

14.12.2025
João 1.1-14 (NVT)
1No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2Ele existia no princípio com Deus. 3Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado. 4Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. 5A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la. 6Deus enviou um homem chamado João 7para falar a respeito da luz, a fim de que, por meio de seu testemunho, todos cressem. 8Ele não era a luz, mas veio para falar da luz. 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo. 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão ou da vontade humana, mas nasceram de Deus. 14Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Ao abrirmos o Evangelho de João, somos imediatamente confrontados com uma das declarações mais audaciosas de qualquer literatura, em qualquer idioma. Falando de Jesus, João não inicia sua narrativa em Belém, nem em Nazaré. Ele nos transporta para além das brumas da criação, para um momento antes que houvesse tempo, com uma afirmação que define a realidade:
No princípio, aquele que é a Palavra já existia.
E o que nos traz aqui, a esse monte altíssimo da presença de Cristo, antes de tudo, antes que houvesse vida fora de Deus?
O Natal.
Para que você não siga o fluxo desembestado da multidão — que não para a fim de refletir sobre o sentido do Natal — e, assim, consiga saborear a mensagem do anjo aos pastores na região de Belém: “Eis que vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11, ARA); sim, para que você não perca esse sabor do verdadeiro Natal, estamos percorrendo esta série de mensagens sobre o Advento.
Estamos pensando juntos sobre o real significado do Natal, guiados por palavras-chave que nos ajudam a trilhar esse caminho. Domingo retrasado: consciência (o prólogo do Natal). Domingo passado: expectativa (a surpresa do Natal). Neste domingo: encarnação (o sentido do Natal). E nos próximos: adoração (o efeito do Natal), celebração (a alegria do Natal) e transformação (os efeitos do Natal).
Mas, nesta manhã, chegamos verdadeiramente ao coração da mensagem de Natal: a encarnação. Quero desembrulhar com vocês o conteúdo de João 1.14. Trata-se, talvez, da maior declaração no evangelho de João; na verdade, é difícil imaginar uma afirmação mais profunda em qualquer literatura, em qualquer idioma:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (NAA)
Há três declarações particulares que João faz neste versículo sobre sua própria experiência com o Senhor Jesus, para as quais quero chamar sua atenção:
Portanto, este será o nosso itinerário a partir de agora. Para compreender o real sentido do Natal, precisamos caminhar por estas três realidades: a eternidade, a natividade e a majestade de Cristo.
A primeira dessas realidades nos conduz diretamente ao relacionamento entre o Senhor Jesus e Deus na eternidade.
Não há como avançar para a mensagem do Natal sem antes passar por estas palavras de João:
1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio com Deus. 4Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (NAA)
Mas o que tudo isso significa?
O que João está tentando nos dizer?
Ao descrever o Senhor Jesus como o “Verbo de Deus”, João está ecoando o capítulo de abertura da Bíblia. Ele usa propositalmente a mesmíssima linguagem que inaugura as Escrituras: “No princípio, Deus” (Gn 1.1). Nesse mesmo princípio, acrescenta João, estava o Verbo (Jo 1.1).
Para qualquer um com conhecimento razoável da Bíblia, essa frase joanina funcionava como um transporte imediato através dos séculos, para além das brumas da criação, apontando-nos para um momento — se é que podemos usar essa linguagem — antes da criação, antes do tempo.
João faz esta declaração estarrecedora: Jesus estava lá no princípio com Deus. E, de fato, como o apóstolo deixa claro, o próprio Cristo era aquele Verbo que falou e trouxe o cosmos à existência — e sem ele, sem Cristo, “nada do que foi feito se fez.”
O Verbo
Mas por que João chama Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus, de “o Verbo”? “No princípio era o Verbo” — por que essa escolha?
John Piper coloca assim:
João chama Jesus de “o Verbo” porque ele passou a ver as palavras de Jesus e a própria pessoa de Jesus como a verdade de Deus de forma indissolúvel. Uma coisa só: vida e voz. João percebeu que o próprio Cristo — em sua vinda, obra, ensino, morte e ressurreição — era a mensagem final e decisiva de Deus.
Ou, para colocar de forma mais simples: o que Deus tinha a nos dizer não era apenas — ou principalmente — o que Jesus falava, mas quem Jesus era e o que ele fazia.
As palavras de Cristo explicavam a sua pessoa, mas o seu “eu” (a vida sem pecado) e a sua obra (o sacrifício substitutivo) eram a principal verdade que Deus estava revelando.
Jesus disse: “Eu sou a verdade” (Jo 14.6). Ele veio para dar testemunho da verdade e ele mesmo era a verdade. Suas palavras e sua pessoa formavam a Palavra da verdade. Seu testemunho, em vida e voz, era a verdade.
Notem a conexão que Cristo faz, em João 8.31: “Se vocês permanecerem na minha palavra, são verdadeiramente meus discípulos” (NAA), e mais adiante, em João 15.7, acrescenta: “Se permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês” (NAA). Ou seja: quando permanecemos em Cristo, estamos permanecendo na Palavra. Ele disse que as suas obras eram um “testemunho” a seu respeito (Jo 5.36; 10.25). Portanto, em sua vida e obra, em vida e voz, Cristo era o Verbo.
Assim, ao iniciar seu Evangelho, João tem em vista toda a revelação: toda a verdade, todo o testemunho, toda a glória, toda a luz, todas as palavras que saem de Jesus em seu viver, ensinar, morrer e ressuscitar. E ele resume toda essa revelação divina com este nome: Cristo é “o Verbo” — a Palavra primeira, final, suprema, decisiva, absolutamente verdadeira e confiável.
O significado é exatamente o mesmo de Hebreus 1.1-2:
1Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo. (NAA)
O Filho de Deus encarnado é a Palavra final e decisiva de Deus para o mundo. É Deus em ação — em ação para salvar “o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21).
O Logos
O uso do termo Logos estabelecia pontos de contato imediatos com a cultura: remontando a Heráclito (séc. V a.C.) e Filo (séc. I d.C.), o conceito já era conhecido como o princípio ordenador do universo, ou até personificado como o “filho mais velho” de Deus.
Porém, João faz uma correção necessária. Enquanto para o pensamento grego o logos era uma “razão” abstrata, distinta do mundo material e histórico, para o apóstolo inspirado pelo Espírito de Deus o logos nunca foi e jamais poderia permanecer uma força distante.
Em contraste com os gregos, para João, o Verbo — o Logos de Deus — se revela precisamente no seu “tornar-se carne”.
Ou seja: as palavras de Jesus e a própria pessoa de Jesus compõem a verdade de Deus de forma indissolúvel.
Tão importante quanto o que Jesus falou, foi a vida que ele viveu — uma vida sem pecado; a morte que ele padeceu — como propiciação pelos pecados do seu povo; e a ressurreição que experimentou — para a justificação do pecador que nele crê.
O Verbo estava com Deus
Pois bem, João chama Jesus de “o Verbo” e faz três afirmações fundamentais sobre o seu ser (1.1-2):
Mas talvez o mais impressionante seja a descrição relacional: “e o Verbo estava com Deus… Ele estava no princípio com Deus” (v. 1b, 2).
A preposição usada no original grego indica que o Verbo estava literalmente voltado para Deus. O erudito A. T. Robertson traduz isso assim: “o Verbo estava face a face com Deus” — absorvendo em seu relacionamento com o Pai a majestade do amor e da graça divinas.
E o fascinante é que João, o autor deste Evangelho, sabia o que era isso por experiência própria. Ele descreve a si mesmo como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 13.23). Era ele, João, quem, na última ceia, reclinou a cabeça sobre o peito de Jesus. Ele fitou os olhos de Cristo e viu ali, como o reflexo de um espelho, os olhos do Pai olhando para o Filho.
Para que não percamos a magnitude disso, João avança: não apenas o Verbo estava com Deus, mas “o Verbo era Deus” (v. 1). Ele fez todas as coisas (v. 3) e possuía vida em si mesmo — e por isso trazia vida e luz espirituais aos homens (v. 4). E a escuridão deste mundo jamais conseguirá apagar essa luz (v. 5).
Alguém poderia dizer: “Bem, essa é apenas a opinião de um homem”. E, de fato, era a opinião de um homem. A opinião de Jesus. Todo este Evangelho se dedica a explicar como Jesus conduziu João a essa conclusão, apresentando obras e palavras que são características exclusivas de Deus (é por isso que João diz que Cristo é o Verbo divino).
C.S. Lewis, em um de seus ensaios mais perspicazes: “O que devemos pensar a respeito de Jesus Cristo?”, abordou essa questão de forma brilhante. Argumentando que, quando se trata da pessoa de Cristo,
Não há meio-termo nem paralelo em outras religiões. Se você perguntasse a Buda: “Você é filho de Brama?”, ele responderia: “Filho meu, você ainda está no vale da ilusão.” Se perguntasse a Sócrates: “Você é Zeus?”, ele daria risada. Se perguntasse a Maomé: “Você é Alá?”, ele primeiro rasgaria as próprias vestes, depois decapitaria você. Se perguntasse a Confúcio: “Você é o céu?”, acho que ele provavelmente responderia: “Comentários em desacordo com a natureza são de mau gosto.”
(Deus no banco dos réus, p. 196)
O ponto é inegável: jamais podemos considerar Jesus apenas como um “grande mestre moral”. Se ele não fosse quem reivindicou ser (Deus, o Verbo divino), estaria longe de ser um mestre moral; seria um enganador, um blasfemo ou um louco.
A reivindicação de João nos confronta e desmantela nossa arrogância intelectual. Não podemos dar um tapinha nas costas de Jesus e elogiá-lo por sua ética. Ele era o que dizia ser, ou era um mentiroso. E a palavra de João, um homem que conviveu intimamente com Cristo, é esta: em relação à eternidade, ele é a própria divindade; ele é o Verbo divino.
Se, em relação à eternidade, Cristo é a própria divindade (Jo 1.1), em relação ao tempo passamos a conhecê-lo através de sua natividade. João declara isso sem rodeios no versículo 14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
É crucial notar o que João não diz. Ele não afirma que “o Verbo foi transformado em um homem”, nem que “o Verbo foi transformado em carne”. O apóstolo diz que “o Verbo se fez carne”. A escolha desse verbo é intencional: João quer enfatizar o quão longe Cristo viajou sem perder sua natureza divina. Cristo permaneceu sendo tudo o que sempre foi, mas agora ele é tudo isso em nossa carne humana (o Verbo se fez carne).
Na Bíblia, “carne” denota fraqueza e fragilidade (Is 40.6; Sl 78.39, ARA). Ela comunica o senso da pequenez humana, o impacto que o mundo exerce sobre os nossos sentidos, fazendo-nos sentir limitados no esquema deste vasto cosmos.
O que desconcerta João não é a teologia abstrata, é a memória visual dessa fragilidade. Ele, que anunciou o Verbo eterno, viu esse mesmo Verbo coberto de poeira na estrada de Samaria, vencido pelo cansaço físico e pedindo água como qualquer viajante exausto (Jo 4.6-7).
Mas foi em Betânia que o choque se tornou visceral. Ali, diante da sepultura, João testemunhou algo além do luto. Ele viu as lágrimas de compaixão no rosto de Jesus (Jo 11.35), mas percebeu também a respiração alterar-se, o corpo retesar e o espírito agitar-se em fúria. Diz João que Cristo, vendo Maria chorar, bem como os amigos que a acompanhavam, “agitou-se [bufou de ira, à maneira de um cavalo; cf. Dn 11.30 na LXX] no espírito e comoveu-se [turbou-se, angustiou-se, perturbou-se, alarmou-se” (Jo 11.33, ARA). Não era a postura de quem aceita o fim, mas a de um guerreiro que bufa antes do ataque. Jesus encarou a morte de Lázaro com ódio santo, indignado pela intrusão daquele inimigo na vida de seus amigos. E João viu tudo isso.
João foi aprendendo que Cristo se fez carne justamente para enfrentar a cruz. Assumiu nossa natureza porque somente assim poderia carregar o fardo de nossos pecados. E João também viu, com seus próprios olhos, que a pressão sobre a humanidade foi tamanha que, numa noite fria em Jerusalém, seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue (Lc 22.44). Tão real, tão frágil e tão fraca é esta carne.
No entanto, é precisamente aqui que João introduz o paradoxo divino. Ao dizer que o Verbo “habitou” entre nós (Jo 1.14), João usa uma linguagem que remete imediatamente ao Tabernáculo, a Tenda do Encontro no Antigo Testamento (Êx 40.34-35). Literalmente, o texto diz que Cristo “armou sua tenda” nessa carne frágil, e nela contemplamos a sua glória.
Talvez João esteja pensando no contraste com Moisés. Quando Moisés saía da Tenda do Encontro após falar com Deus, o povo temia contemplar a glória que brilhava em seu rosto (Êx 34.30), da mesma forma que temiam a voz de Deus no Sinai (Êx 20.19). Resumindo: eles temiam ver e ouvir.
Mas o que João diz sobre Cristo é o inverso. Moisés apenas refletia uma luz externa, ele apenas repassava o que Deus dizia. Só que Cristo não é apenas a própria voz de Deus, ele também é “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina toda a humanidade” (Jo 1.9, NAA). Não é um reflexo no rosto de um profeta; é a própria Glória presente conosco, habitando sob a tenda da carne, de modo que nós, de fato, contemplamos a glória do Unigênito do Pai (Jo 1.14).
Cristo é o Verbo de Deus que se fez carne.
Chegamos, então, à terceira realidade. Vimos o relacionamento de Cristo com Deus na eternidade, o seu relacionamento com o tempo na natividade, e agora vemos o seu relacionamento com a experiência humana na sua majestade: João afirma que contemplou a sua glória e majestade:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (Jo 1.14, NAA)
É algo incrível de se dizer sobre uma pessoa, não é? Costumamos dizer que uma paisagem é gloriosa, ou que um evento foi glorioso. Mas você já apontou para um ser humano e disse: “Ele é glorioso!”? João diz isso sobre o carpinteiro de Nazaré.
Mas onde reside essa glória?
A glória reside precisamente na distância, na tensão vertiginosa entre as duas realidades que vimos até agora. A glória do céu — a majestade, os serafins, os anjos e arcanjos, a luz inacessível de Deus —, toda a glória do céu descendo para a fraqueza de um ventre, para a poeira de uma manjedoura e para a necessidade desesperada do nosso mundo quebrado.
A glória está em que Cristo desceu do monte altíssimo para as regiões inferiores da terra. Ele se fez carne e habitou entre nós. Esse é o sentido do Natal.
Pensem comigo:
João não sabia tudo o que sabemos hoje sobre o universo. Astrônomos descobrem, a cada dia, milhares de galáxias e estrelas cuja magnitude nos escapa. Por exemplo:
O Extremely Large Telescope (ELT) será o telescópio terrestre mais poderoso já construído, com espelho primário de 39 metros, e está sendo construído e operado no Cerro Armazones, no deserto do Atacama, norte do Chile, a mais de 3.000 metros de altitude. Seu custo estimado é de cerca de R$ 7,8 bilhões.
Diz-se que sua potência permitirá observar exoplanetas — planetas que orbitam estrelas fora do nosso sistema solar, alguns deles potencialmente semelhantes à Terra — e estudar galáxias primitivas, isto é, galáxias formadas nos primeiros estágios do universo, próximas ao início da história cósmica.
É de cair o queixo!
Mas vocês se lembram de como a criação das estrelas é descrita no primeiro capítulo da Bíblia? Moisés, na brevidade do texto hebraico, descreve a criação do sol e da lua e acrescenta, quase como um detalhe casual:
“…e fez também as estrelas” (Gn 1.16).
Ora, cientistas nos dizem que a estrela Earendel está a cerca de 28 bilhões de anos-luz da terra. Para dimensionar essa distância, imagine que cada ano-luz fosse reduzido a apenas 1 centímetro: ainda assim, o percurso até Earendel corresponderia a 280 milhões de quilômetros, o que equivale a quase o dobro da distância média entre a Terra e o Sol. Isso é mais ou menos 150.000 viagens completas entre Goiânia e São Paulo.
Pois bem… Este é quem Cristo é. Aquele para quem “pendurar” as estrelas no espaço é um ato incidental, possui todo o poder e todo o conhecimento. — Você não acha que consegue se esconder ou se livrar dele esta manhã, acha? — E, no entanto, este Grande Ser, diz João, veio em carne e sangue.
Temos um pequeno vislumbre desse tipo de glória em nossa experiência humana. Imaginem uma mulher (ou um homem) de extrema dignidade, beleza e nobreza, alguém que não precisa de filtros e artifícios para ser notada(o), de tão encantadoramente bela(o). E então vemos essa pessoa nos lugares mais pobres, sujos e degradados da terra, cuidando de pessoas doentes e abandonadas.
Nós a consideramos menos gloriosa por estar ali, no meio da sujeira? Pelo contrário. É aí que a glória dela resplandece: na disposição de se inclinar. Sua beleza não depende do ambiente; é uma beleza que vem de dentro e que, de fato, embeleza, enobrece a feiura ao seu redor.
Esse é Jesus.
Foi isso que João viu. Em toda a sua necessidade, fraqueza e pecado, João se sentiu elevado pela graça. Embora fosse espiritualmente falido, o Senhor Jesus o abraçou e disse:
“João, eu recebo você.”
Há um detalhe literário fascinante aqui: temos dois “Joões” em João 1. João Evangelista e João Batista. E ambos apontam para a mesma realidade. O Apóstolo João diz: “Vimos a sua glória” (v. 14). E João Batista, mais adiante, vê “Jesus caminhando em sua direção”, aponta para ele e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29, NAA).
Meu povo, a coisa maravilhosa é esta: ambos estão dizendo exatamente a mesma coisa.
A glória de Jesus não é vista apenas na Transfiguração; ela é vista, suprema e definitivamente, no Calvário. Assim como aquela pessoa mostra sua beleza ao cuidar do doente, o Senhor Jesus mostra sua glória suprema ao morrer como um cordeiro sacrificial pelos pecado do seu povo.
Se o sentido do Natal é que o Deus que habita no monte altíssimo desceu às regiões inferiores da terra; se o sentido é que o Verbo eterno se fez carne para armar sua tenda em nossa fragilidade e revelar a sua glória na salvação de pecadores…
…então o convite do Natal é para que você deixe a sua orfandade.
João conclui este prólogo dizendo:
“O que aconteceu conosco foi isto: nós vimos a sua glória (v. 14). E a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (v. 12)”.
João está lidando aqui com o nosso problema mais fundamental. Independentemente de quem sejam seus pais terrenos, por natureza, você é espiritualmente órfão. Você tem vagado pelo universo, ou apenas pelas ruas desta cidade, procurando um lugar que possa chamar de lar.
João nos diz: este é o lugar. Cristo é o lugar.
Talvez você nunca, em toda a sua vida, tenha chamado Deus de “Pai” com sinceridade. Talvez tenha recitado o “Pai Nosso”, mas nunca houve um momento em que o instinto do seu coração gritou “Pai!”, ou: “Meu Pai!”.
O Natal não é algo que meramente celebramos; é algo que acontece conosco. É por isso que o Natal de muitos morre no dia 25 de dezembro mesmo, logo após se fartarem na ceia natalina. Porque celebram a festa, mas nunca receberam a Pessoa.
Por isso, quero perguntar muito simplesmente: você já recebeu a Cristo, pela fé? Você já obteve o direito de chamar o Deus que fez as estrelas de “Pai”, pela fé?
Que tal hoje?
Se nunca chamou Deus de “Pai”, esta pode ser a ocasião. Aqui pode ser o lugar. Curve-se e ore assim:
“Senhor Jesus, eu te agradeço por teres vindo das alturas do céu para as profundezas da terra.
Eu te agradeço por teres mostrado a tua beleza no mundo, na maneira como cuidaste dos perdidos e dos necessitados. Eu te agradeço por tratares o rico e o pobre da mesma forma, o sábio e o simples; e porque todos os que te buscaram tiveram acesso a ti, e todos os que clamaram a ti por misericórdia receberam misericórdia.
Eu te agradeço por esta confiança do Apóstolo João de que a todos quantos te receberam, deste o direito e o poder de se tornarem teus próprios filhos, nascidos não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas nascidos do alto pelo poder do teu Espírito.
E eu oro a ti pessoalmente esta manhã. Ó Santo Cristo de Belém, desce até mim, eu oro. Lança fora o meu pecado e entra. Nasce em mim hoje.
E oro isto em teu nome. Amém.”
S.D.G. L.B.Peixoto.
Mais Sermões
Mais Séries
Do monte altíssimo para as regiões inferiores da terra
Pr. Leandro B. Peixoto