03.08.2025
Você é organizado?
Organizar a vida já não é tarefa fácil. Mas reorganizá-la, quando tudo parece bagunçado, é ainda mais desafiador. Principalmente quando nos faltam modelos. Quando não temos exemplos a seguir.
Esse é um problema que atinge a todos. Mas tenho para mim que adolescentes e jovens são os que mais sentem essa enfermidade silenciosa. Atolados em compromissos. Invadidos por desejos. Deslumbrados por descobertas, distrações e pressões. Sentem dificuldade em gerenciar o tempo, manter rotinas e vencer a procrastinação. Isso gera ansiedade. E frustração.
E quando algo sai do lugar — seja uma crise pessoal ou familiar, um acidente, uma enfermidade, um erro ou um momento de desânimo — falta-lhes força para recomeçar e pôr tudo em ordem outra vez.
Embora vivam cercados de ferramentas digitais que prometem ajudar, muitos continuam sobrecarregados e confusos. Porque a verdadeira organização não começa em um aplicativo ou numa agenda. Ela começa no coração. E na mente.
A verdade é que, sem Deus, reorganizar a vida se torna um peso insuportável. Mas ele nos oferece graça. Direção. E esperança para recomeçar. Para se reorganizar.
Esse também era o problema de Israel, em Números 26 a 36.
Praticamente todos, naquela geração, eram jovens ou adultos com idades até 59 anos. Isso porque, após a rebelião em Cades-Barnéia, Deus decretou que nenhum homem com 20 anos ou mais entraria na Terra Prometida, exceto Josué e Calebe.
Assim, aqueles que tinham menos de 20 anos na época do decreto chegaram às planícies de Moabe com, no máximo, cerca de 57 a 59 anos.
Detalhe importante: sem poder contar muito com o exemplo dos pais e avós — os quais tanto murmuraram contra Deus e morreram no deserto.
A exceção entre os mais velhos ficava por conta de Moisés, com 120 anos, e de Josué e Calebe, que já giravam em torno dos 80.
Portanto, o povo que estava às portas de Canaã era formado, em sua maioria, por uma geração jovem ou de meia-idade. Crianças, adolescentes, jovens e adultos que não tiveram os melhores exemplos.
Uma geração chamada a confiar em Deus. A abraçar suas promessas. Uma geração convocada a aprender com os erros do passado e a reorganizar a vida segundo a vontade do SENHOR.
Ora… Se houve esperança para eles, o que te faz pensar que não haja esperança para você, que talvez não pôde também contar com o exemplo dos seus pais? O que te faz achar que você não conseguirá reorganizar a sua vida a partir dos cacos? O que te faz pensar que o seu problema é tão grande que não dá para reorganizar, reordenar o seu coração — e a sua vida — em Jesus Cristo, pelo poder do Espírito, para a glória de Deus Pai?
É possível, sim. Em Cristo, é possível.
O apóstolo João acreditava que, em Cristo, é sim possível:
12Escrevo a vocês, filhinhos, porque seus pecados foram perdoados pelo nome de Jesus. 13Escrevo a vocês, pais, porque conhecem aquele que existia desde o princípio. Escrevo a vocês, jovens, porque venceram a batalha contra o maligno. 14Escrevi a vocês, filhinhos, porque conhecem o Pai. Escrevi a vocês, pais, porque conhecem aquele que existia desde o princípio. Escrevi a vocês, jovens, porque são fortes. A palavra de Deus permanece em seu coração, e vocês venceram o maligno. (1Jo 2.12-14)
Depois de quarenta anos no deserto, Israel se encontra às margens da Terra Prometida. É um momento decisivo. A antiga geração morreu no caminho por causa da incredulidade. E Deus está, agora, reorganizando o seu povo para um novo começo.
Números 26 a 36 nos mostra como o SENHOR, fiel à sua aliança, provê para Israel e prepara essa jovem nação tanto espiritual quanto estruturalmente para ocupar Canaã.
Observe:
Há um novo censo, que confirma a preservação desse povo (Nm 26). Instruções claras sobre a distribuição da terra (Nm 26.52-65). Leis que protegem a herança das famílias, inclusive para as mulheres (Nm 27.1-11). E a escolha de Josué para liderar o povo no lugar de Moisés (Nm 27.12-23).
O SENHOR também estabelece um novo calendário de sacrifícios, reafirmando que a santidade e a adoração comporiam o centro da vida em Canaã (Nm 28–29). Ordena que até mesmo os votos pessoais sejam levados a sério (Nm 30).
Na sequência, Deus orienta Israel a lidar com inimigos como os midianitas — uma vez que seu povo jamais poderá sequer correr o risco de contaminação com o pecado (Nm 31). O SENHOR também regula a posse de terras para as tribos que permaneceriam a leste do Jordão (Nm 32). Relembra a longa peregrinação para ensinar obediência (Nm 33). Define as fronteiras, as cidades dos levitas e as cidades de refúgio (Nm 34–35). E estabelece normas até mesmo para os casamentos, para proteger a estabilidade da herança (Nm 36).
Tudo isso revela um Deus que não apenas conduz o seu povo, mas também o organiza e o reorganiza, quando necessário, preparando-o para viver de modo santo e ordeiro na terra que ele prometeu.
E é sobre essa reorganização divina — e o que ela nos ensina hoje — que queremos refletir nesta última mensagem no livro de Números.
Em síntese, o que veremos a seguir será o seguinte: o compromisso do SENHOR com o estabelecimento de Israel na Terra Prometida. E esse compromisso será demonstrado de duas maneiras: 1) nas provisões para a vida e para a vitória em Canaã (Nm 26.1–30.16) e 2) na preparação para a ocupação de Canaã (Nm 31.1–36.13).
Esta seção demonstrará como o SENHOR agiu para prover tudo o que fosse necessário, a fim de que Israel tivesse vida e conquistasse suas vitórias em Canaã.
Cap. 26: O censo da nova geração
Para nós, pessoas comuns, que muitas vezes sequer nos preocupamos em ler os dados colhidos pelo censo do IBGE — e que até duvidamos desses dados estatísticos! —, qual importância poderia haver no censo dos soldados de Israel no deserto?
Afinal, é exatamente disso que trata Números 26. Leia os versículos 1 a 4:
1Depois que a praga cessou [i.e., a morte dos 24 mil por causa do pecado da idolatria e da impureza sexual, registrado em Nm 25], o SENHOR disse a Moisés e a Eleazar, filho do sacerdote Arão: 2“Realizem um censo de toda a comunidade de Israel, de acordo com suas famílias. Façam uma lista de todos os homens de 20 anos para cima, aptos para irem à guerra”.
3Portanto, ali nas campinas de Moabe, junto ao rio Jordão e do lado oposto de Jericó, Moisés e o sacerdote Eleazar deram as seguintes instruções aos líderes de Israel: 4“Façam uma lista de todos os homens de Israel de 20 anos para cima, conforme o SENHOR ordenou a Moisés”.
Este é o registro dos israelitas que saíram do Egito.
Israel precisaria muito desses homens para as conquistas em Canaã.
Mas, muito além de apenas revelar quantos soldados aptos para a guerra havia em Israel, o censo possuía propósitos que demonstram, sobretudo, a graça, a misericórdia e a fidelidade de Deus na sua aliança com Israel — sem deixar de se importar também com indivíduos específicos.
Por exemplo:
O leitor atento notará que em Números 26 há três notas biográficas que destacam como algumas famílias permaneceram, mesmo após a morte de seus cabeças. Os filhos de Corá sobreviveram à rebelião (vs. 8-11). A linhagem de Selá continuou, apesar da morte de Er e Onã, que acompanharam Corá na rebelião (v. 19; cf. Gn 38). E as filhas de Zelofeade asseguraram a continuidade da herança de seu pai (v. 33; cf. Nm 27.1-11). Tudo isso comprova as misericórdias de Deus.
Este censo demonstra também a justiça e a generosidade de Deus, pois revela o tamanho relativo das tribos, a fim de repartir a terra conforme as suas populações (Nm 26.53-54). Diferente do primeiro (Nm 1), que focou apenas nos homens de guerra, este censo destaca também os clãs dentro das tribos, pois, aqui, a questão territorial é central.
Ainda mais evidente que tudo isso é o propósito de Moisés em revelar que a palavra de Deus jamais volta vazia. O SENHOR disse, em Números 14.22-24, que a primeira geração incrédula e rebelde não entraria na terra prometida, nem sequer a veria — com exceção de Josué e Calebe. E isso se cumpriu, como demonstra o segundo censo:
Números 26.63-65 (NVT)
63Esses foram os resultados do censo dos israelitas realizado por Moisés e pelo sacerdote Eleazar nas campinas de Moabe, junto ao rio Jordão, do lado oposto de Jericó. 64Ninguém dessa lista estava registrado no censo anterior dos israelitas feito por Moisés e Arão no deserto do Sinai, 65pois o SENHOR tinha dito a respeito deles: “Todos morrerão no deserto”. Nenhum deles sobreviveu, com exceção de Calebe, filho de Jefoné, e de Josué, filho de Num.
O que Deus dissera a respeito da primeira geração se mostra cumprido. Em outras palavras, a palavra de Deus é firme e certa. O que ele promete, ele cumprirá. Moisés está, portanto, construindo um argumento sobre Deus: ele é fiel tanto no juízo quanto na salvação (cf. Gn 41.32).
Deus é misericordioso, justo, generoso e fiel à sua palavra. E, pela graça, ele agirá para dar a essa nova geração a terra que prometera, em aliança, a Abraão, Isaque e Jacó.
Cap. 27: As filhas de Zelofeade (vs. 1-11)
Embora Corá e seus homens tenham perecido (Nm 16.32), sua linhagem sobreviveu (Nm 26.11). Isso levantava a questão: como seria possível essa linhagem continuar sem herdeiros homens? A história das filhas de Zelofeade responde a essa dúvida. Ela mostra que, na ausência de filhos, as filhas podiam herdar o nome e as propriedades do pai (Nm 27.8). Essa ligação sugere que, mesmo sob juízo, Deus preservou remanescentes, garantindo a continuidade de linhagens como a de Corá.
Esse episódio prova, mais uma vez, que a lei de Israel não ignorava as necessidades das mulheres. Nessas circunstâncias, essas irmãs receberam os mesmos direitos que os homens. Graça e misericórdia de Deus são iguais — para homens e para mulheres.
Cap. 27: A consagração de Josué como novo líder (vs. 12-23)
Moisés já sabia, há algum tempo, que não lideraria a conquista de Canaã. Mas o seu sucessor ainda não havia sido revelado. Em resposta à sua oração sobre esse assunto, Deus escolheu Josué (vs. 12-17).
Veterano do Êxodo e dos anos no deserto, Josué possuía experiência, fé e o Espírito de Deus (v. 18). Ele recebeu a autoridade de Moisés, na presença de Eleazar, o sumo sacerdote, e de todo o Israel (vs. 19-23).
Essa transferência de liderança, assim como a que ocorreu de Arão para Eleazar em Números 20.22-29, refletia o compromisso contínuo de Deus com o seu povo escolhido — o SENHOR jamais os deixará sem pastor.
Assim como a palavra de Deus, os compromissos do SENHOR jamais vacilam ou falham. Eles transcendem o tempo, as circunstâncias e os pecados dos homens. O caráter de Deus é eternamente estável. E nas mãos desse Deus, Josué seria um instrumento humano crucial enquanto Deus mesmo cumpria a sua Palavra para Israel.
O trecho a seguir é belíssimo — e merece ser lido:
12Então o SENHOR disse a Moisés: “Suba a um dos montes de Abarim e olhe para a terra que dou ao povo de Israel. 13Depois de vê-la, você será reunido a seu povo, como seu irmão Arão, 14pois vocês desobedeceram às minhas instruções no deserto de Zim. Quando a comunidade se rebelou, vocês não demonstraram minha santidade para eles junto às águas”. (Essas águas são as de Meribá, em Cades, no deserto de Zim.)
15Então Moisés disse ao SENHOR: 16“SENHOR, tu és o Deus que dá fôlego a todas as criaturas. Por favor, indica um homem para ser o novo líder da comunidade. 17Dá a eles alguém que os guie aonde quer que forem e os conduza nas batalhas, para que a comunidade do SENHOR não seja como ovelhas sem pastor”.
18O SENHOR respondeu: “Convoque Josué, filho de Num, em quem está o Espírito, e coloque as mãos sobre ele. 19Apresente-o ao sacerdote Eleazar diante de toda a comunidade e encarregue-o publicamente de liderar. 20Transfira a ele parte de sua autoridade, para que toda a comunidade de Israel lhe obedeça. 21Quando for necessário receber orientação do SENHOR, Josué se apresentará diante do sacerdote Eleazar, que usará o Urim perante o SENHOR para determinar sua vontade. É pela palavra de Eleazar que Josué e toda a comunidade de Israel decidirão tudo que devem fazer”.
22Moisés fez o que o SENHOR ordenou. Apresentou Josué ao sacerdote Eleazar e a toda a comunidade, 23colocou as mãos sobre ele e o encarregou de liderar o povo, exatamente como o SENHOR havia ordenado por meio de Moisés. (Nm 27.12-23, NVT)
Caps. 28–30: Leis sobre ofertas e votos
Assim como a geração de seus pais recebeu instruções relativas à pureza e ao culto após o seu recenseamento (cf. Nm 5.1–10.10), também esta geração agora ouviu orientações acerca das ofertas, das festas e dos votos (Nm 28.1–30.16), após o seu próprio censo.
Essa nova geração precisava aprender o que seus pais jamais aprenderam: somente poderiam ter êxito mediante obediência adequada, a qual incluía a apresentação de sacrifícios nos dias comuns (Nm 28.1-8).
Isso também significava oferecê-los no sábado (Nm 28.9-10), no primeiro dia do mês (Nm 28.11-15) e em dias especiais, como a Páscoa (Nm 28.16-25) e a Festa das Primícias (Nm 28.26-31).
Israel necessitava do perdão de Deus.
Como pecavam regularmente, precisavam de sacrifícios regulares. Se deixassem o pecado sem correção, não poderiam esperar que um Deus santo habitasse em seu meio.
Naturalmente, nenhum sacrifício era mais importante do que aqueles associados ao Dia da Expiação (cf. Lv 16). Por isso, Israel recebeu instruções específicas sobre quais ofertas seriam exigidas no primeiro dia do sétimo mês (Nm 29.1-6), no décimo dia (Nm 29.7-11) e em cada dia relacionado ao próprio Dia da Expiação (Nm 29.12-40).
Mais uma vez, a expiação pelos pecados era vital para a salvação deles — assim como o é para a nossa, realizada na propiciação que Cristo fez pelos nossos pecados.
Eles não podiam se dar ao luxo de negligenciar os meios revelados por Deus para a purificação do pecado. E Deus desejava que Israel também levasse a sério os seus compromissos. Por isso, o capítulo 30 explica a importância de cumprir os votos feitos ao SENHOR.
É verdade que Levítico 27 já havia tratado desse tema, mas ali se dirigia à primeira geração como um chamado à decisão.
Aqui, Moisés vincula homens e mulheres aos seus votos (Nm 30.1-2), embora o marido ou o pai pudesse anular um voto precipitado (Nm 30.3-16). Deus é gracioso a tal ponto que não tem interesse em prender as pessoas a compromissos, nem em obrigá-las a cumprir votos precipitados, feitos num momento de pânico.
Ao mesmo tempo, as promessas feitas de boa-fé deveriam ser cumpridas. A palavra de Israel deveria ser a sua garantia — tal como a palavra de Deus é a garantia dele ao seu povo. Dessa forma, confirmariam a sua condição de povo santo — uma nação decidida a ser santa, como o seu Deus é santo (cf. Lv 11.44). Santos em palavras e posturas.
Se a primeira seção se ocupou em demonstrar como o SENHOR agiu para prover tudo o que fosse necessário — graça, misericórdia e generosidade; justiça e igualdade de direitos; palavra e aliança invioláveis; pastoreio espiritual; e sacrifícios de sangue —, a fim de que Israel tivesse vida e conquistasse suas vitórias em Canaã, esta segunda seção revelará como Deus preparou a nova geração para a ocupação da Terra Prometida.
Cap. 31: Israel conquista Midiã
Embora seu sucessor já tivesse sido nomeado, Moisés não pôde se aposentar. Ainda havia trabalho ordenado por Deus a ser realizado.
Sua primeira tarefa foi liderar Israel em batalha contra os midianitas — o povo que havia instigado a idolatria narrada em Números 25 — sob as instruções de Balaão.
Moisés convocou mil soldados de cada tribo, e Israel alcançou uma vitória completa (Nm 31.1-12). Contudo, ao contrário das ordens recebidas, eles retiveram alguns despojos (Nm 31.12). Moisés, então, ordenou que fosse executada a maior parte do povo, presumivelmente por seu papel em desviar Israel, embora o texto não diga isso de forma específica (Nm 31.13-20). Depois, o povo dividiu os despojos (Nm 31.21-47), e uma parte foi reservada para ofertas ao SENHOR (Nm 31.48-54).
Assim como na vitória registrada em Números 21.1-5, quando derrotaram Arade, o rei cananeu, esse triunfo demonstrou o poder de Deus para fazer Israel prosperar. Ele poderia ter conduzido a primeira geração adiante, se eles simplesmente tivessem crido. As bênçãos sempre foram concedidas quando Israel obedeceu pela fé — exatamente como Levítico 26 havia prometido.
Cap. 32: As tribos de Gade e de Rubens
A segunda tarefa de Moisés foi iniciar o processo de divisão da terra entre o povo.
As tribos de Gade e Rúben, juntamente com metade da tribo de Manassés, solicitaram receber sua parte de herança no lado leste do rio Jordão (Nm 32.1–5). Fizeram esse pedido por motivos econômicos, pois aquela região era excelente para criação de rebanhos. Contudo, Moisés temeu que essa escolha representasse uma nova rejeição da Terra Prometida, semelhante à incredulidade registrada em Números 13 e 14 (Nm 32.6-15).
Moisés evitou essa ameaça ao exigir a promessa firme dessas tribos de que ajudariam seus irmãos a conquistar Canaã, antes de tomarem posse definitiva da herança no leste (Nm 32.16-42). Essas tribos aceitaram a proposta, demonstrando, mais uma vez, a convicção do povo de que Deus lhes daria a terra, além de revelar sua dedicação mútua e solidariedade tribal.
Israel começava, então, a entender que o compromisso com o SENHOR era a chave para o seu futuro. Viram Deus conceder-lhes vitória em batalha. Obedeceram às instruções de Moisés. Aprenderam com os erros de seus pais — e também com os seus próprios. Estavam se tornando crentes maduros.
Cap. 33: Um resumo da jornada de Israel
Enquanto Israel se preparava para a guerra, Moisés os conduziu a fazer preparativos específicos. Para lembrá-los de como Deus os havia guiado e sustentado, Moisés registrou todos os lugares por onde haviam passado em suas jornadas (Nm 33.1-49). Ele fez isso como prelúdio para a divisão da Terra Prometida.
Para Israel, a história não era apenas memória, mas também compreensão. Significava entender por que o passado se desenrolou como se desenrolou, a fim de que o presente e o futuro pudessem ser corretamente discernidos. Cada parada ao longo do caminho demonstrava a graça, a fidelidade, o poder e o amor de Deus.
Com base nos grandes feitos do SENHOR em favor do Seu povo, Moisés, então, ordenou que tomassem posse de Canaã:
Números 33.50-56 (NVT)
50Enquanto estavam acampados perto do rio Jordão, nas campinas de Moabe, do lado oposto de Jericó, o SENHOR disse a Moisés: 51“Dê as seguintes instruções ao povo de Israel. Quando atravessarem o rio Jordão para entrar na terra de Canaã, 52expulsem todos os povos que vivem ali. Destruam todas as imagens esculpidas ou fundidas e derrubem todos os santuários idólatras. 53Tomem posse da terra e estabeleçam-se nela, pois eu lhes dei a terra para a ocuparem. 54Distribuam a terra entre os clãs por sorteio e de forma proporcional ao tamanho de cada clã. Os clãs maiores receberão uma porção maior, e os clãs menores, uma porção menor. A decisão por sorteio é definitiva. Assim, as porções de terra serão distribuídas entre as tribos de seus antepassados. 55Mas, se vocês não expulsarem os povos que vivem na terra, aqueles que restarem serão como farpas em seus olhos e espinhos em suas costas. Serão um tormento para vocês na terra em que habitarem. 56E eu farei a vocês aquilo que planejava fazer a eles”.
Eles precisavam escrever a sua própria história de fé e obediência. E o livro de Josué provará que foi exatamente isso que fizeram, pela graça do SENHOR.
Cap. 34: As fronteiras da terra e os líderes das tribos
Em seguida, Moisés estabeleceu os limites da Terra Prometida (Nm 34.1-12) e determinou que os territórios tribais seriam distribuídos por sorteio (Nm 34.13-15).
Esse procedimento impedia que o povo disputasse as melhores partes da terra, evitando, assim, uma guerra civil. O lançamento de sortes também ensinava ao povo que toda a terra era um presente do SENHOR. Tudo havia sido concedido pela graça soberana de Deus e deveria ser recebido com fé e gratidão.
Moisés também nomeou líderes tribais que ficariam responsáveis por designar a cada família o seu lugar dentro do território da respectiva tribo (Nm 34.16-29). Entre esses homens, Eleazar, o sumo sacerdote, Josué e Calebe são os nomes mais conhecidos. Eles continuaram a servir ao SENHOR, servindo o povo de Deus. Proporcionaram sabedoria, continuidade, experiência e discernimento espiritual a Israel.
Cap. 35: Cidades para os levitas e as cidades de refúgio
Então, Moisés separou 48 cidades e pastagens para os levitas, já que eles não receberam uma área tribal específica para si (Nm 35.1-5). Seis dessas cidades foram designadas como “cidades de refúgio” — lugares para onde aqueles que tivessem matado alguém acidentalmente pudessem fugir em busca de segurança, livrando-se dos parentes vingadores da pessoa falecida (Nm 35.6-34).
Nas culturas antigas, o vingador de sangue funcionava como uma espécie de “oficial de justiça”, encarregado de assegurar que a justiça fosse aplicada. Contudo, em muitos casos, o vingador poderia desconhecer todos os fatos. Por isso, alguém que alegasse inocência podia fugir para uma cidade de refúgio. Os vingadores de sangue poderiam, então, buscar justiça junto aos anciãos da cidade, de modo que o sistema não servia simplesmente para proteger criminosos. Ficava claro que a preocupação do SENHOR era demonstrar misericórdia ao inocente, punir o ímpio e garantir justiça para todos os envolvidos.
Cap. 36: O casamento de mulheres herdeiras
Por fim, Moisés voltou a ouvir as filhas de Zelofeade (cf. Nm 27) (Nm 36.1-13). Dessa vez, os líderes do clã apresentaram a preocupação de que, caso as mulheres herdassem terras e se casassem fora da própria tribo, a parte de Manassés na Terra Prometida poderia ser diminuída.
Assim, determinou-se que essas mulheres deveriam se casar dentro da sua própria tribo, para que a herança não fosse transferida a outra. A terra havia se tornado algo precioso para Israel, pois era um presente do SENHOR. Precisava ser protegida contra negligência, bem como contra a perda da herança, caso faltassem herdeiros masculinos em alguma família.
A herança dada por Deus deveria ser possuída, protegida e valorizada.
Criada no deserto, essa geração compreendia bem a importância da bênção física representada pela terra. E entendia, também, que a fidelidade ao SENHOR era o meio pelo qual suas esperanças seriam concretizadas.
E o livro conclui com estas palavras:
Números 36.13 (NVT)
Esses são os mandamentos e os estatutos que o SENHOR deu aos israelitas por meio de Moisés enquanto estavam acampados nas campinas de Moabe junto ao rio Jordão, do lado oposto de Jericó.
Chegamos ao final deste sermão e também ao encerramento da série no livro de Números.
Em linhas gerais, percorremos os seguintes fatos históricos:
Na primeira parte, que cobre Números 1.1–10.10, estudamos os eventos decisivos no nascimento de Israel como nação. O povo havia deixado o Egito, aceitado a aliança com o SENHOR e descansado próximo ao Sinai. Preparava-se, então, para avançar e conquistar Canaã. Realizaram um censo, organizaram um exército, estruturaram o serviço sacerdotal, purificaram o acampamento, consagraram pessoas e ofertas, e celebraram a primeira Páscoa desde a saída do Egito. O próximo destino de Israel deveria ter sido Canaã. Mas, em vez disso, começaram um período de quarenta anos de peregrinação pelo deserto.
Na segunda parte, que abrange Números 10.11–20.21, nos debruçamos sobre uma sucessão de desastres e oportunidades perdidas. Toda uma geração de israelitas morreu no deserto por causa da sua desobediência. Até mesmo Moisés perdeu o privilégio de entrar na Terra Prometida.
Por fim, na terceira parte, que cobre Números 20.22–36.13, observamos como, lenta e dolorosamente, a geração antiga começou a desaparecer. Mas Deus permaneceu fiel, provendo alimento, vestes, orientação e até algumas vitórias militares. O SENHOR instruiu Moisés a preparar Josué para ser o novo líder de Israel. Moisés recontou a triste história das peregrinações no deserto. Contudo, nos últimos capítulos, o texto apontou para um futuro mais esperançoso — um tempo em que Israel poderia finalmente se aproximar de Canaã mais uma vez.
Esse é o resumo da história. E o que podemos aprender com ela?
O livro de Números ocupa um lugar agridoce nas Escrituras. Por um lado, há esperança nos capítulos iniciais (Nm 1.1–10.10) e vitórias registradas em Números 21–36. Deus cumpriu todas as suas promessas a Israel, deixando claro que fé e obediência resultam em bênção. A fidelidade de Deus e o bem-estar de Israel jamais estiveram em cheque.
Por outro lado, episódios registrados em Números 13–20 tornaram-se advertências severas ao longo de toda a Bíblia. A primeira geração de Israel é lembrada por ter desperdiçado oportunidades, por sua rebeldia e incredulidade. Desde Deuteronômio até o Novo Testamento, relatos do livro de Números são usados como exemplos para ilustrar ganância, infidelidade e idolatria. Por isso, Números 13–20 deve ser lido como um alerta solene a todas as pessoas de fé.
Ainda assim, quando o livro de Números chega ao fim, a esperança renasce. Uma nova geração, ainda que a trancos e barrancos, parece surgir sedenta pelo SENHOR e pelo cumprimento de suas promessas. Um novo sumo sacerdote está pronto para servir. E Josué, o sucessor de Moisés, está preparado para liderar o povo.
A graça de Deus venceu todos os obstáculos e continua triunfando na história de Israel — até alcançar o seu clímax supremo na crucificação e ressurreição de Jesus Cristo.
Números é um livro de “contagem.” Duas vezes, Moisés contou os homens disponíveis para servir no exército e também contou os levitas. Isso nos ensina que Deus deseja que todos os Seus filhos sejam do tipo em quem ele possa contar. E aqueles com os quais o SENHOR conta são justamente os que perseveram na fé — fé em Jesus Cristo.
Hebreus 10.35-39 (NAA)
35Portanto, não percam a confiança de vocês, porque ela tem grande recompensa. 36Vocês precisam perseverar, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcancem a promessa. 37“Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não irá demorar; 38mas o meu justo viverá pela fé; e, se retroceder, dele a minha alma não se agradará.” 39Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição, mas somos da fé, para a preservação da alma.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais Sermões
Mais Séries
Reorganização
Pr. Leandro B. Peixoto