06.07.2025
Pergunto: você já fez alguma pergunta direta a Deus? Por exemplo: você já se viu, em meio à dor ou à confusão, clamando: “Senhor, o que o Senhor quer de mim?”
Acredito que todos nós, mais cedo ou mais tarde, chegamos a lugares e momentos na vida em que desejamos saber, de modo claro e direto — então indagamos:
— “Deus, o que o Senhor quer de mim?”
Pois nesta noite, quero afirmar algo: encontramos essa resposta nas páginas de Números 20 e 21. De forma simples e direta, aqui está a resposta: Deus quer a sua fé. Seja você quem for, se deseja realmente viver, Deus quer a sua fé.
E, no sermão desta noite, pela graça do Espírito, quero mostrar como Números 20 e 21 deixam isso tão claro como a luz do dia.
Cabe aqui recordar a jornada de Israel — uma história que expõe quão incrédulo pode ser o coração humano, em contraste com a paciência, a justiça e a graça de Deus. É uma peregrinação que pode ser resumida em quatro notas claras: Direção… Deserção… Rebelião… e Provisão. Acompanhe comigo.
Em Números 10, os israelitas partem do Sinai, após quase um ano acampados ao pé daquele monte, recebendo a lei do SENHOR. Deus, em sua graça, guia Israel através da nuvem, que se levanta e caminha adiante, enquanto as trombetas soam para organizar a marcha. Era o próprio Deus conduzindo o seu povo rumo à terra prometida.
Mas logo em Números 11, Moisés acha pesado o seu encargo, pois surge o primeiro gosto amargo da rebeldia. Os israelitas começam a queixar das dificuldades do caminho e da falta de carne. Cansados do maná, desejam os sabores do Egito. Então o Senhor envia codornizes, tantas que cobrem o acampamento. Mas também envia uma praga, porque a murmuração revelava corações insatisfeitos, mesmo cercados pelo cuidado divino.
Em Números 12, outro tipo de crise surge: não do povo em geral, mas de dentro da própria liderança. Miriã e Arão criticam Moisés, talvez tomados por ciúmes. E Deus, em zelo por seu servo, faz Miriã ficar leprosa. Somente após a intercessão de Moisés é que ela é restaurada. Mais uma vez, Deus disciplina, mas também cura.
Em Números 13 e 14, Israel chega à beira da terra prometida. Doze espias são enviados para explorar Canaã. Mas dez deles voltam tomados de medo, espalhando terror no coração do povo. Ignoram as maravilhas da terra. Dizem que há gigantes, cidades fortificadas, inimigos impossíveis de vencer. Apenas Josué e Calebe insistem que o Senhor pode dar-lhes a terra. Porém, o povo se recusa a avançar. Resultado: em face dessa rebelião, Deus decreta que toda aquela geração adulta morrerá no deserto. Quarenta anos de peregrinação seriam agora o juízo sobre corações incrédulos — até que todos, de vinte anos para cima, viessem a morrer no deserto (14.29-35).
Em Números 15, no meio de tudo isso, o SENHOR entrega novas leis sobre ofertas, como se dissesse: “Ainda serei adorado. Ainda haverá sacrifícios e haverá sacerdotes, pois não abandonei o meu povo.” Também há o relato do homem que é apedrejado por violar o sábado — mostrando que a santidade de Deus permanece inegociável.
No capítulo 16, estoura a rebelião de Corá, Datã e Abirão. Eles se levantam contra Moisés e Arão, questionando a liderança do primeiro e o sacerdócio exclusivo do segundo. Deus então faz a terra se abrir e engolir os rebeldes vivos. É um juízo terrível, mas também um sinal visível de que o Senhor escolhe quem deve liderar o seu povo.
Em Números 17, para encerrar dúvidas, Deus faz florescer a vara de Arão, deixando claro que ele é o escolhido para o sacerdócio. Brotos, flores e amêndoas surgem num pedaço de madeira seco — um milagre silencioso, proclamando que Deus, através de um mediador, traz vida onde só havia morte.
Nos capítulos 18 e 19, Deus dá mais instruções aos sacerdotes, ensina sobre ofertas sagradas e estabelece leis de purificação, incluindo o ritual da água purificadora e da novilha vermelha. É o Senhor mostrando que a aproximação dele exige pureza, mas também apontando, ainda que de longe, para Cristo, que purifica até a nossa consciência.
Em Números 20, Miriã morre. O povo reclama por água. Moisés fere a rocha em vez de falar. Deus diz que ele não entrará na terra. Arão morre. Edom nega passagem. Entre tudo isso, há murmuração, juízo e disciplina. Mas também há provisão. Deus não abandona o seu povo. E tudo aponta para Cristo, a Rocha que foi ferida por nós.
No capítulo 21, aprendemos que, apesar das quedas do povo, Deus continua, graciosamente, a dar vitórias e fazer provisão. A serpente de bronze é o ponto alto, revelando tanto o juízo quanto a salvação de Deus — prefigurando Cristo crucificado.
Pois bem, Israel recebeu direção, mas desertou e se rebelou. Tudo isso por causa da incredulidade. Mesmo assim, Deus permaneceu fiel à sua aliança. E agiu com misericórdia, sustentando os remanescentes da graça — provendo para eles.
À luz de tudo isso, eis a primeira lição de Números 20 e 21 para nós:
Talvez você não perceba, mas, quando chegamos a Números 20, quase quarenta anos já se passaram desde a última história narrada no capítulo 19. Sabemos disso pelo seguinte: em Números 20.1, lemos — “No primeiro mês do ano, toda a comunidade chegou ao deserto de Zim e acampou em Cades.” Adiante, em Números 20.22, lemos que “toda a comunidade de Israel partiu de Cades e chegou ao monte Hor.” Nesse local, Arão morreu (v. 28). Pois bem, mais tarde, recapitulando a história, em Números 33, Moisés escreveu o seguinte:
“Enquanto estavam ao pé do monte Hor, por ordem do SENHOR o sacerdote Arão subiu ao monte e morreu ali. Isso aconteceu no primeiro dia do quinto mês, quarenta anos depois que Israel saiu do Egito.” (Nm 33.38)
Miriã e Arão Morrem
Em Números 20.1, encontramos um claro indício de que os quarenta anos de peregrinação, decretados pelo SENHOR em Números 14.29-35, estão chegando ao fim. Estamos no primeiro mês do quadragésimo ano (cf. Nm 33.38), à beira de iniciar um novo capítulo na história do povo de Israel.
Essa transição se manifesta logo na morte de Miriã, irmã de Moisés, mencionada de forma breve, porém profundamente significativa, no versículo 1:
“No primeiro mês do ano, toda a comunidade chegou ao deserto de Zim e acampou em Cades. Enquanto estavam lá, Miriã morreu e foi sepultada.” (Nm 20.1)
Por que esse relato é importante? Porque Miriã, juntamente com Moisés e Arão, exercia liderança sobre o povo — Moisés era o profeta, Arão o sumo sacerdote, e Miriã, profetisa e líder nos cânticos.
O capítulo 20, portanto, começa com a morte de Miriã, e termina de modo igualmente marcante. Observem, por favor, o versículo 28, no meio do versículo: “Então Arão morreu no alto do monte”.
Assim, Números 20 se inicia e se encerra com as mortes de Miriã e de Arão, respectivamente nos versículos 1 e 28.
Ao longo desses quase quarenta anos, houve muita morte entre o povo — todos os que tinham vinte anos ou mais pereceram no deserto. Querem ter uma ideia? Imaginem-se em meio à congregação de Israel: levantem-se apenas os que têm 19 anos ou menos; os demais, de 20 anos em diante, permaneçam sentados. Como podem ver, ainda que apenas por amostragem, muita gente morreu durante aquelas quatro décadas!
Agora, porém, são os próprios líderes que estão morrendo. Dois deles não entrarão na Terra Prometida: Miriã e Arão; resta apenas Moisés — e é necessário olharmos mais de perto para ele aqui em Números 20.
Moisés não entra na Terra Prometida
É aqui mesmo, em Números 20, que encontramos a famosa e trágica história de Moisés ferindo a rocha. Trata-se quase de uma repetição exata de um episódio narrado em Êxodo 17, começando com a mesma situação que já vimos inúmeras vezes nesse povo: o povo tem uma necessidade, acha que Deus não vai supri-la e, então, o que faz? Reclama. Lamenta. Murmura. Levanta o punho contra Deus. Deserta. E Moisés clama:
— SENHOR, o que devo fazer?
Mas note como este episódio se desenrola.
Miriã morreu (Nm 20.1). A irmã que, outrora, seguira entre os juncos o cesto de vime onde jazia o pequeno Moisés, conduzido pelas águas até os braços da filha de Faraó (Êx 2.1-10). Essa mesma irmã agora morreu sob os olhos vigilantes de seu irmão. Seria natural esperarmos ler sobre o luto de Moisés, ouvir os gemidos de um irmão pela perda de sua irmã. Em vez disso, sem sequer ter a oportunidade de chorar, Moisés ouviu um brado bem conhecido: o clamor de um povo de coração endurecido.
O Blues do “Não Há Água”, Parte Dois. — como escreveu Charles R. Swindoll.
Não havia água para a congregação, e o povo se reuniu contra Moisés e Arão. Assim, contendendo com Moisés, disseram:
“1[…] Enquanto estavam lá [em Cades], Miriã morreu e foi sepultada. 2Como não havia água naquele lugar, o povo se rebelou contra Moisés e Arão. 3Discutiram com Moisés e disseram: “Se ao menos tivéssemos morrido com nossos irmãos diante do SENHOR! 4Por que vocês trouxeram a comunidade do SENHOR até este deserto? Foi para morrermos, junto com todos os nossos animais? 5 Por que nos obrigaram a sair do Egito e nos trouxeram para este lugar terrível? Esta terra não tem cereais, nem figos, nem uvas, nem romãs, nem água para beber!”.” (Nm 20.2-4)
A falta de água não era novidade (Êx 17.1-3). E os filhos entoaram o mesmo refrão de seus pais, culpando Moisés em vez de confiarem no SENHOR. A liderança de Moisés estaria, desta vez, sendo testada sob a máxima pressão e temperatura.
Moisés estava perto ou acabara de completar 120 anos. Por vezes, a idade tende a encurtar o pavio e a enfraquecer a paciência. Some-se a isto o luto.
Embora profundamente enlutado e exausto, após quarenta anos conduzindo um povo inconstante e incrédulo — e pior ainda, agora lidando com a segunda geração, que em nada se mostrou diferente de seus pais; bem poderiam, aliás, fazer deles ecoar a canção de Belchior, na voz de Elis Regina: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” — Moisés, na companhia de Arão, reagiu: “Moisés e Arão se afastaram do povo e foram até a frente da tenda do encontro, onde se prostraram com o rosto em terra.” (Nm 20.6a)
O SENHOR tinha todo o direito de julgar o povo por sua fé tão volúvel. Em vez disso, ordenou a Moisés que cuidasse do rebanho:
6[…] Então a presença gloriosa do SENHOR lhes apareceu, 7e o SENHOR disse a Moisés: 8“Você e Arão, peguem a vara e reúnam todo o povo. Enquanto eles observam, falem àquela rocha ali, e dela jorrará água. Vocês tirarão água suficiente da rocha para matar a sede de toda a comunidade e de seus animais”. (Nm 20.6b-8)
Num primeiro momento, Moisés obedeceu integralmente às instruções do SENHOR. Pegou o bordão, foi com Arão e reuniu o povo. À primeira vista, não havia sinal de crise. Mas, no íntimo, Moisés fervilhava. Curvou-se diante do Senhor em submissão, mas, por dentro, agitava-se como mar revolto. Enquanto Deus desejava conceder graça, Moisés explodiu como um vulcão outrora adormecido:
9Moisés fez conforme o SENHOR havia ordenado. Pegou a vara que ficava guardada diante do SENHOR e, 10em seguida, ele e Arão mandaram chamar o povo para se reunir em frente da rocha. “Ouçam, seus rebeldes!”, gritou Moisés. “Será que é desta rocha que teremos de tirar água para vocês?” 11Então Moisés levantou a mão e bateu na rocha duas vezes com a vara, e jorrou muita água. Assim, toda a comunidade e todos os seus animais beberam até matar a sede. (Nm 20.9-11)
Pá! Pá! Em vez de falar à rocha e saciar Israel, seguindo a orientação estrita de Deus, Moisés feriu-a e bradou contra o povo. Visto que Deus se recusou a descarregar sua ira, Moisés despejou a sua própria indignação.
Eles não mereciam? Egoisticamente, vieram com suas queixas incrédulas a Moisés, um homem dilacerado pela dor da morte de Miriã. Teria sido tão errado o desabafo de Moisés? Afinal — poderíamos argumentar — ele era apenas humano.
Mas…
“12O SENHOR, porém, disse a Moisés e a Arão: “Uma vez que vocês não confiaram em mim para mostrar minha santidade aos israelitas, não os conduzirão à terra que eu lhes dou!”. 13Por isso aquele lugar ficou conhecido como Meribá, pois ali os israelitas discutiram com o SENHOR, e ali ele mostrou sua santidade entre eles.” (Nm 20.12-13)
Um ato de desobediência. Um versículo. Uma sentença. Sem apelação. Parece severo? Examinemos a razão apresentada por Deus. Ele cita aqui dois motivos específicos. E descobriremos ainda um terceiro motivo, guardado no Novo Testamento.
Primeira acusação: incredulidade
Deus declarou: “Uma vez que vocês não confiaram em mim…” (v. 12). Mas em que Moisés não creu? Ele não creu nas palavras do SENHOR, pois acrescentou ação às suas instruções. Não creu na intenção graciosa de Deus, preferindo agir com ira. Não creu no Espírito de Deus, procedendo segundo a própria carne.
A missão de Moisés não era apenas mediar entre Deus e Israel, mas também servir como modelo de fé e confiança no SENHOR. Deus esperava que Seu líder escolhido obedecesse, em vez de ceder às próprias emoções de ira.
O Salmo 106.32-33 (A Mensagem) recorda o deslize de Moisés:
“Eles irritaram Deus outra vez, nas fontes de Meribá. Dessa vez, Moisés confundiu-se com a maldade deles. Porque eles haviam tornado a desafiar o Senhor, Moisés explodiu perdeu a cabeça.”
Enquanto as ovelhas balavam e se dispersavam, o pastor designado por Deus deveria ter permanecido firme em seu alto chamado.
Segunda acusação: profanação
Além de agir por incredulidade, Moisés também feriu a santidade de Deus. O SENHOR disse que ele não o tratou como santo aos olhos dos filhos de Israel — “Uma vez que vocês não confiaram em mim para mostrar minha santidade aos israelitas.” (Nm 20.12) Ao contrário, incrédulo, dominado pela raiva e conduzido pela carne, Moisés, aos gritos!, chamou os filhos de Deus de “rebeldes”, e atribuiu a si mesmo o crédito pelo milagre: “Será que é desta rocha que teremos de tirar água para vocês?” (Nm 20.10).
Até então, Moisés sempre atribuía os milagres ao único Deus verdadeiro. Mas, nesse episódio, em vez de glorificar o SENHOR, trouxe atenção para si mesmo e, assim, profanou a santidade divina.
Ao falar à rocha, Moisés teria demonstrado o poder miraculoso do SENHOR. Porém, ao feri-la e concentrar-se em sua própria ação, colocou-se no lugar de Deus como autoridade suprema. Como líder, Moisés deveria ser servo de Deus, não seu braço forte.
Terceira acusação: violação simbólica
Com sua atitude explosiva, fruto de sua incredulidade momentânea, Moisés não apenas feriu a santidade divina, mas também destruiu, ainda que sem ter consciência, o significado simbólico de Cristo representado na rocha. Em 1Coríntios 10.1-5, lemos sobre o propósito divino para aquela rocha solitária no deserto:
1Irmãos, não quero que vocês se esqueçam do que aconteceu muito tempo atrás, quando nossos antepassados foram guiados por uma nuvem que ia adiante deles e atravessaram o mar. 2Na nuvem e no mar, todos foram batizados como seguidores de Moisés. 3Todos comeram do mesmo alimento espiritual 4e todos beberam da mesma água espiritual, pois beberam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. 5No entanto, Deus não se agradou da maioria deles, e seus corpos ficaram espalhados pelo deserto.
Moisés jamais poderia imaginar que Deus pretendia usar uma simples rocha como metáfora de Cristo. Para ele, não passava de uma pedra. Para o SENHOR, porém, ela carregava um testemunho futuro acerca de seu Filho. Ao golpear a rocha, Moisés, inadvertidamente, atingiu um símbolo de Cristo.
O veredito
A gravidade do veredito revela o quanto Deus considerou sério o pecado cometido. Moisés estava a poucos quilômetros e a poucos meses de finalmente entrar na Terra Prometida (Dt 34.1-7). Mas o Senhor disse não. Moisés e Arão teriam de passar o bastão a outro líder e morrer às portas de Canaã. Que erro trágico — um erro que Moisés jamais poderia desfazer, por mais que desejasse.
Para piorar, conforme já analisamos, o capítulo que se iniciou com a morte de Miriã (Nm 20.1) termina com a morte de Arão:
“22 Então toda a comunidade de Israel partiu de Cades e chegou ao monte Hor. 23Ali, na fronteira com a terra de Edom, o SENHOR disse a Moisés e a Arão: 24“É chegado o momento de Arão reunir-se a seus antepassados. Não entrará na terra que dou aos israelitas, pois vocês se rebelaram contra minhas instruções a respeito da água em Meribá. 25Agora, leve Arão e seu filho Eleazar ao monte Hor. 26Em seguida, tire as roupas sacerdotais de Arão e coloque-as em Eleazar, seu filho. Arão morrerá ali e se reunirá a seus antepassados”. (Nm 20.22-26)
Ora, desta vez, “Moisés fez conforme o SENHOR lhe ordenou.” (v. 27a). Então…
“27[…] Os três [Moisés, Arão e Eleazar] subiram juntos ao monte Hor, enquanto toda a comunidade observava. 28No topo, Moisés tirou as roupas sacerdotais de Arão e as colocou em Eleazar, filho de Arão. Então Arão morreu no alto do monte, e Moisés e Eleazar desceram. 29Quando a comunidade percebeu que Arão havia morrido, todo o povo de Israel lamentou sua morte por trinta dias. (Nm 20.27b-29)
Moisés perdeu ambos os irmãos em curto intervalo de tempo — e perdeu também a oportunidade de conduzir Israel à Terra Prometida. Contudo, como veremos na continuação desta série e, depois, na série de mensagens em Deuteronômio, o SENHOR ainda tinha trabalho reservado até mesmo para esse líder caído.
O mesmo Moisés que, conforme lemos em Hebreus 11.24-27, deixou para trás todos os privilégios, prestígios e prazeres do Egito para, pela fé, obedecer ao chamado do SENHOR, aqui, perto do fim de sua vida, sofreu um eclipse de fé tão agudo que lhe custou a entrada triunfal em Canaã.
Ah, meu povo! Até mesmo os gigantes de Deus correm o risco de escorregar e cair. Aliás, são justamente esses que mais devem vigiar e orar, para manter viva a fé e a esperança no SENHOR.
Em outras palavras: Deus quer a sua fé, seja você quem for. E ele quer essa fé viva no Senhor Jesus Cristo. Não importa se você é Moisés… ou Miriã, ou Arão. Não importa quem você seja: Deus quer a sua fé.
No mínimo, isso nos oferece uma clareza maravilhosa, pois significa que, desde os maiores homens e mulheres que já viveram até a pessoa mais simples que se possa imaginar, Deus exige a mesma coisa. Ele quer que toda pessoa confie em Cristo Jesus.
Portanto, entenda bem: para todos aqui presentes, não há motivo para dúvida quanto ao que Deus deseja. O que ele quer de você é exatamente o que deseja de todo ser humano, seja quem for. Deus quer a sua fé — a sua fé em Jesus Cristo. Ele quer que você confie nele, o que significa obedecer ao que ele diz em sua Palavra.
Estamos todos juntos nessa jornada. Seja qual for a nossa situação, seja qual for a nossa origem, Deus quer a nossa fé — seja quem for cada um de nós.
Deus quer a nossa fé naquele que jamais falhou, triunfando sobre o pecado e a morte. Aquele que entrou triunfante em Jerusalém, foi crucificado pelos nossos pecados, sepultado e ressuscitou vitorioso.
Deus quer a sua fé, seja você quem for. Essa fé é o que lhe dará vida — e o manterá vivo. E o capítulo 21 deixará isso ainda mais claro.
A recusa de Edom e a escola da fé
Mas, antes de deixarmos Números 20, precisamos analisar uma questão.
Se não bastasse tudo o que Moisés passou, se não bastasse ele ter tropeçado e caído, se não bastasse ter enfrentado um veredito tão duro da parte de Deus, Moisés ainda teve de lidar com a recusa de Edom.
Edom negou o pedido de Israel para atravessar seu território, forçando o povo a caminhar ao longo do lado sudoeste do mar Morto (Nm 20.14-20). O pedido para seguir pela estrada real foi rejeitado, apesar do apelo fraterno (Nm 20.14-17). Mesmo oferecendo pagar pela água consumida, Israel recebeu, em resposta, uma demonstração militar por parte de Edom (Nm 20.18-20), obrigando o povo a optar por uma rota mais longa (Nm 20.21).
Deus, para dizer o mínimo, estava ensinando aquele povo — e também Moisés — a viver somente pela fé. O tipo de fé que se tornará ainda mais evidente no capítulo 21.
Eis um resumo de Números 21:
Agora, vamos nos concentrar aqui nos versículos 4 a 9. Peço, contudo, perdão, pois não há novidades. O pecado é previsível. É sempre mais do mesmo.
Leia, Números 21.4-5:
4Em seguida, partiram do monte Hor e tomaram o caminho para o mar Vermelho, a fim de contornar a terra de Edom. Mas o povo ficou impaciente 5e começou a se queixar contra Deus e contra Moisés: “Por que você nos tirou do Egito para morrermos aqui no deserto? Aqui não há o que comer nem o que beber. E detestamos este maná horrível!”. (NVT)
A reação de Deus foi à altura. Leia, Números 21.6: “Então o SENHOR enviou serpentes venenosas que morderam o povo, e muitos morreram.” (NVT)
Consegue imaginar essa cena? “Serpentes venenosas” é outra maneira de dizer cobras venenosas — o tipo de serpente cujo veneno, se te é inoculado pelas presas das víboras, pode matar. E isso faz sentido para nós, porque esses tipos de cobras existem até hoje.
Cobras como a mamba-negra, a naja-real, a víbora-de-escamas-serrilhadas e a cascavel-diamante possuem venenos potentes, mas com efeitos diferentes. A mamba-negra e a naja-real têm veneno principalmente neurotóxico, que age sobre o sistema nervoso e pode causar paralisia e falência respiratória. Já a víbora-de-escamas-serrilhadas e a cascavel-diamante possuem venenos hemotóxicos, que podem destruir hemácias, danificar vasos sanguíneos e provocar distúrbios graves de coagulação, formando coágulos anormais pelo corpo. O sangue fica espesso ou coagula de forma perigosa, e a pessoa pode morrer em agonia pelas complicações decorrentes do envenenamento.
É exatamente esse tipo de coisa que está acontecendo em Números 21. É gente sendo picada por todos os lados. Não é que essas cobras tenham surgido magicamente; muito provavelmente, elas já habitavam aquela terra.
Há outros textos na Torá em que Deus menciona os animais selvagens que existem na região (cf. Êxodo 23.29; Deuteronômio 7.22). E, em Levítico 26.22, Deus diz que, como castigo pela desobediência, enviaria “animais selvagens” que tomariam os filhos deles e destruiriam seus rebanhos, diminuindo a população e deixando a terra deserta.
Pode-se dizer que é exatamente isso o que estava acontecendo aqui em Números 21.6. Até então, Deus vinha restringindo esses animais para não ferirem o povo, mas agora, como juízo, Deus os solta — e é um verdadeiro caos.
Veja o que o povo faz, em Números 21.7: “O povo clamou a Moisés: “Pecamos ao falar contra o SENHOR e contra você. Ore para que o SENHOR tire as serpentes de nosso meio”. E Moisés orou pelo povo.” (NVT)
E Deus respondeu à oração. O SENHOR enviaria salvação ao povo, mas repare no modo incomum como Deus faz isso, em Números 21.8: “Faça a réplica de uma serpente venenosa e coloque-a no alto de um poste. Todos que forem mordidos viverão se olharem para ela.” (NVT)
Esse era o único modo de sobreviver. Quero que vocês vejam isso no versículo 9, que diz: “Moisés fez uma serpente de bronze e a colocou no alto de um poste. Quem era mordido por uma serpente e olhava para a réplica de bronze era curado.” (NVT)
É bastante claro o que a pessoa devia fazer se fosse picada por uma serpente, mas a pergunta é: Por quê?
Por que Deus agiu dessa maneira?
Isso pode nos parecer irracional, até absurdo, que Deus trouxesse cura para uma maldição por meio do olhar para o símbolo da própria maldição.
Não sabemos exatamente o motivo — só sabemos que foi isso que Deus ordenou. E, se você fosse picado por uma serpente, era melhor obedecer ao que Deus mandou — o que significa confiar nele — se quisesse viver!
Sim, pode não fazer muito sentido para você. Você pode ter mil perguntas, mas… quantas perguntas quer fazer enquanto o seu sangue está coagulando, ou o seu corpo começa a parar, enquanto, entrando em falência respiratória, você geme de dor excruciante?!
A verdade é que, quando você percebe que foi picado por uma serpente — quando compreende a gravidade da sua situação —, a única coisa que você quer fazer é olhar!
— Onde está a serpente de bronze? Eu preciso vê-la! Eu tenho que olhar para ela!
João Calvino comenta sobre essa passagem dizendo que tudo isso revela “a virtude peculiar da fé, que consiste em estarmos dispostos a parecer tolos, a fim de aprendermos a ser sábios apenas pela boca de Deus.”
Calvino afirma — sabiamente — que Deus está, propositalmente, ferindo a lógica humana, para que fique absolutamente claro que não somos nós que nos salvamos, mas é somente pela graça de Deus.
Essa cena inteira, então, é uma ilustração extraordinária da fé em Jesus — e vocês não precisam se apoiar apenas nas palavras de Calvino, porque o próprio Jesus nos disse isso. No Evangelho de João, capítulo 3, nos versículos 14 e 15, num dos trechos mais famosos da Bíblia, Jesus pronuncia esta frase maravilhosa:
“E, como Moisés, no deserto, levantou a serpente de bronze numa estaca, também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna.” (NVT)
Essa conexão é múltipla. De certo modo, Jesus erguido na cruz é como a serpente de bronze erguida sobre a haste — o símbolo do juízo torna-se a fonte de vida. E esse erguer não se refere apenas ao evento físico da crucificação, mas também ao anúncio que, como suas testemunhas, fazemos desse evento; refere-se à pregação de Jesus. Jesus levantado é o nosso testemunho de Jesus, nossa pregação tendo Jesus no centro.
Mas a principal conexão que Jesus está fazendo não é apenas entre ele mesmo e a serpente de bronze, mas entre nós e o povo de Israel: todos nós fomos picados pela serpente. Todos nós somos pecadores, estamos debaixo de maldição e condenados. Fomos separados de Deus e estamos a caminho da morte — e a única coisa que podemos fazer, se quisermos viver, é olhar! Olhar para Jesus!
Não olhe para si mesmo. Não olhe para o quão bom você acha que é, nem para quantas coisas boas já fez, ou para o quanto julga ser inteligente. Não olhe para os outros — para quem é a sua família, quem são os seus amigos ou o que as pessoas pensam de você. Não olhe para o passado, nem para seus fracassos ou para os pecados que cometeram contra você. Não olhe para o futuro, nem para prognósticos ou temores do que está por vir. Não olhe para mais nada. Apenas olhe para Jesus. Confie em Jesus — se você quiser viver.
É isso que Números 21 está nos ensinando.
E essa é uma questão que precisamos resolver em nosso coração. Precisamos ter isso muito claro dentro de nós. Toda vez que nos encontrarmos naquele lugar em que perguntamos: “Deus, o que o Senhor quer de mim?” Se algum dia estivermos olhando para o céu e clamando: “Eis-me aqui! O que o Senhor quer?”
Aqui está a resposta, verdadeira todas as vezes: Deus quer a sua fé.
Seja você quem for, se você quiser viver, olhe e confie em Jesus Cristo.
E se tudo isso lhe parece simples, é porque é para ser simples. Essa é a palavra de Deus para nós hoje. Alguns de vocês, que caminham com Jesus há muito tempo, ouçam isso novamente: continuem confiando nele. Continuem olhando para ele, tanto para a vida eterna quanto para cada detalhe do presente.
E, para outros que estão picados pela serpente e condenados, o que estão fazendo? Estão olhando para tantas outras coisas — mas nada disso poderá lhes dar vida. Nesta noite, estou erguendo Jesus diante de vocês! Olhem para ele!
Isso pode significar que você faça uma oração simples, assim:
Jesus, eu não posso salvar a mim mesmo, e me arrependo de ter tentado.
Eu creio que o Senhor morreu na cruz e ressuscitou por mim.
Eu confio em ti. Salva-me, Senhor Jesus.
Essa é uma oração de fé — e é exatamente a isso que Deus nos chama, como Seu povo. Tenha fé, fé em Jesus. Não há melhor provisão.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto