guardar o bom depósito” (1.14).
2Timóteo 2.1-2 (NAA)
1Quanto a você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. 2E o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros.
Paulo deixou isso muito claro: o pastor é, essencialmente, um discipulador. Sim, ele é chamado a guardar e defender a sã doutrina (2Tm 1.13-14) e a pregar fielmente a Palavra (2Tm 4.2). Contudo, não pode negligenciar nem a evangelização (2Tm 4.5), nem o discipulado intencional (2Tm 2.2).
E discipular é uma tarefa que o pastor cumpre não apenas do púlpito, mas também no encontro pessoal, de um a um. Seu propósito é formar pessoas capazes de discipular outras, sempre fundamentadas na palavra de Deus e conduzidas por meio da sã doutrina.
Na última mensagem, domingo passado pela manhã, nós terminamos com a citação de uma frase de John Stott:
— “O cristianismo é, em sua própria essência, uma religião da palavra de Deus.”
O púlpito, portanto, é imprescindível, insubstituível — mas insuficiente.
Precisamos do movimento da Palavra: do preparo do pastor até o púlpito; do púlpito até o rebanho de Cristo; e de cada ovelha de Cristo até outros, que, por sua vez, possam transmitir a Palavra a muitos mais, de um a um.
Esse é o movimento da Palavra. É por isso que o púlpito não é suficiente. E é por isso que as KOINŌNIAS — ou seja, os pequenos grupos, os grupos de comunhão — são tão importantes para o povo de Deus, e para a Segunda Igreja Batista em Goiânia.
Mas, atenção!
Colin Marshall e Tony Payne, no excelente livro A Treliça e a Videira: a mentalidade de discipulado que muda tudo, publicado pela Editora Fiel em 2015, escreveram algo extremamente importante sobre a mentalidade de discipulado que devemos cultivar — tanto na igreja como um todo, quanto nos pequenos grupos — as nossas KOINŌNIAS.
Prestem atenção:
Na visão bíblica correta — a do pastor como discipulador —
o cuidado pastoral está também alicerçado em discípulos sendo treinados para cuidarem e discipularem outros cristãos.
Pequenos grupos podem ser um meio útil e conveniente para que isso aconteça. Mas é fundamental lembrar: a estrutura, por si só, não faz acontecer. Nosso alvo não deve ser apenas colocar pessoas em pequenos grupos.
A estrutura dos pequenos grupos jamais será eficaz para o verdadeiro crescimento espiritual, a menos que os cristãos sejam ensinados e treinados a se reunir uns com os outros, a lerem a Bíblia juntos, a orarem uns pelos outros, a exortarem-se mutuamente e a se estimularem ao amor e às boas obras.
É fato que, através dos pequenos grupos, as pessoas podem vir a se conhecer melhor, criar vínculos de intimidade, desenvolver amizades calorosas e comprometer-se mais com a frequência às reuniões e com o envolvimento na vida da igreja. Mas nenhuma dessas coisas, por si só, equivale a crescimento no evangelho.
Em uma congregação, é perfeitamente possível haver muito encorajamento pessoal e discipulado de forma individual, sem qualquer participação em pequenos grupos estruturados.
Perceberam?
A ideia é que os pequenos grupos sejam instrumentos para facilitar o entrosamento, promover a intimidade e, consequentemente, construir relacionamentos intencionais de discipulado mútuo, um a um. Sem essa intencionalidade, pequenos grupos correm o sério risco de se tornarem apenas encontros para uma simples resenha cristã.
Veja, é verdade que a aplicação bíblica tende a ser tanto mais eficaz quanto menor for o grupo de pessoas. E é por isso que os pequenos grupos são importantes. Entretanto, é no um a um que o ferro verdadeiramente afia o ferro, pela lima da palavra de Deus.
Provérbios 27.17 (NAA)
O ferro se afia com ferro, e uma pessoa, pela presença do seu próximo.
Feito este alerta, passarei agora a apresentar argumentos bíblicos para sustentar a afirmação que fiz na semana passada: o púlpito não é suficiente. Com isso, quero deixar claro que a Palavra precisa escorrer do púlpito para a vida de cada um de vocês — e, de cada um, para outros — de forma constante e ininterrupta.
É esse o movimento da Palavra que esperamos ver acontecer na Segunda Igreja Batista em Goiânia, e daqui, até os confins da terra.
Nosso ponto de partida é este: a palavra de Deus, em si, é um meio de graça. Vemos essa verdade confirmada em dois relatos que Lucas faz do ministério de Paulo.
Primeiro, ao final da primeira viagem missionária. Está escrito em Atos 14.3 (NAA):
Paulo e Barnabé ficaram bastante tempo em Icônio, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios.
Em seguida, na despedida aos presbíteros da igreja em Éfeso, Paulo declara em Atos 20.32 (NAA): “Agora, pois, eu os entrego aos cuidados de Deus e à palavra da sua graça, que tem poder para edificá-los e dar herança entre todos os que são santificados.”
A palavra de Deus é o principal meio de graça estabelecido pelo Senhor para comunicar as bênçãos da redenção às suas ovelhas. É chamada de “palavra da sua graça” porque ela anuncia a salvação como dom gratuito de Deus em Cristo, é confirmada pelo poder de Deus, e tem a força de salvar, edificar e santificar até conduzir os crentes à herança eterna.
A pregação do púlpito é o ponto de partida. É uma parte ordenada por Deus na vida comunitária da igreja. Portanto, antes de avançar no tema “o púlpito não é suficiente”, preciso deixar algo claro para me resguardar de qualquer mal-entendido: eu creio profundamente naquilo que faço. E aqui está o motivo:
2.Timóteo 3.16–4.2 (NVT)
16Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. 17Deus a usa para preparar e capacitar seu povo para toda boa obra.
4.1Eu lhe digo solenemente, na presença de Deus e de Cristo Jesus, que um dia julgará os vivos e os mortos quando vier para estabelecer seu reino: 2pregue a palavra. Esteja preparado, quer a ocasião seja favorável, quer não. Corrija, repreenda e encoraje com paciência e bom ensino.
Paulo está falando a Timóteo no contexto em que este pastoreava a igreja em Éfeso. E está lhe dizendo qual é o fundamento do seu ministério: o fato de que toda a Escritura é inspirada por Deus.
Em seguida, sem qualquer pausa, numa das exortações mais solenes e impressionantes — feita na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, quando ele vier para estabelecer seu reino — Paulo declara: “Pregue a Palavra, Timóteo.”
Isso recai sobre mim, no meu papel, com grande peso e responsabilidade. É por isso que digo: eu creio profundamente na pregação feita deste púlpito.
Mas, a Bíblia também deixa claro que pregar não é suficiente.
E aqui estão alguns motivos:
1. Todos os crentes são ministros
A igreja é uma congregação pactuada, na qual todos os membros são ministros.
Efésios 4.11-16 (NVT)
1. Os dons de liderança dados por Cristo
11Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para pastores e mestres.
2. O propósito da liderança
12Eles são responsáveis por preparar o povo santo para realizar sua obra e edificar o corpo de Cristo,
3. O alvo da liderança
13até que todos alcancemos a unidade que a fé e o conhecimento do Filho de Deus produzem e amadureçamos, chegando à completa medida da estatura de Cristo.
14Então não seremos mais imaturos como crianças, nem levados de um lado para outro, empurrados por qualquer vento de novos ensinamentos, e também não seremos influenciados quando nos tentarem enganar com mentiras astutas.
4. O fruto da liderança
15Em vez disso, falaremos a verdade em amor, tornando-nos, em todos os aspectos, cada vez mais parecidos com Cristo, que é a cabeça.
16Ele faz que todo o corpo se encaixe perfeitamente. E cada parte, ao cumprir sua função específica, ajuda as demais a crescer, para que todo o corpo se desenvolva e seja saudável em amor.
Pastores-mestres, portanto, são dados como presentes à igreja para preparar o povo de Deus. Seu alvo não é formar consumidores de sermões, mas discípulos maduros que crescem juntos rumo à plenitude de Cristo. Assim, a igreja alcança unidade na fé e no conhecimento, deixa para trás a imaturidade e a vulnerabilidade diante de enganos, e se torna um corpo vivo, saudável e amoroso — no qual cada membro serve ao outro, aplicando a Palavra de Deus de forma fiel e prática no dia a dia.
Os membros são os ministros, e nós, pastores/presbíteros/bispos, somos aqueles que preparam o povo para ministrar. Essa é a primeira razão pela qual o pastor, daqui do púlpito, sozinho, não é suficiente: todos os santos são ministros.
E agora, ao se prepararem para voltar ao mundo com a mensagem do evangelho, esta é minha súplica a Deus em favor de vocês:
Números 6.24-26
O SENHOR os abençoe e os guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre vocês e tenha misericórdia de vocês; o SENHOR sobre vocês levante o seu rosto e lhes conceda a paz.
S.D.G. L.B.Peixoto.
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Pr. Leandro B. Peixoto