28.09.2025
Efésios 2.19-22 (NVT)
19Portanto, vocês já não são estranhos e forasteiros, mas concidadãos do povo santo e membros da família de Deus. 20Juntos, somos sua casa, edificados sobre os alicerces dos apóstolos e dos profetas. E a pedra angular é o próprio Cristo Jesus. 21Nele somos firmemente unidos, constituindo um templo santo para o Senhor. 22Por meio dele, vocês também estão sendo edificados como parte dessa habitação, onde Deus vive por seu Espírito.
Desde o primeiro domingo de agosto, temos mergulhado juntos em uma sequência intensa de sermões — como quem maratona uma série, mas com sede da Palavra. Com esta, somam-se oito mensagens, todas voltadas para um só tema: koinōnia. A comunhão dos santos. A vida compartilhada na presença de Cristo.
Falamos da igreja como aquele povo que se reúne, domingo após domingo, para adorar o seu Senhor — o Rei Jesus. Mas que, ao longo dos dias, procura — com intenção e constância — maneiras de motivar uns aos outros ao amor e às boas obras. Uma igreja que não espera sentada, mas se levanta. Que não anda sozinha, mas caminha junta. Que encoraja uns aos outros, sobretudo agora que o Dia se aproxima.
Essas mensagens têm servido como Uma introdução à prática dos pequenos grupos. Uma ponte entre o culto público e o discipulado cotidiano.
Partimos de Hebreus 3.12-14 e dissemos com clareza: Precisamos uns dos outros. Não apenas do pastor. Não só dos presbíteros. Não somente dos diáconos. Precisamos da presença fraterna de irmãos e irmãs que cuidam, exortam e sustentam.
Em Deuteronômio 6.4-9, aprendemos que O púlpito não é suficiente. A pregação é essencial — mas não é tudo. Ela é indispensável, insubstituível, mas insuficiente. O evangelho precisa se espalhar pelas casas, pelas mesas, pelos corredores da vida. Precisa circular onde os passos são cotidianos, onde os afetos se formam, onde a vida real acontece. Ali, instruções e encorajamentos se repetem diariamente — de um a outro, de uns aos outros.
Com 2Timóteo 2.1-2, contemplamos o que chamamos de O movimento da Palavra. A Palavra que não repousa no púlpito, mas flui dele para cada coração — e de um coração para outro — como um rio que nunca seca.
Expusemos, então, razões bíblicas e teológicas para reafirmar o que tantos têm esquecido: você precisa estar com a igreja aos domingos. Mas também precisa de algo mais. Você precisa da assembleia da igreja e Você precisa de um pequeno grupo. E, a partir dele, de vínculos ainda mais pessoais, como o discipulado individual. Foi sobre isso que falamos à luz de Efésios 2.12-22.
A base de tudo é a seguinte: cada crente é um ministro. Cada crente é chamado. Cada crente é necessário. Capacitado pelo Espírito, indispensável no Corpo, vocacionado para ministrar a Palavra — seja liderando um pequeno grupo, aconselhando um irmão, orando com uma irmã, ensinando numa classe, ou simplesmente caminhando lado a lado na fé.
Diante desse quadro, a pergunta surgiu com naturalidade: era assim mesmo na igreja primitiva? Esse modelo relacional e orgânico é fiel ao padrão original?
Voltamos então nossos olhos para Atos 2.42-47 e ali encontramos Um panorama da igreja primitiva. Uma janela para os primeiros dias. Um modelo de comunhão, doutrina, oração e partir do pão — no templo e de casa em casa, todos os dias. Contemplamos, assim, O modelo original da igreja.
Por fim, percorremos a história de Jônatas e Davi, em 1Samuel 23.13-18, e encontramos ali uma figura viva daquilo que devemos ser uns para os outros. Vimos o valor de uma palavra fiel, centrada em Deus, dita com intencionalidade, na hora certa. O consolo que vem não apenas do céu, mas d’A mão de Deus na palavra de um irmão.
Pois bem, nesta manhã, encerrando esta série, quero chamar sua atenção para O elo da comunhão da igreja.
Por quê?
Porque, quando se fala em comunhão, muitos pensam apenas em comer juntos, oferecer cuidado, conviver com afeto, partilhar o que é material. E, de fato, a comunhão envolve isso: ter coisas em comum, dividir pão, presença e provisão. Mas não se resume a isso.
Se fosse apenas isso, não estaríamos falando de comunhão cristã. Não estaríamos falando de igreja.
Pense comigo: é realmente necessário ser cristão para partilhar comida, companhia, cuidado ou carinho? Sejamos honestos. Claro que não. Essas práticas — por mais belas que sejam — podem existir fora da fé bíblica. Podem ser vividas em qualquer religião, em qualquer roda de amigos, em qualquer lar generoso, em qualquer comunidade solidária. Podem acontecer até entre aqueles que não creem em Deus — ou que não fazem questão.
Você já ouviu falar, por exemplo, do grupo Atheists Helping the Homeless (Ateus ajudando os sem-teto)? Eles se reúnem regularmente no estado do Texas, em cidades como Austin, Dallas, Houston e também em Washington D.C., nos Estados Unidos, para distribuir kits de higiene, roupas e alimentos às pessoas em situação de rua. Há também a Foundation Beyond Belief (Fundação Para Além da Fé), com sede em Atlanta, que reúne ateus e agnósticos para arrecadar recursos e financiar projetos humanitários em diversos países.
Além disso, existem iniciativas de cunho agnóstico-humanista, como a Humanist Global Charity (Organização Humanista Global de Caridade), atuando em países da África, Ásia e América Latina em áreas como educação, saúde e combate à pobreza. Também há grupos como o Recovering from Religion (Superando a Religião), oferecendo apoio psicológico e comunitário a pessoas que abandonaram a fé — formando, na prática, redes de cuidado e acolhimento.
Meus irmãos, não se escandalizem. Não estou fazendo apologia, apenas expondo um fato: até mesmo grupos que se identificam como satanistas — como o The Satanic Temple (O Templo Satânico), com sedes em cidades como Detroit, Phoenix e Boston — se organizam para doar sangue, arrecadar alimentos e apoiar comunidades vulneráveis.
O que isso nos mostra?
Ora… Isso revela que solidariedade, partilha e cuidado não são exclusivos daqueles que professam crer em Jesus. Essas ações podem existir — e de fato existem — sem qualquer referência a Cristo ou à fé cristã.
Mas aqui está o ponto decisivo e o alerta para nós, crentes em Cristo: por mais belas que sejam, essas ações ainda não constituem comunhão cristã. Pois comunhão cristã não é apenas repartir pão ou recursos, nem simplesmente oferecer cuidado e carinho — é, sobretudo, partilhar Cristo e a vida que, pelo Espírito, nós temos no Pai e no Filho.
Sem Jesus, por mais que haja partilha, e até a palavra “igreja” numa fachada, não há igreja. E não há comunhão cristã.
Jesus mesmo nos advertiu: “Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Sua adoração é uma farsa, pois ensinam ideias humanas como se fossem mandamentos divinos” (Mateus 15.8-9, NVT). A aparência externa pode até convencer os homens, mas não engana o Senhor.
O coração da comunhão cristã é Cristo. É Cristo amado, valorizado, exaltado — acima de tudo. E é desse tesouro maior que flui o nosso amor ao próximo.
A comunhão cristã só é cristã se Cristo for o centro — não apenas como exemplo ético, mas como o tesouro compartilhado. A essência da comunhão não está no que damos uns aos outros, mas em quem desfrutamos juntos: Cristo glorificado. Ele é o elo. Ele é o pão verdadeiro. Ele é o bem supremo que todos, juntos, celebramos, adoramos, desejamos acima de tudo — e repartimos uns com os outros.
Sem Cristo, o vínculo se desfaz em mera sociabilidade. Mas com Cristo — e por causa de Cristo — a comunhão se torna adoração. Torna-se deleite mútuo em Deus.
Como afirma John Piper: “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele.” Assim também, a igreja é mais verdadeira quando sua comunhão está encharcada de Cristo — quando Cristo é visto, saboreado e proclamado como o maior bem que temos em comum.
E, naturalmente, isso se traduzirá em obras. Afinal, “a fé por si mesma, a menos que produza boas obras, está morta” (Tiago 2.17, NVT). E o mesmo Tiago declara: “Assim como o corpo sem fôlego está morto, também a fé sem obras está morta” (Tiago 2.26, NVT).
A igreja não é um fenômeno demográfico. Ela é um fenômeno do evangelho — o evangelho de Cristo. Ou seja, o que nos une não é a experiência de vida semelhante, nem a faixa etária, nem a identidade, nem uma causa, nem mesmo uma necessidade em comum. O que nos une é Cristo. Ele é o fundamento da nossa unidade. Ele é o elo da nossa comunhão.
NOSSA COMUNHÃO, PORTANTO, não está firmada nos mesmos interesses, mas nos interesses de Cristo, revelados no evangelho. Não é sobre o que cada grupo etário deseja, mas sobre o que Cristo ordena. Não é sobre o que cada segmento espera receber, mas sobre aquilo que todo ser humano — jovem ou idoso, pobre ou rico, letrado ou simples — desesperadamente precisa: reconciliação com Deus por meio do sangue da cruz; e santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. A comunhão da igreja nasce disso. Vive disso. E se sustenta nisso. Cristo. Cristo é suficiente. Cristo é o que há de mais cativante — em nós, em nossos laços, em nossos pequenos grupos, em nossa igreja.
koinōnia
No Novo Testamento, o termo koinōnia aparece cerca de dezenove vezes. O seu significado é profundo: participar de algo com alguém, ter parte em comum, estar envolvido numa mesma causa. É mais do que proximidade; é envolvimento real, é vida entrelaçada.
Um exemplo claro está em Atos 2.42, 44-45 (NVT), que nós já estudamos:
“42Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos, à comunhão [gr.: koinōnia], ao partir do pão e à oração… 44Os que criam se reuniam num só lugar e compartilhavam [gr.: koiná] tudo que possuíam. 45Vendiam propriedades e bens e repartiam o dinheiro com os necessitados.”
Aqui, a comunhão não é teoria, mas prática. Não é apenas sentimento de afeto, mas ação concreta que nasce da fé em Cristo. Eles estavam unidos não só em palavras, mas em Cristo — e, consequentemente, — em bens, em vida, em sacrifício. O que os movia não era um ideal humano de solidariedade, mas a vida de Cristo pulsando neles e no meio deles.
E a prova de que se tratava de algo maior do que mera solidariedade está na forma como o mesmo termo koinōnia é usado no Novo Testamento. Veja como koinōnia expressa realidades preciosas — sobrenaturais.
Koinōnia significa, por exemplo, ter comunhão na propagação do evangelho:
Filipenses 1.3-6 (NVT)
3Todas as vezes que penso em vocês, dou graças a meu Deus. 4Sempre que oro, peço por todos vocês com alegria, 5pois são meus cooperadores [gr.: Koinōnia] na propagação das boas-novas, desde o primeiro dia até agora. 6Tenho certeza de que aquele que começou a boa obra em vocês irá completá-la até o dia em que Cristo Jesus voltar.
Koinōnia também é usado para indicar a contribuição financeira destinada aos pobres em Jerusalém — ou seja, partilhar recursos materiais como expressão de graça e amor. Observe o que Paulo escreve em Romanos 15.26 (NVT): “Pois os irmãos da Macedônia e da Acaia juntaram, de boa vontade, uma oferta/coleta [gr.: koinōnian] para os pobres dentre o povo santo em Jerusalém.” E em 2Coríntios 8.4 (NVT), ele testemunha: “Eles nos suplicaram repetidamente o privilégio de participar [gr.: koinōnian] da oferta ao povo santo.” E ainda, em 2Coríntios 9.13 (NAA), Paulo declara: “Na prova deste serviço, eles glorificam a Deus pela obediência da confissão que vocês fazem do evangelho de Cristo e pela generosidade com que vocês contribuem [gr.: koinōnias] para eles e para todos.”
Mas, acima de tudo — e este é o elo supremo da comunhão da igreja — koinōnia significa ter parte nos benefícios da vida e da obra de Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo declara em 1Coríntios 1.9 (NVT): “Deus é fiel, e ele os convidou [chamou] a ter comunhão [gr.: koinōnian] com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.” E acrescenta em 1Coríntios 10.16 (NVT): “Quando abençoamos o cálice à mesa, não participamos [gr.: koinōnia] do sangue de Cristo? E, quando partimos o pão, não participamos [gr.: koinōnia] do corpo de Cristo?” E mais: em Filipenses 3.10 (NAA) ele escreve: “O que eu quero é conhecer Cristo e o poder da sua ressurreição, tomar parte [gr.: koinōnian] nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte.”
Meus irmãos! Tudo isso mostra que a comunhão significa tanto compartilhar, em sentido vertical, a união que cada um de nós possui com Cristo, como também compartilhar, em sentido horizontal, a união comum que temos uns com os outros por causa de Cristo.
Esse duplo compartilhar — no Pai e no Filho — é exatamente o que está em vista em 1João 1.3 (NVT), onde o apóstolo afirma: “Anunciamos-lhes aquilo que nós mesmos vimos e ouvimos, para que tenham comunhão [gr.: koinōnian] conosco. E nossa comunhão [gr.: koinōnia] é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.”
O que João está dizendo é o seguinte:
“Meus irmãos, minhas irmãs, quando vocês compartilham conosco, nós, as testemunhas oculares de Cristo… quando participam das realidades que vimos e ouvimos, ou seja, das verdades gloriosas a respeito de Jesus… vocês não apenas compartilham conosco. Vocês entram na própria comunhão que temos com o Pai e com o Filho.”
Ah, meus irmãos! Essa é a beleza da koinōnia cristã. Esse é o seu elo.
Ela não é apenas vínculo humano, nem um ideal de solidariedade, mas uma união profunda, enraizada na nossa participação conjunta, na nossa comunhão em Cristo — que, pelo Espírito Santo, nos une ao Pai e ao Filho, e, pelo mesmo Espírito, nos entrelaça uns aos outros em amor e verdade.
E é justamente por isso que a koinōnia cristã é um meio de perseverança. Porque dela brota a mutualidade — o cuidado mútuo, a exortação mútua, a edificação mútua — sem os quais nenhum de nós permanece firme até o fim.
Portanto, podemos dizer com convicção: “mútuo” é o adjetivo que melhor corresponde ao substantivo “comunhão” — que é essa koinōnia que os cristãos têm com Cristo e, nele, uns com os outros.
Agora, amarremos tudo isso. Vejamos como essa koinōnia deve se manifestar na igreja local. O apóstolo Paulo descreve isso em Efésios 2 e 3.
Ele começa com o evangelho (Ef 2.1-10): “Estávamos mortos em nossos delitos e pecados” (v. 1). Mas Deus, em sua rica misericórdia, “nos deu vida juntamente com Cristo” (v. 5). Somos salvos pela graça, mediante a fé — “não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (vv. 8-9) — mas, ao mesmo tempo, fomos salvos para “realizar as boas obras que ele de antemão preparou para nós” (v. 10).
Até aqui, vemos a beleza da salvação pessoal. Mas Paulo deixa claro: o evangelho não termina na experiência individual; ele se desdobra em implicações comunitárias, congregacionais: “boas obras” — e, às vezes, até perturbadoras.
A principal implicação é unidade. No final do capítulo 2, Paulo explica que, na cruz, Cristo destruiu a parede de separação entre judeus e gentios. Dos dois, ele criou “uma nova humanidade” (v. 15). “Reconciliou com Deus em um só corpo, por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade” (v. 16). E agora, “por causa do que Cristo fez, todos temos acesso ao Pai pelo mesmo Espírito” (v. 18).
O resultado é extraordinário: fomos feitos “concidadãos do povo santo e membros da família de Deus” (v. 19). Em Cristo, estamos sendo “firmemente unidos, constituindo um templo santo” (v. 21), “uma habitação de Deus no Espírito” (v. 22).
Repare: essa unidade não é fruto de afinidade natural, gosto pessoal, status social, identidade étnica, gênero, faixa etária ou preferências culturais. Ela vem da cruz. Afinal, o que mais poderia unir judeus e gentios, povos separados por séculos de ódio, religião e cultura? Nada. Só Cristo. E qual é o propósito dessa unidade? Paulo responde em Efésios 3.10: “O plano de Deus era mostrar a todos os governantes e autoridades nos domínios celestiais, por meio da igreja, as muitas formas da sabedoria divina.”
Isso é impressionante! A igreja local, a Segunda Igreja Batista em Goiânia, é chamada a ser uma vitrine da sabedoria de Deus — não só diante do mundo, mas até diante dos poderes espirituais. Como? Por meio de uma unidade que o mundo não consegue explicar e jamais será capaz de replicar — porque o elo está em Cristo.
Pense num grupo de judeus e gentios do primeiro século — dois povos que só tinham em comum o desprezo mútuo. Coloque-os na mesma igreja: o que esperaríamos? Conflito, divisão, ressentimento, briga, bate-boca… Só que não! Por causa de Cristo, eles se tornam um só corpo, uma só família. Vivem em paz, na mesma igreja local.
É exatamente isso que deve acontecer conosco, aqui e agora. Nosso mundo está polarizado. Vemos isso todos os dias: pautas ideológicas e sociais que dividem — esquerda e direita, conservadorismo e progressismo… impõem-se-nos disputas de classe, de cor, de gênero… há debates sobre identidade, economia, cultura e religião. O mundo se fragmentou.
A lógica das redes sociais só reforça essa fragmentação: cada um fechado na sua bolha, cada grupo confinado à sua própria ‘tribo’ — guiados pelo santo espírito do todo-poderoso algoritmo. Ah, meu povo! Essas tensões são reais. São seríssimas. Mas, sem saber como resolver ou como fazer prevalecer a verdade, as pessoas se digladiam. O Coliseu da era digital são as próprias redes sociais. E ali todo mundo entra: do adolescente às ‘tias do WhatsApp’, como costumam dizer; do novo ao velho.
E o pior: parece não haver esperança. E, de fato, não há — não na praça pública, não nas redes sociais, não nas ideologias humanas.
A única esperança está no evangelho — o evangelho que ilumina as trevas com a luz de Cristo e, pelo sangue de Jesus, une pessoas de todos os povos, tribos, línguas e nações sob o governo do Rei Jesus, conforme a palavra de Deus.
E a forma como essa nova humanidade em Cristo deve viver se estampa na vida das igrejas locais — ou, pelo menos, deveria se estampar. Portanto, aqui na SIB Goiânia, a lógica não pode ser a mesma do mundo.
O que nos une não é moda, não é classe, não é partido, não é ideologia e não é pauta. Aliás, a nossa pauta é Cristo. Ele é o elo. Ele é o fundamento da nossa comunhão.
E, por isso, nossas armas — a maneira como reagimos, como militamos, como enfrentamos as diferenças — são completamente diferentes das armas do mundo.
No mundo, quem pensa diferente é cancelado, atacado, até morto. Na igreja, porém, o caminho é outro: ensinar e disciplinar, corrigir e restaurar, sempre com graça e verdade.
Disciplina formativa e corretiva
Foi exatamente isso que Paulo descreveu quando escreveu à igreja, mostrando como devemos militar dentro da igreja local:
2Coríntios 10.3-6 (NVT)
3Embora sejamos humanos, não lutamos conforme os padrões humanos. 4Usamos as armas poderosas de Deus, e não as armas do mundo [i.e., humana, sabedoria mundana ou metodologias engenhosas; cf. 1Co 1.17-25; 2.1-4], para derrubar as fortalezas do raciocínio humano e acabar com os falsos argumentos. 5Destruímos todas as opiniões arrogantes que impedem as pessoas de conhecer a Deus [i.e., “empunhem a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”; cf. Ef 6.17]. Levamos cativo todo pensamento rebelde e o ensinamos a obedecer a Cristo. 6E, depois que vocês se tornarem inteiramente obedientes, estaremos prontos para punir todos que insistirem em desobedecer.
Paulo está falando tanto da disciplina formativa quanto da corretiva. Ele nos exorta: “empunhem a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6.17). E, com ela, derrubem fortalezas do raciocínio humano, desfaçam falsos argumentos, destruam opiniões arrogantes que obscurecem a glória de Deus, ensinem e conduzam todo pensamento rebelde à obediência de Cristo.
Na prática, para nós aqui na SIB Goiânia, isso significa cultivar a disciplina formativa — e, quando necessário, exercer também a disciplina corretiva.
Disciplina formativa
1Tessalonicenses 5.14 (NVT): “Irmãos, pedimos que advirtam os indisciplinados. Encorajem os desanimados. Ajudem os fracos. Sejam pacientes com todos.”
Gálatas 6.1 (NVT): “Irmãos, se alguém for vencido por algum pecado, vocês que são guiados pelo Espírito devem, com mansidão, ajudá-lo a voltar ao caminho certo. E cada um cuide para não ser tentado.”
2Timóteo 2.22-26 (NVT): “Fuja de tudo que estimule as paixões da juventude. Em vez disso, busque justiça, fidelidade, amor e paz… O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente… corrigindo com mansidão aqueles que se opõem, na esperança de que Deus os leve ao arrependimento e, assim, conheçam a verdade. Então voltarão ao perfeito juízo e escaparão da armadilha do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer.”
Tiago 5.19-20 (NVT): “Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e for trazido de volta, saibam que quem trouxer o pecador de volta de seu desvio o salvará da morte e trará perdão para muitos pecados.”
1 Pedro 4.8 (NVT): “Acima de tudo, amem uns aos outros sinceramente, pois o amor cobre muitos pecados.”
Judas 22-23 (NVT): “Tenham compaixão daqueles que vacilam na fé. Resgatem outros, tirando-os das chamas do julgamento. De outros ainda, tenham misericórdia, mas façam isso com grande cautela, odiando os pecados que contaminam a vida deles.
Disciplina corretiva
E, se depois de tudo isso alguém persiste no erro e na desobediência, a igreja aplica a disciplina eclesiástica — ainda assim, sempre com a esperança de que haja restauração.
2Coríntios 10.6 (NVT): “E, depois que vocês se tornarem inteiramente obedientes, estaremos prontos para punir todos que insistirem em desobedecer.”
1Coríntios 5.5, 12-13 (NVT): “Entreguem esse homem a Satanás para que seu corpo seja destruído, a fim de que seu espírito seja salvo no dia do Senhor. […] 12Não cabe a mim julgar os de fora, mas certamente cabe a vocês julgar os que estão dentro. 13Deus julgará os de fora. Portanto, eliminem o mal do meio de vocês.”
Mateus 18.15-17 (NVT): “15Se um irmão pecar contra você, fale com ele em particular e chame-lhe a atenção para o erro. Se ele o ouvir, você terá recuperado seu irmão. 16Mas, se ele não o ouvir, leve consigo um ou dois outros e fale com ele novamente, para que tudo que você disser seja confirmado por duas ou três testemunhas. 17Se ainda assim ele se recusar a ouvir, apresente o caso à igreja. Então, se ele não aceitar nem mesmo a decisão da igreja, trate-o como gentio ou como cobrador de impostos.”
1 Timóteo 1.19-20 (NVT): “19Apegue-se à fé e mantenha a consciência limpa, pois alguns rejeitaram deliberadamente a consciência e, como resultado, a fé que tinham naufragou. 20Himeneu e Alexandre são dois exemplos. Eu os entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.”
Mas, quando esse pecador se arrepende e busca restauração, a igreja deve recebê-lo novamente em sua comunhão. Esse é o caminho do evangelho. Leia a instrução de Paulo:
2Coríntios 2.5-11 (NVT)
5Não exagero quando digo que o homem que causou tantos problemas magoou não somente a mim, mas, até certo ponto, a todos vocês. 6A maioria de vocês se opôs a ele, e isso já foi castigo suficiente. 7Agora, porém, é hora de perdoá-lo e confortá-lo; do contrário, pode acontecer de ele ser vencido pela tristeza excessiva. 8Peço, portanto, que reafirmem seu amor por ele. […] 10Se vocês perdoam esse homem, eu também o perdoo. E, quando eu perdoo o que precisa ser perdoado, faço-o na presença de Cristo, em favor de vocês, 11para que Satanás não tenha vantagem sobre nós, pois conhecemos seus planos malignos.
A nova humanidade
É assim que a igreja — “a nova humanidade” em Cristo — lida com pecados e pensamentos contrários ao evangelho dentro da sua comunhão. O mundo olha e fica perplexo, porque não sabe agir assim.
Paulo mostra que essa comunidade é notável em duas dimensões.
Primeira dimensão, a largura: ela alcança pessoas que jamais se uniriam sem o poder do evangelho. Como disse Jesus: “Se amarem apenas aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os cobradores de impostos fazem o mesmo.” (Mt 5.46, NVT). A comunhão cristã é amar quem, naturalmente, não amaríamos.
Segunda dimensão, a profundidade: não se limita a uma tolerância educada, mas se torna vínculo real, enraizado em Cristo. Paulo chama essa comunidade de “uma nova humanidade” e de “família de Deus” (Efésios 2.15, 19, NVT).
Largura e profundidade sobrenaturais tornam visível a glória de um Deus invisível.
Essa era a intenção de Deus para a igreja em Éfeso. E é a mesma intenção para a nossa igreja, a SIB Goiânia.
Resumindo, Efésios 2 e 3 nos ensinam duas verdades fundamentais:
Por isso, meu irmão, minha irmã, a pergunta que devemos fazer é esta: a comunhão da nossa igreja revela o evangelho — ou apenas reflete as nossas preferências humanas?
À luz de tudo o que foi exposto até aqui, quero concluir esta série apresentando, de forma breve e direta, 7 razões pelas quais você precisa de um pequeno grupo — e por que deve se envolver no ministério da Palavra um a um, vivendo na prática a mutualidade cristã.
Minha oração por você é que o Espírito Santo acenda em seu coração um amor sincero pela comunhão dos santos e um compromisso renovado com o chamado para ministrar a Palavra — não apenas recebê-la, mas também compartilhá-la com graça, com verdade e com fidelidade. Tudo isso para a glória de Deus e para o bem do corpo de Cristo.
Por isso, vou destacar agora 7 razões pelas quais você precisa de um pequeno grupo.
1. A multidão
É forte a tentação de se esconder na multidão: vir no domingo, ouvir o sermão e sair sem se envolver. Mas viver a fé de modo anônimo é nocivo; fomos chamados para comunhão real e amorosa com o povo de Deus.
Pratique:
2. A passividade
Ouvir de forma passiva enfraquece a fé; muitos escutam sermões por anos sem aplicar a Palavra. O ensino precisa sair do púlpito e se fixar no coração pela mutualidade cristã.
Pratique:
3. A fuga
Na multidão é fácil esconder crises espirituais, mas em grupos menores a vulnerabilidade se revela e o cuidado mútuo conduz ao arrependimento e à restauração.
Pratique:
4. A aplicação
Em grandes grupos, a aplicação do sermão facilmente se perde; já nos pequenos grupos, a Palavra ganha forma na vida prática — no lar, no trabalho e nos relacionamentos.
Pratique:
5. A interação
Após o sermão não há espaço para perguntas, mas nos grupos menores há diálogo, dúvidas e partilhas que fortalecem o entendimento da Palavra.
Pratique:
6. A prestação de Contas
No grande grupo, decisões espirituais facilmente se perdem; nos pequenos grupos, irmãos se ajudam a perseverar pela exortação e encorajamento mútuos.
Pratique:
7. A oração e o cuidado mútuo
Na multidão, necessidades pessoais passam despercebidas; nos pequenos grupos, elas são compartilhadas, sustentadas em oração e acompanhadas com amor.
Pratique:
Amarrando os pontos
Os pastores não podem — nem foram chamados — para carregar sozinhos o peso das dores e necessidades do rebanho. O cuidado não é apenas do púlpito, mas de toda a igreja, pois o Senhor nos fez ministros uns dos outros. Cada irmão e cada irmã é chamado a aconselhar, consolar, orar e sustentar no poder do Espírito.
É no contato de um a um, no exercício do “uns aos outros”, que a Palavra se encarna no dia a dia. E os pequenos grupos são o ambiente ideal para cultivar esses relacionamentos. Assim, a obra de Cristo não se limita ao culto público, mas transforma multidão em família, anonimato em comunhão e dor em cuidado mútuo.
Senhor nosso Deus e Pai,
Em nome de Jesus, nosso Senhor e elo da nossa comunhão, nós oramos.
Amém.
E agora, ao se prepararem para voltar ao mundo com a mensagem do evangelho, esta é minha súplica a Deus em favor de vocês:
Hebreus 13.20-21
Que o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, aperfeiçoe vocês em todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em nós o que é agradável diante dele, por meio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!
S.D.G. L.B.Peixoto.
Mais Sermões
Mais Séries
O Elo da Comunhão da Igreja
Pr. Leandro B. Peixoto