17.09.2017
A vida de oração é bastante reveladora: ela mostra quem somos de fato. Mesmo com toda conversa sobre fé, a oração é que revelará o quanto nós desejamos comunhão com Deus e o quanto, realmente, dele nós dependemos. É bom que se diga que a falta de oração não diz respeito à nossa segurança, enquanto filhos de Deus, pois em Cristo nós jamais seremos rejeitados; não orar, no entanto, revela-nos, com bastante precisão, o quanto nós não passamos de bebês em sentido espiritual, quão hipócritas conseguimos ser e o quanto nos falta de amor verdadeiro pelo Senhor. Assim, sempre que formos tentados a pensar que somos grande coisa, bastará a nós refletir sobre nossa vida de oração. Mas não desanime!
Quando o assunto é oração, eis um ponto que poderá nos desanimar: as belas e terríveis histórias de “pessoas que oravam muito”. Você já ouviu, por exemplo, a história apócrifa de Martinho Lutero? Aparentemente, certa vez ele foi questionado sobre o que faria no dia seguinte, e respondeu: “Trabalhar, trabalhar desde cedo até tarde da noite. De fato, tenho tantos afazeres que passarei as primeiras três horas de amanhã em oração”. Contos como esses nos fazem tremer, pois não somos desse jeito. Assim, para provar que somos todos pecadores, e, portanto, naturalmente terríveis em relação à oração, eis uma citação real de Lutero para consolar-nos.
No momento mais ocupado da vida do pai da Reforma Protestante, recolhido no Castelo de Wartburg, ele escreveu ao amigo Filipe Melâncton: “Você me exalta demais… Sua alta estima a meu respeito me envergonha e me tortura, visto que, infelizmente, assento-me aqui à vontade, endurecido e insensível – ai de mim! –, orando pouco, lamentando pouco pela igreja de Deus. Em resumo, eu deveria ter o espírito ardoroso, mas eu queimo na carne, com lascívia, com preguiça, no ócio e na sonolência. Já se passaram oito dias em que nada escrevi, não orei nem estudei; isso se deu em parte por causa das tentações da carne, e em parte porque sou torturado por outros encargos”.
Viu? Mesmo Lutero, homem que valorizava a oração, lutava contra a carne e para não deixar de orar. Sim, claro que nós precisamos aprender a orar! Lógico que devemos nos exercitar na oração! Mas se a oração é “o exercício principal da fé”, conforme bem definiu João Calvino, então, sem dúvida, nós somos, por natureza, um lixo na oração, pois a falta de fé nos é algo natural.
Sendo a oração “o exercício principal da fé”, então sem dúvida tudo – isto é, o mundo, a vontade do coração e o Diabo – conspira contra a oração. Ou seja, nós todos travamos essa luta secreta e, portanto, não devemos nos envergonhar diante dos outros cristãos; todos somos inclinados, por natureza, à vida sem fé e sem oração; todos nós somos pecadores. Lembre-se, porém, de quem é o amigo dos pecadores (Mt 11.19; Lc 7.34): Jesus Cristo! Não desanime, mas ore.
Com carinho, Leandro B. Peixoto
Extraído e adaptado de “Deleitando-se na oração”,
Michael Reeves, editora Monergismo, caps. 3 e 4
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