13.07.2025
A ideia de que o pecado nos jogou num conflito interno é tão real e tão universal que até a Disney — e muitos outros desenhos e filmes — exploram isso há décadas. Quem não se lembra do Pateta parado, confuso, enquanto um anjinho aparece num ombro e um diabinho no outro, cada um dando conselhos opostos? Essa cena virou quase um “símbolo” da batalha que acontece dentro da gente quando estamos diante de uma escolha entre certo e errado.
Mas essa imagem não ficou só com o Pateta. Outros personagens da Disney viveram o mesmo dilema. O Pato Donald, por exemplo, já apareceu várias vezes com um anjo e um diabinho discutindo se ele deve fazer o certo ou seguir seus impulsos explosivos — como em Donald’s Better Self (1938) — em português, “O melhor de Donald” ou “Donald entre o bem e o mal”. O próprio Mickey Mouse também teve seus momentos assim, embora menos frequentes.
E essa ideia foi muito além da Disney. Tom, de Tom & Jerry, já apareceu com um anjinho e um diabinho sobre os ombros, principalmente quando pensa em aprontar alguma maldade com o Jerry. Nos desenhos da Warner, como Pernalonga ou o Piu-Piu, às vezes surgem essas versões angelicais e demoníacas que disputam a consciência do personagem.
Mais recentemente, até séries e filmes populares usaram o mesmo recurso para mostrar dilemas morais. O Homer Simpson, por exemplo, vive cenas hilárias em Os Simpsons com um diabo e um anjo brigando sobre se ele deve comer ou não mais um donut, ou fazer alguma besteira. Aliás, isso é quase marca registrada do personagem: Homer é obcecado por donuts, tanto que frequentemente aparece babando ou dizendo “Mmmm… donut!”.
E vai além… No filme O Máskara, com Jim Carrey, o personagem tem diálogos internos cheios de vozes que brigam pelo controle de suas ações. E mesmo filmes bem atuais, como Divertida Mente (Inside Out), da Pixar, trazem essa ideia, só que de forma diferente: em vez de anjinho e diabinho, são as emoções (Alegria, Tristeza, Raiva, etc.) que disputam o controle das decisões da menina Riley. Não tem asas nem tridentes, mas a essência é a mesma: há vozes diferentes dentro de nós querendo decidir o que vamos fazer.
Por que isso é tão usado até hoje?
Essa imagem é usada porque reflete uma realidade indisputável. É uma forma divertida, mas ao mesmo tempo profunda, de retratar uma verdade que todo mundo conhece: existe uma batalha constante dentro de nós entre o bem e o mal, entre obedecer a Deus ou seguir nossos próprios desejos egoístas.
Portanto, seja no Pateta e no Pato Donald dos clássicos ou no Homer Simpson e nos filmes da Pixar de hoje, essa imagem continua viva porque todo ser humano conhece o peso dessa guerra interior, sobretudo os crentes, aqueles que foram regenerados pelo Espírito: “a carne luta contra o Espírito, e o Espírito luta contra a carne, porque são opostos entre si” (Gl 5.17, NAA). Ou, como traz a NVT: “A natureza humana deseja fazer exatamente o oposto do que o Espírito quer, e o Espírito nos impele na direção contrária àquela desejada pela natureza humana. Essas duas forças se confrontam o tempo todo.”
O ensino bíblico é claro: todos temos a Lei de Deus gravada no coração, e a consciência do homem, portanto, atua como testemunha, sendo seus próprios pensamentos o juiz, ora acusando-o, ora defendendo-o.
É exatamente isso que vemos também em Números 22 a 25, onde o povo de Israel, Balaão e Balaque se veem no meio de conselhos e desejos opostos à vontade revelada de Deus, mergulhados num grande estado de confusão. Em contraste, destaca-se o zelo de Fineias, que se levanta para punir o pecado evidente e restaurar a honra do Senhor.
A história, para nós nesta noite, começa situando-nos no tempo e no espaço:
Números 22.1 (NVT)
“Então os israelitas viajaram para as campinas de Moabe e acamparam a leste do rio Jordão, do lado oposto de Jericó.”
Conforme o capítulo 21, eles viajaram das terras recém-conquistadas dos amorreus, principalmente de Basã e Hesbom, em direção às campinas de Moabe, à beira do Jordão, em frente a Jericó. Mas para entender bem como chegaram até ali, é bom percorrer toda essa jornada extraordinária, passo a passo.
Os israelitas partiram do Egito, deixando para trás Raamsés e Gósen, onde viviam como escravos (Êx 12.37; Êx 8.22). Atravessaram milagrosamente o Mar Vermelho, cujas águas o SENHOR dividiu para permitir-lhes a fuga (Êx 14.21-22).
No deserto do Sinai, passaram por lugares como Mara (Êx 15.23-25), Elim (Êx 15.27), Refidim (Êx 17.1) e chegaram ao Monte Sinai, onde receberam a Lei do SENHOR (Êx 19.1-3; Êx 20).
Do Sinai, foram para Cades-Barnéia, onde enfrentaram um momento decisivo de incredulidade, quando recusaram entrar na terra prometida após o relato dos espias, prolongando assim sua jornada (Nm 13–14). A viagem, que poderia ter durado apenas duas semanas ou poucos meses (Dt 1.2), estendeu-se por quarenta anos, como consequência do pecado e da incredulidade do povo (Nm 14.33-34).
Depois, contornaram Edom e Moabe pela Transjordânia (Nm 21.4; Nm 21.13), até alcançarem as campinas de Moabe, onde acamparam antes de atravessar o Jordão — episódio central em Números capítulos 22 a 25.
Foi exatamente nesse lugar — nas campinas de Moabe (Nm 22.1) — que Moisés proferiu as palavras do livro de Deuteronômio, renovando a aliança e preparando o povo para entrar na terra prometida (Dt 1.1,5).
Pouco tempo depois desses acontecimentos, ainda no quadragésimo ano da peregrinação, Moisés subiu ao Monte Nebo, ao cume de Pisga, situado a cerca de 8 a 12 quilômetros das campinas de Moabe, de onde o SENHOR lhe permitiu contemplar toda a terra de Canaã, embora não pudesse nela entrar (Dt 34.1). Ali, na terra de Moabe, Moisés morreu, segundo a palavra do SENHOR (Dt 34.5).
Assim, entre os episódios de Balaão e a morte de Moisés transcorreram apenas algumas semanas ou poucos meses, tudo se passando nesse mesmo cenário que testemunhou os últimos discursos e a partida do grande servo de Deus.
Sob a liderança de Josué, cruzariam o Jordão em frente a Jericó (Js 3.14-17) e iniciariam a conquista de Canaã, começando por cidades como Jericó (Js 6) e Ai (Js 7–8).
Naquele tempo, Edom, Moabe e Amom ocupavam a região da Transjordânia (Nm 20.14-21; Nm 22.1; Dt 2.9,19). Transjordânia significa “além do Jordão”. Hoje, toda essa área integra o território da Jordânia, região marcada por extensas áreas agrícolas férteis, cidades modernas, sítios arqueológicos — como o Monte Nebo (Dt 34.1) — e locais turísticos que preservam viva a memória dessa grande travessia do povo de Deus. A Transjordânia integra ainda parte da Síria e parte do norte da Arábia Saudita.
Curiosidade:
Das campinas de Moabe, onde Israel acampou antes de atravessar o Jordão, até Jerusalém, dista hoje cerca de 35 a 40 quilômetros em linha reta; mas, pelas estradas modernas, o percurso chega a aproximadamente 65 a 75 quilômetros, passando pela região do Monte Nebo (local da morte de Moisés), pela travessia do rio Jordão e pela subida que leva de Jericó até Jerusalém.
Essa subida não era apenas geográfica, mas, como se constata nos Salmos de Romagem — também chamados “Cânticos de Peregrinação”, “Cânticos dos Degraus”, ou, em algumas versões, “Cânticos de Subida” ou “Cânticos de Ascensão” (Sl 120–134) —, essa subida para Jerusalém era também de significado espiritual, pois há um desnível de quase mil metros entre o vale do Jordão, abaixo do nível do mar, e Jerusalém, situada sobre os montes de Judá. É por isso que as Escrituras sempre dizem que se “sobe” a Jerusalém, pois cada passo dos israelitas rumo à cidade do Grande Rei aponta também para a elevação do coração em direção ao Deus Altíssimo.
Pois bem… Como vimos, Israel iniciava agora a terceira etapa de sua jornada. Após o Êxodo, passaram um tempo no Monte Sinai (Êx 19.1–Nm 10.12) e, depois, no deserto (Nm 10.12—22.1). Agora, acamparam “em frente a Jericó” (Nm 22.1), nas campinas de Moabe, onde permaneceram até o início da conquista de Canaã. Iniciava-se, portanto, a preparação para a conquista da terra.
Entretanto, à medida que se aproximavam de seus objetivos, era natural que seus adversários procurassem detê-los. Em especial, tentaram destruir o relacionamento de Israel com Deus antes que o povo pudesse travar novas batalhas. Os povos da terra sabiam que a força deles era o SENHOR. Para isso, buscaram contratar um profeta de caráter duvidoso e, em seguida, seduziram o povo a participar de ritos de adoração pagã.
Nenhuma dessas estratégias, porém, teve êxito, pois Deus protegeu Israel ao preservar a sua palavra. A veracidade da palavra de Deus e o caráter permanente de suas promessas asseguraram que tais conspirações estivessem fadadas ao fracasso.
As narrativas que envolvem Balaão há muito intrigam os leitores das Escrituras. O grande enigma, porém, reside no caráter desse homem singular. Enquanto figura histórica, Balaão se encaixa bem entre outros homens religiosos do antigo Oriente Próximo. De fato, ele era um profeta pagão de renome regional.
Para ilustrar essa realidade, em 1967 foi descoberta, em Deir ‘Alla, na Jordânia, uma inscrição datada de 825 a.C., na qual Balaão é mencionado explicitamente nestes termos:
“Este é o livro de Balaão, filho de Beor, um vidente dos deuses. Os deuses vieram a ele à noite. E eles lhe falaram segundo as palavras de El, e falaram a Balaão, filho de Beor, assim: …”
Entretanto, como personagem bíblico, superficialmente, Balaão parece não ser nem uma coisa nem outra. Não era israelita (Nm 22.5), e ainda assim demonstrava conhecer a Deus (Nm 22.8); e Deus falou por meio dele (Nm 24.2-9, 15-24). Praticava magia e encantamentos (Nm 24.1) e acabou conduzindo Israel à apostasia (Nm 31.16). Ao final, foi morto pelos israelitas na destruição dos midianitas (Nm 31.8).
Apesar de sabermos tão pouco sobre o homem, as narrativas que tratam de Balaão desempenham um papel estratégico na mensagem geral do Pentateuco. Tal como a serpente no Éden e Faraó no Egito, Balaque e Balaão intentaram amaldiçoar o povo, até levá-lo à aniquilação. Mas o SENHOR, mais uma vez, os protegeu contra as maldições.
Coincidentemente, neste final de semana, judeus ao redor do mundo leem este episódio da Torá sobre Balaão, filho de Beor — o infame e profano profeta que foi contratado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar os israelitas.
A seguir, examinaremos Números 22 a 25 em dois blocos. O primeiro bloco apresenta a história de Balaão, nos capítulos 22 a 24. O segundo bloco traz a história de Fineias, no capítulo 25. Com Balaão, aprenderemos sobre a confusão que o pecado causa, culminando em destruição, e, com Fineias, sobre a coragem que a fé produz, culminando em salvação.
O compromisso do SENHOR em estabelecer Israel na Terra Prometida ficará evidente ao proteger o seu povo contra qualquer maldição — ainda que se trabalhe contra o povo de Deus pelas costas, nas sombras e na escuridão (Nm 22.2–24.25).
O caminho de Balaão
O medo que Moabe sentia de Israel levou o rei Balaque a buscar ajuda de um adivinho da Mesopotâmia, chamado Balaão, famoso por ser eficiente em prever destinos (Nm 22.2-20). Esse temor foi motivado pelo triunfo devastador de Israel sobre os amorreus:
Números 22.2-4a (NVT)
2Balaque, filho de Zipor, viu tudo que o povo de Israel havia feito aos amorreus. 3Quando os moabitas viram como os israelitas eram numerosos, ficaram apavorados. 4Disseram aos líderes de Midiã: “Essa multidão devorará tudo que estiver à vista, como um boi devora o capim no pasto!”. […]
Os primeiros mensageiros de Balaque levaram recados e ofereceram pagamento pelos serviços de Balaão:
Números 22.4b-7 (NVT)
4[…] Então Balaque, que era rei de Moabe, 5enviou mensageiros para chamar Balaão, filho de Beor, que vivia em Petor, sua terra natal, perto do rio Eufrates. Sua mensagem dizia:
“Um povo enorme saiu do Egito e cobre a terra, e agora está acampado perto de mim. 6Venha e amaldiçoe esse povo, pois é poderoso demais para mim. Então, quem sabe, poderei derrotá-lo e expulsá-lo da terra. Sei que bênçãos vêm sobre aqueles que você abençoa, e maldições caem sobre aqueles que você amaldiçoa”.
7Os mensageiros de Balaque, líderes de Moabe e Midiã, partiram levando o valor necessário para pagar Balaão a fim de que ele amaldiçoasse Israel. Chegaram aonde Balaão estava e lhe transmitiram a mensagem de Balaque.
Mas o SENHOR revelou a Balaão que Israel não poderia ser amaldiçoado, pois era uma nação abençoada, e por isso o profeta rejeitou os mensageiros de Balaque (Nm 22.8-13). Destacamos os versículos finais deste parágrafo:
Números 22.12-13 (NVT)
12Mas Deus disse a Balaão: “Não vá com eles nem amaldiçoe esse povo, pois é povo abençoado!”.
13Na manhã seguinte, Balaão se levantou e disse aos oficiais de Balaque: “Voltem para casa! O SENHOR não me permitiu ir com vocês”.
Ainda assim, novos mensageiros vieram, e, dessa vez, Deus permitiu que Balaão fosse até Moabe, porém somente com a condição de falar apenas aquilo que o SENHOR lhe ordenasse (Nm 22.14-20). Versículo 20:
Naquela noite, Deus veio a Balaão e lhe disse: “Uma vez que estes homens vieram chamá-lo, levante-se e vá com eles. Contudo, faça apenas o que eu mandar”.
As emoções conflitantes de Balaão foram confrontadas pelo SENHOR, quando o anjo do SENHOR se interpôs em seu caminho, corrigindo o profeta pagão por meio de sua jumenta (Nm 22.21-35). As três aparições do anjo à jumenta, antes que Balaão percebesse, revelou a cegueira espiritual do coração do adivinho, Números 22.21-27 (NVT):
21Na manhã seguinte, Balaão se levantou, pôs a sela sobre sua jumenta e partiu com os oficiais moabitas. 22A ira de Deus se acendeu porque Balaão foi com eles, de modo que enviou o anjo do SENHOR para se pôr no caminho e impedir sua passagem. Enquanto Balaão ia montado na jumenta, acompanhado por dois servos, 23a jumenta de Balaão viu o anjo do SENHOR em pé no caminho, segurando uma espada. A jumenta se desviou do caminho e saiu para um campo, mas Balaão bateu nela e a fez voltar para o caminho. 24Então o anjo do SENHOR se pôs num lugar onde o caminho se estreitava, entre os muros de dois vinhedos. 25Quando a jumenta viu o anjo do SENHOR, tentou passar pelo espaço apertado e espremeu o pé de Balaão contra o muro. Por isso, Balaão bateu nela outra vez. 25Então o anjo do SENHOR foi mais adiante no caminho e se pôs num lugar estreito demais para a jumenta passar, seja pela direita ou pela esquerda. 27Quando a jumenta viu o anjo, ela se deitou, apesar de Balaão ainda estar montado. Num ataque de raiva, Balaão a espancou com uma vara.
Esse episódio abalou Balaão em sua duplicidade, pois o anjo lhe ordenou que falasse somente as palavras recebidas do SENHOR, Números 22.28-35 (NVT):
28Então o SENHOR fez a jumenta falar. “O que eu lhe fiz para você me bater três vezes?”, perguntou ela a Balaão.
29“Você me fez de tolo!”, gritou Balaão. “Se eu tivesse uma espada, mataria você!”
30“Mas eu sou a mesma jumenta que você montou a vida toda”, disse ela. “Alguma vez eu fiz algo parecido?”
“Não”, respondeu Balaão.
31Então o SENHOR abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do SENHOR em pé no caminho, segurando a espada. Balaão curvou a cabeça e se prostrou diante dele com o rosto em terra.
32“Por que você bateu três vezes na jumenta?”, perguntou o anjo do SENHOR. “Eu vim para impedir sua passagem, pois você insiste em seguir por um caminho que me desagrada. 33Três vezes a jumenta me viu e se afastou; se ela não tivesse se desviado, certamente eu teria matado você e poupado a vida da jumenta.”
34“Pequei”, disse Balaão ao anjo do SENHOR. “Não percebi que estavas no caminho impedindo minha passagem. Se te opões à minha viagem, voltarei para casa.”
35O anjo do SENHOR disse a Balaão: “Vá com os homens, mas fale apenas o que eu lhe disser”. Balaão seguiu viagem com os oficiais de Balaque.
Ao chegar a Moabe, Balaão foi recebido com grandes honras por Balaque, mas deixou claro que só poderia falar como porta-voz de Deus (Nm 22.36-41).
Estando na presença de Balaque, Balaão pronunciou-se quatro vezes a respeito de Israel, mas nunca os amaldiçoou.
Na primeira mensagem, enfatizou a eleição de Israel por Deus (Nm 23.7-8), sua santidade (23.9), sua força numérica (23.10) e a bem-aventurança geral do povo (23.10). Em outras palavras, Balaão não fez exatamente o que Balaque o contratara para fazer. Quando Balaque se queixou, Balaão respondeu que simplesmente falara as palavras de Deus:
Números 23.11-12 (NVT)
11Então o rei Balaque disse a Balaão: “O que você me fez? Eu o trouxe aqui para amaldiçoar meus inimigos; em vez disso, você os abençoou!”.
12Balaão respondeu: “Como eu poderia transmitir algo diferente daquilo que o SENHOR pôs em minha boca?”.
Balaque insistiu novamente, esperando que mudar de lugar ajudasse Balaão a amaldiçoar Israel (23.13-14). Como muitos povos antigos, provavelmente acreditava que o poder do SENHOR estivesse limitado a locais específicos. Ou, talvez, pensasse que Deus pudesse mudar de ideia. De qualquer forma, pior foi a postura do dito profeta, pois ele logo descobriu que Deus não fala de modo impreciso, nem muda de opinião:
Números 23.15-19 (NVT)
15Balaão disse ao rei: “Fique aqui junto aos holocaustos enquanto eu vou ao encontro do SENHOR”.
16Então o SENHOR veio ao encontro de Balaão e lhe transmitiu uma mensagem, e depois disse: “Volte até onde Balaque está e transmita-lhe essa mensagem”.
17Balaão voltou e encontrou o rei junto aos holocaustos e, com ele, todos os oficiais de Moabe. “O que o SENHOR disse?”, perguntou Balaque.
18Esta foi a mensagem que Balaão transmitiu:
“Levante-se, Balaque, e preste atenção!
Ouça-me, filho de Zipor!
19Deus não é homem para mentir,
nem ser humano para mudar de ideia.
Alguma vez ele falou e não agiu?
Alguma vez prometeu e não cumpriu?
As promessas feitas por Deus a Abraão necessariamente haveriam de se cumprir (23.7-10), e a obra realizada por meio de Moisés não seria em vão (23.18-24). Deus não pode ser manipulado. Deus não está limitado por localidade geográfica. A palavra de Deus não pode falhar. E até os pagãos sabem disso:
Números 23.25-26 (NVT)
25Então Balaque disse a Balaão: “Pois bem! Se não os amaldiçoar, pelo menos não os abençoe!”.
26Mas Balaão respondeu: “Não lhe avisei que faria apenas o que o SENHOR me ordenasse?”.
Balaque insiste uma terceira vez, mais uma vez mudando de lugar (Nm 23.27-30). E sabe o que é pior? O profeta, mais uma vez, tenta vencer a Deus pela insistência:
Números 24.1-3a (NVT)
1Quando Balaão percebeu que o SENHOR se agradava de abençoar Israel, não recorreu à adivinhação como antes. Em vez disso, voltou-se em direção ao deserto, 2onde viu o povo de Israel acampado de acordo com suas tribos. Então o Espírito de Deus veio sobre Balaão, 3e ele transmitiu a seguinte mensagem: […]
Para a decepção de Balaque, Balaão abençoou todo o Israel (24.3-5), previu que, no futuro, o povo teria um grande rei e um poderoso reino (24.6-7), e vinculou o poder deles à atuação de Deus em seu favor (24.8-9). Por fim, Balaão predisse que Israel venceria todos os seus inimigos (24.15-24). Números 24.25 (NVT): “Então Balaão se levantou e voltou para sua terra, e Balaque também seguiu seu caminho.”
A palavra de Deus é perfeita, mesmo quando proclamada por um profeta contratado, como Balaão. Felizmente, o poder da palavra de Deus transcende as fraquezas do mensageiro. Deus protege e abençoa a sua palavra, não importa quem a transmita. Esse princípio nos ajuda a entender, em parte, como coisas boas podem, às vezes, resultar do ministério de pregadores ou mesmo de igrejas tão falhos.
Mas… o que, afinal, Balaão fez de tão errado?
Pedro, o apóstolo, nos ajuda a entender. Ao falar sobre os falsos mestres de seus dias, ele escreveu que tais homens…
2Pedro 2.15-16 (NVT)
15desviaram-se do caminho reto e seguem os passos de Balaão, filho de Beor, que amou a recompensa que receberia por fazer o mal. 16Balaão, porém, foi refreado em sua loucura quando uma jumenta, que não fala, o repreendeu com voz humana.
Agora, não seja tão rápido em condenar, pois o pecado de Balaão pode ser o seu.
Primeiro, Balaão considerou pecar
Ele levou a Deus a proposta indecente de Balaque (Nm 22.8-10). Em outras palavras: ele não fechou a porta ao pecado, como deveria. Não lhe ofereceu resistência logo no primeiro vislumbre, como seria seu dever. Ao contrário, demonstrou uma paciência fatal para com o pecado, permitindo-lhe entrar, apresentar seus argumentos e, então, refletir sobre suas possibilidades. E até levou isso a Deus!
Pense um pouco. Em que contexto esse tipo de ponderação sobre o pecado é mais provável de acontecer em nossas vidas hoje? Eu arriscaria dizer que é mais provável que aconteça quando há uma tela aberta diante de nós, e o pensamento começa a se insinuar em nossa mente:
— Talvez este clique valha a minha desobediência a Deus.
Ah! Você não pode considerar pecar. Jamais.
Balaão deveria ter batido a porta na cara daqueles homens. Resistido. Em vez disso, acolheu-os. Você não pode seguir o caminho de Balaão.
Segundo, Balaão fingiu ignorância
Ora, Balaão já não havia recebido a sua resposta? Deus já não lhe dissera claramente para não ir e não amaldiçoar Israel (22.12)? Então, por que Balaão pensou duas vezes, quando a comitiva de Balaque o visitou pela segunda vez? Leia:
“Balaão, porém, respondeu aos oficiais de Balaque: “Mesmo que Balaque me desse seu palácio cheio de prata e ouro, eu não poderia fazer coisa alguma, grande ou pequena, contra a vontade do SENHOR, meu Deus. Fiquem, porém, mais esta noite, e eu verei se o SENHOR tem algo mais a me dizer”.” (Nm 22.18-19)
O que mais? Deus já te deu a resposta, Balaão — o que mais ele precisaria dizer?
Você percebe o que está acontecendo aqui?
Balaão está fingindo ignorância. Está simulando não saber o que Deus quer dele. Sim, Deus dissera que não era para ir da primeira vez. Mas e agora? Talvez, pensa ele, exista uma chance de que Deus tenha mudado de ideia. Talvez haja nuances na resposta. Talvez ainda restem aspectos a serem considerados antes que ele feche completamente essa porta.
Eis a segunda marca do pecado de Balaão — e você não pode seguir este caminho: ele alegou ignorância.
Não faça o mesmo.
Você não pode alegar coisas do tipo: “Eu simplesmente não sei o que Deus realmente pensa sobre isso.” “Eu simplesmente não sei o que Deus pensa sobre eu dormir com meu namorado.” “Eu simplesmente não sei o que Deus pensa sobre eu ir a essa festa.” “Eu simplesmente não sei o que Deus pensa sobre eu colar nesta prova.” Etc.
A verdade é que a maioria de nós sabe muito bem o que Deus pensa sobre essas coisas — e sobre muitas outras. Nós é que não gostamos da resposta. Pelo menos, não por natureza. E, assim, fingimos. Fechamos os olhos e tapamos os ouvidos, dizendo: “Bem, já que eu realmente não posso saber com certeza… então…”
Fuja do caminho de Balaão. Jamais considere pecar. Jamais alegue ignorância.
Terceiro, Balaão endureceu seu coração para Deus
Quando você olha para a história de Balaão, percebe que Deus tentou quebrantar esse homem de todas as maneiras. O SENHOR falou com ele duas vezes. O anjo do SENHOR fez a jumenta empacar por três vezes. Deus abriu a boca da jumenta e a fez falar. Deus revelou-lhe um anjo. O próprio Deus falou a Balaão por meio do anjo. E Deus ainda usou Balaão para abençoar o seu povo.
E, em tudo isso, Balaão jamais percebeu que era o próprio Deus quem o estava impedindo de prosseguir no caminho em busca da recompensa do pecado (2Pe 2.15).
A jumenta, sim, percebeu. Na verdade, ao contrário de Balaão, a jumenta enxergou o anjo do SENHOR parado em seu caminho, com a espada desembainhada, e foi por isso que ela empacou três vezes, detendo Balaão. Pobre jumenta! Aliás, não. Pobre Balaão, que tinha um coração mais duro do que o de uma jumenta.
Quarto, Balaão fez o povo de Deus pecar
Veja a que ponto Balaão chegou. Se não podia amaldiçoar os israelita, incitou o pecado em Israel. É o que nós lemos na continuação do nosso texto, em Números 25.
Balaão aconselhou Balaque a usar outro método: seduzir Israel por meio das mulheres moabitas e midianitas, levando o povo à idolatria e à imoralidade:
Números 31.16 (NVT)
Foram justamente elas que seguiram o conselho de Balaão e fizeram os israelitas se rebelarem contra o SENHOR no incidente em Peor. Foi por causa delas que uma praga feriu o povo do SENHOR.
Apocalipse 2.14 (NVT)
Contudo, tenho contra você [igreja em Pérgamo] algumas queixas. Você tolera em seu meio pessoas cujo ensino é semelhante ao de Balaão, que mostrou a Balaque como fazer o povo de Israel tropeçar. Ele os instigou a comer alimentos oferecidos a ídolos e a praticar imoralidade sexual.
O resultado foi a tragédia registrada em Números 25, quando muitos israelitas caíram em pecado com as mulheres moabitas e midianitas, e o SENHOR enviou uma praga sobre o povo.
Números 25.1-3 (NVT)
1Enquanto estava acampado em Sitim, os homens de Israel começaram a manter relações sexuais com mulheres moabitas da região. 2Essas mulheres os convidaram para os sacrifícios a seus deuses, e o povo participou da festa e adorou os deuses de Moabe. 3Assim, os israelitas prestaram culto a Baal em Peor, e a ira do SENHOR se acendeu contra o povo.
No fim, Balaão acabou morto pelos israelitas, quando estes guerrearam contra Midiã:
“Os cinco reis midianitas morreram na batalha: Evi, Requém, Zur, Hur e Reba. Também mataram à espada Balaão, filho de Beor.” (Nm 31.8)
Jamais siga o caminho de Balaão. O salário do pecado é a morte.
A postura de Fineias
É aqui que a história de Fineias se entrelaça com os planos de Deus.
Tendo protegido Israel de maldição (Nm 22.1–24.25), o SENHOR puniu com severidade os que traíram a aliança (Nm 25.1-18). Tudo isso serviu como prova de que Deus não é Deus de confusão, pois cumpriria a sua aliança, conduzindo o povo à terra que ele prometera a Abraão.
Já lemos, em Números 25.1-3, que a violação da aliança em Israel, por meio da adoração idólatra e imoral a um Baal midianita, trouxe sobre o povo a ira do SENHOR.
Baal era um deus da fertilidade, acreditava-se que tornava os agricultores prósperos, os reis poderosos e as mulheres férteis. Para adorá-lo, a pessoa precisava oferecer sacrifícios, participar de refeições festivas especiais e envolver-se em atos sexuais. Frequentemente, prostitutos e prostitutas eram disponibilizados para os seguidores devotos de Baal.
Deus julgou o povo por tais práticas (25.4-5), e somente medidas drásticas conseguiram conter a punição enviada por Deus (25.6-9).
Números 25.4-9 (NVT)
4O SENHOR disse a Moisés: “Prenda todos os chefes do povo e execute-os diante do SENHOR em plena luz do dia, para que sua ira ardente se afaste de Israel”.
5Então Moisés ordenou aos juízes de Israel: “Cada um de vocês executará os homens sob sua autoridade que participaram do culto a Baal em Peor”.
6Nesse momento, enquanto todos choravam à entrada da tenda do encontro, um israelita levou para dentro de sua tenda uma mulher midianita, diante dos olhos de Moisés e de toda a comunidade de Israel. 7Quando Fineias, filho de Eleazar e neto do sacerdote Arão, viu isso, levantou-se e saiu do meio do povo. Pegou uma lança, 8correu atrás do homem até o interior de sua tenda e atravessou o corpo do homem e da mulher, na altura do estômago, com um só golpe. Então a praga contra os israelitas cessou. 9A essa altura, porém, 24 mil pessoas já haviam morrido.
O zelo de Fineias ao punir o pecado evidente desse homem, chamado Zinri, da tribo de Simeão, conferiu-lhe reconhecimento nacional, pois seu ato fez cessar a matança, que já havia vitimado vinte e quatro mil pessoas (Nm 25.6-15).
O juízo do SENHOR sobre os midianitas exigia que Israel os exterminasse como inimigos, em razão de sua tentativa enganosa de destruir o povo de Deus (Nm 25.16-18).
Tristemente, a história posterior da nação de Israel foi marcada pela adoração a Baal. Elias (cf. 1Rs 18.1-46) e outros lutaram corajosamente contra esse pecado, mas, muitas vezes, encontravam-se em minoria. A adoração ao sexo, ao dinheiro e ao poder continua sendo popular em muitos lugares ainda hoje.
Entretanto…
A postura de Fineias contrasta profundamente com o caminho seguido por Balaão e permanece como exemplo para nós. Fineias se opôs de imediato ao pecado, sem sequer considerar a possibilidade de praticá-lo. Não fingiu ignorância, mas agiu em conformidade com a palavra de Deus, recusando-se a tolerar a idolatria. Ao invés de induzir o povo ao erro, como fez Balaão, Fineias demonstrou zelo pela glória do SENHOR; e, por sua ação firme, fez cessar a ira divina sobre Israel.
Em meio a tanta confusão causada pelo pecado, Números 22–25 nos permite extrair as seguintes aplicações:
Sobretudo, Números 22–25 demonstra que o futuro de Israel dependia do compromisso com Deus e com a palavra de Deus. O Senhor conhece e proclama esse princípio, protegendo a sua palavra de forma rigorosa. Assim, Deus renovou e instruiu o povo
Por sua parte, Israel vacilou em alguns momentos, mas crentes verdadeiramente comprometidos se levantaram para enfrentar o desafio da fé. Esses fiéis desfrutaram de todas as seguras bênçãos decorrentes da obediência na fé.
Que nos sirva de exemplo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto