15.05.2016
O alvo do discipulado é Cristo. No final das contas, é com ele que todos nós devemos parecer. Qualquer pessoa que queira começar a fazer discípulos, mas não sendo ela mesma uma discípula de Cristo, poderá realizar muitas coisas, menos a Grande Comissão, pois ela trata da multiplicação de discípulos de Jesus, não de qualquer pessoa ou ministério.
Por outro lado, se admitirmos que o Senhor Jesus nos ordenou reproduzir com outros o que ele mesmo fez com os Doze, então a Grande Comissão nos obriga a fazer discípulos não apenas dele, mas também de nós (na medida em que somos discípulos dele). Por mais paradoxal que pareça, a missão que Cristo nos entregou é para ser cumprida por meio de produzirmos os nossos próprios discípulos dele.
Quando Jesus se despediu de seus discípulos e os incumbiu de ensinar novas pessoas, ele estava nomeando todos eles como discipuladores. Desde então e até os dias de hoje, ele não vai descer do céu para fazer novos discípulos. Agora isso compete a nós, sob o poder do Espírito Santo. Se fizermos discípulos apenas de Cristo, e não de nós, então não estaremos discipulando, pois o sujeito ativo do fazer discípulos na Grande Comissão somos nós, não o Senhor (confira: 2Tm 2.2).
Com tudo isso, não estamos dizendo que o objetivo final do discipulado é levar alguém a parecer-se conosco. A finalidade do discipulado é produzir um imitador de Cristo, o que será obtido, contudo, por meio de um processo de aperfeiçoamento gradual. Nesse processo, o discípulo começa imitando outro discípulo, porém com o objetivo de ultrapassá-lo, pois a perfeição almejada, que tem Cristo como parâmetro, sempre estará além de nossa capacidade de modelar. O referencial sempre será Cristo, mas se nós o seguimos, o discípulo poderá nos seguir, aliás, ele deverá (confira: 1Co 4.16; 11.1; Ef 5.1; 1Ts 1.6).
Por que será que recusamos tanto a ideia de termos discípulos? Parte da resposta está no conhecimento que já tivemos de situações em que, em nome do discipulado, estabeleceu-se uma relação de dependência, controle e manipulação cega que trouxe sérios danos. Porém, a principal razão parece ser a forma histórica de enxergar o fazer discípulos apenas como meta da evangelização, e não como um processo de aperfeiçoamento de discípulos para a multiplicação.
Precisamos fazer discípulos de Jesus, sim, no sentido de levar pessoas ao arrependimento e à fé nele para que sejam salvas; mas também precisamos fazer discípulos de nós, o que significa desenvolver com elas relacionamentos de cuidado, de ensino e de aperfeiçoamento, para que também essas pessoas sejam levadas à multiplicação. Isso é o que chamamos de relacionamento discipulador. É da essência do discipulado seguir alguém. Afinal, ao instituir o discipulado como núcleo da Grande Comissão (Mt 28.18-20), Jesus foi intencional em demonstrar que o caminho para o aperfeiçoamento do discípulo passa por aprender com outro discípulo. O discípulo aprende do discípulo de Cristo (1Co 11.1).
Extraído e adaptado do cap. 3 (pg. 29-34) de
Relacionamento Discipulador: uma teologia da vida discipular
Autor: Diogo Carvalho. Editora: Missões Nacionais.
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